Rússia enfrenta crises na economia e saúde pela covid-19
Presidente da Rússia Vladimir Putin. Crédito da Foto: Agência Brasil
O panorama é desolador, com um castigo duplo: a Rússia, que rejeitou um novo confinamento para preservar sua economia, enfrenta agora um saldo exponencial de vítimas humanas pela covid-19, além de uma séria crise econômica.
"Isso não é uma brincadeira. O desemprego está aumentando, a renda diminuindo, os produtos básicos estão mais caros", disse teatralmente o presidente Vladimir Putin ao seu governo nesta terça-feira (15).
Após meses de inflação e de pobreza em alta, em um contexto de pandemia, as autoridades decidiram soar os alarmes na semana passada. Entre janeiro e novembro, o preço do açúcar aumentou 70%, o do macarrão, 10%, e o óleo de girassol, 24%.
"É inaceitável", declarou o presidente, encarregando seus ministros de adotar medidas de emergência antes das festas de fim de ano e de seu anual encontro televisionado previsto para quinta-feira. Nesse evento, Putin responderá as perguntas dos cidadãos e da imprensa, em meio ao descontentamento econômico e social. O presidente russo terá de defender um balanço econômico e sanitário pelo menos medíocre.
Desemprego e pobreza
O desemprego aumentou para 6,3% em outubro, quando chegou a segunda onda da epidemia, contra 4,7% em março, antes do confinamento. Entre janeiro e setembro, a renda disponível dos russos caiu 4,3%.
Apesar disso, as autoridades renunciaram a um segundo confinamento para tentar salvar a economia e o poder aquisitivo dos russos, apostando no sucesso futuro da vacina Sputnik-V e na construção de vários hospitais gigantes em Moscou, pulmão econômico e principal foco epidêmico.
As autoridades se congratularam pelo sucesso de sua estratégia, exibindo uma mortalidade na Rússia menor que na Europa, com 48.000 mortos por covid-19 confirmados nas necropsias, sobre um total de 2,7 milhões de casos. No entanto, os dados demográficos estimam um balanço muito mais grave.
A agência de estatísticas russa Rosstat registrou em outubro de 2020 cerca de 50.000 mortes adicionais em relação a outubro de 2019. Entre março e o final de outubro, a sobremortalidade subiu para quase 165.000 óbitos em comparação com o mesmo período de 2019. Isso se deve, sem dúvida, à definição russa muito restritiva sobre o que constitui uma morte causada pelo coronavírus.
20 milhões de pobres
Enquanto isso, o ministro do Trabalho, Anton Kotiakov, declarou em outubro que havia 20 milhões de pobres na Rússia. Segundo a Rosstat, o número de russos que vivem abaixo do limite da pobreza aumentou em 1,3 milhão no segundo trimestre em relação ao primeiro.
Em matéria macroeconômica, o governo russo prevê uma queda do PIB de -3,9% em 2020, embora o Banco Central aposte em uma queda de 4-5%, números que são melhores do que os esperados para alguns países da Europa Ocidental. Isso não faz, porém, os russos esquecerem a queda de seu padrão de vida e a desvalorização do rublo, que perdeu um terço de seu valor desde janeiro, o que reduziu ainda mais seu poder de compra. (Andrea Palasciano/AFP)