União Europeia rejeita renegociar Brexit com May
Thereza May, primeira-ministra britânica. Crédito da Foto: AFP / Justin Tallis
A União Europeia rejeitou nesta quarta-feira (30), reabrir negociações sobre o Brexit com a premiê britânica, Theresa May. "O acordo de separação não será renegociado", garantiu o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em discurso no Parlamento Europeu, repetindo o que havia sido dito pelos governos de Irlanda, Alemanha e França.
Na quarta, May falou ao telefone com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. "Minha mensagem à premiê é que a posição da UE tem sido clara e consistente. O acordo não está aberto para renegociação", escreveu Tusk no Twitter. Na terça-feira (29), o Parlamento britânico forçou May a reabrir as negociações com a UE sobre a situação da fronteira física entre a Irlanda, país-membro da UE, e o território britânico da Irlanda do Norte.
Após dois anos de negociação, Londres e Bruxelas inventaram um mecanismo batizado de "backstop". A ideia foi criar uma rede de proteção para o caso de uma saída do Reino Unido sem acordo. Para evitar o restabelecimento de uma fronteira física entre Irlanda e Irlanda do Norte, os britânicos permaneceriam no mercado comum europeu até que algum tratado de livre-comércio seja assinado.
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Os eurocéticos britânicos afirmam que o "backstop" deixa o Reino Unido na mesma posição em que sempre esteve e trava a assinatura de tratados de livre-comércio com outros países. Na terça-feira, o Parlamento britânico propôs a substituição do mecanismo por "acertos alternativos", um termo vago que foi criticado pelos líderes europeus. "A votação (de terça-feira) mostrou que o Parlamento britânico é contra um monte de coisas. Mas não disse nada sobre o que eles querem", reclamou Juncker. Michel Barnier, que chefiou as negociações por parte da UE, também rejeitou os britânicos. "Vou dizer com bastante calma: o 'backstop' continua do jeito que é."
Guy Verhofstadt, representante do Parlamento Europeu para o Brexit, foi irônico. "A premiê será sempre bem recebida em Bruxelas", disse o ex-premiê belga. "Mas para quê? Para fazer o quê?" Com a recepção fria por parte dos europeus, aumenta ainda mais o risco de o Reino Unido deixar a UE sem um acordo, o que seria o pior cenário possível, segundo políticos, analistas e investidores dos dois lados do Canal da Mancha.
O Ministério das Finanças da Irlanda anunciou que 55 mil empregos irlandeses seriam perdidos em caso de Brexit sem acordo. Segundo o ministro Paschal Donohoe, o caos econômico causado pela imposição de tarifas e fiscalização aduaneira faria o PIB da Irlanda ser 4,25 pontos porcentuais menor, em 2019, e 6 pontos porcentuais menor, em 2023. Além disso, irlandeses e norte-irlandeses temem que o restabelecimento de uma fronteira física entre os dois territórios colocaria em risco o Acordo de Sexta-Feira Santa, de 1998, que acabou com o conflito civil, que deixou 3,5 mil mortos entre 1969 e 1997.
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Na semana passada, um carro-bomba explodiu em Londonderry, perto de Belfast, sem deixar feridos. A polícia responsabilizou um grupo chamado de "Novo IRA", uma dissidência do antigo Exército Republicano Irlandês que lutava pela unificação da ilha. "A paz é mais importante que o Brexit", afirmou Simon Coveney, chanceler irlandês. Desde dezembro, a Irlanda vem se preparando para um Brexit sem acordo. Até março, o governo garante que terá contratado cerca de 400 novos funcionários para trabalhar em postos alfandegários, principalmente nos portos de Dublin e Rosslare, onde já há um espaço reservado para a construção de estacionamentos para caminhões e pontos de inspeção de mercadorias.
Se a tarefa de May em Bruxelas parece difícil, seu gabinete não tem ajudado a criar um bom ambiente para a reabertura de negociações. Na quinta, Kwasi Kwarteng, ministro britânico para o Brexit, ameaçou a UE durante uma entrevista à Sky News. "A Europa tem de ceder alguma coisa com relação ao 'backstop'. Se não houver acordo, eles não receberão um centavo nosso", disse Kwarteng, em referência à conta de ¤ 45 bilhões (R$ 190 bilhões) que o Reino Unido havia se comprometido a pagar pelo Brexit. (Estadão Conteúdo, com agências internacionais)