Buscar no Cruzeiro

Buscar

Trump visita o Reino Unido em meio a protestos

12 de Julho de 2018 às 17:18

O presidente norte-americano, Donald Trump, chegou a Londres no início da tarde desta quinta (12, manhã no Brasil) para sua primeira visita ao Reino Unido. O Air Force One pousou no aeroporto de Stansted, ao norte de Londres, depois de deixar Bruxelas. Ele foi recebido pelo secretário britânico de Comércio Exterior, Liam Fox.

Sem uma pauta específica de negociações, a visita ocorre em meio a protestos e tensões e vai tentar promover a histórica relação especial entre os dois países, buscando evitar atritos mais do que avançar acordos. Para os dois governos, o cenário ideal para a série de encontros é o da monotonia e da falta de incidentes. "Em muitos sentidos, a visita não favorece ninguém e pode gerar problemas para as relações entre os dois países", explicou Jacob Parakilas, vice-diretor do programa das Américas do think tank inglês Chatham House.

Com as tensões em torno do "brexit" e a crise interna no governo de Theresa May (que viu a renúncia de alguns dos seus ministros mais importantes), enquanto os EUA se aproximam da eleição de um novo Congresso, que pode enfraquecer o presidente, o calendário político não é favorável para negociações nos dois países. "Não há nada particularmente importante a ser discutido. Não tem nada na mesa de negociações que possa avançar especificamente agora. É uma viagem para construir relacionamentos. Seria uma visita convencional, mas, com Trump, nada é totalmente convencional. E há riscos", explicou.

Parte dos riscos vem do fato de que a visita de Trump ocorre depois de uma série de desencontros e desavenças entre os dois países desde que o americano tomou posse. A relação começou de forma próxima. May foi a primeira líder internacional a visitar Trump em Washington e, logo, convidou-o para ir a Londres, mas a reação negativa do público britânico fez com que o encontro não ocorresse. Mais tarde, o presidente americano cogitou participar da inauguração da nova embaixada dos EUA em Londres, em fevereiro deste ano. Ele cancelou o plano depois de trocar farpas com o prefeito de Londres, Sadiq Khan, de criticar May pelo Twitter e de ser repreendido pela primeira-ministra por compartilhar vídeos de cunho anti-islâmico publicados por uma organização ultranacionalista britânica.

A tensão levou especialistas a verem estremecimento na dita "relação especial". Divergências do passado e controvérsias mais recentes abrem o terreno perigoso para a visita atual. Trump chegou a Londres depois de uma participação contenciosa na cúpula da Otan, em Bruxelas. Em entrevista coletiva pouco antes de deixar a cúpula da Otan a caminho de Londres, Trump evitou se posicionar diretamente sobre as negociações do "brexit", mas comentou que o caminho seguido pelo Reino Unido atualmente parece diferente do que foi decidido no plebiscito pela saída britânica da União Europeia.

"Eu diria que 'brexit' é 'brexit'. As pessoas votaram para romper, então imagino que é isso que vai ser feito. Mas talvez eles estejam seguindo uma rota diferente. Não tenho certeza de que foi nisso que as pessoas votaram", disse. Além de se envolver em questões internas do Reino Unido, ele pode não reagir bem se for pressionado por May a se posicionar de forma crítica em relação à Rússia, que é acusada pelo governo britânico de ter usado um agente nervoso para envenenar pessoas no Reino Unido.

Além disso, a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã também pode criar desavenças, segundo Parakilas. "É impossível prever como ele vai se comportar. O fato de não haver nada imediatamente na mesa elimina parte dos riscos, mas tudo depende do que Trump estará pensando, especialmente depois do clima tenso na reunião da Otan. Se ele chegar da forma tão agressiva, pode haver problemas", disse.

Por outro lado, Trump costuma preferir encontros e negociações bilaterais, avaliou Parakilas, então isso pode gerar um clima mais amigável na visita. Pressão e protestos Além dos riscos ligados ao presidente e a sua relação com May, há ainda a pressão criada por manifestações contra a chegada de Trump. Tanto que a viagem dele foi planejada de forma a evitar que o americano ficasse muito tempo em Londres, a fim de diminuir protestos e evitar que eles alterem o humor do presidente.

Na tarde de sexta-feira (13) mais de 60 mil pessoas prometiam participar de um grande protesto no dia seguinte, na região central da capital inglesa, para marchar até a Trafalgar Square. As manifestações estavam marcadas desde antes de Trump confirmar a visita, e ganhou apoio de vários grupos críticos ao presidente. Na semana anterior à chegada do americano, a prefeitura de Londres autorizou manifestantes a levarem às ruas um boneco inflável gigante com uma caricatura de Trump como um bebê. Qualquer problema que ocorra nos protestos ou no encontro com Trump pode enfraquecer ainda mais o governo já pressionado de May. Segundo Parakilas, a primeira-ministra tem pouca chance de sair fortalecida com esta visita, e precisa que tudo corra sem incidentes.

"A vitória dela será evitar constrangimentos, se as coisas correrem bem, se os protestos não gerarem problemas, se as discussões não forem contenciosas, se Trump sair com uma boa impressão, isso pode ajudar May, que precisa de uma relação boa com os EUA, até por conta das disputas com a União Europeia sobre o "brexit". Tudo isso para, segunda-feira (16) ela voltar à mesma situação de crise da semana anterior", disse.

Visita de trabalho

O presidente dos EUA chegou ao Reino Unido na tarde de quinta-feira (12), mas não pretendia parar em Londres. Trump segue direto para o palácio de Blenheim, onde terá um encontro fechado com empresários. Nesta sexta (13) ele se reúne com May em Chequers, a casa de campo do governo britânico, e depois segue para o castelo de Windsor, onde se reunirá com a rainha Elizabeth 2ª para um chá da tarde. Trump segue depois disso para a Escócia, onde tem dois campos de golfe.

Apesar de encontrar com May e com a rainha, a viagem não está sendo tratada como uma visita de Estado formal -- como as que Barack Obama e George W. Bush fizeram durante seus governos --, e sim como uma "visita de trabalho". Ainda que a tensão cerque toda a visita, Parakilas rejeita a ideia de que a "relação especial" esteja em risco. "A relação especial é muito maior do que o presidente e a primeira-ministra. Há relações militares, de inteligência, econômicas e culturais. Empresas, atores, músicos. Tudo isso representa essa relação, e continua. A relação pessoal entre os líderes é importante, mas não é tudo."