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Protestos contra o golpe militar prosseguem em Mianmar

10 de Fevereiro de 2021 às 17:05

Manifestantes participam de demonstração contra o golpe militar. Crédito da foto: STR / AFP

Os birmaneses voltaram às ruas nesta quarta-feira (10), pelo quinto dia consecutivo, apesar da violenta repressão e do ataque noturno do exército contra a sede do partido de Aung San Suu Kyi, o que mostra a determinação dos generais golpistas a ignorar os pedidos de retorno da democracia. Dezenas de milhares de pessoas, de acordo com várias estimativas, protestaram nesta quarta-feira no centro de Yangon, a capital econômica do país, apesar do aumento da repressão na véspera.

"Faremos qualquer coisa para rejeitar o governo militar", declarou à AFP Kyaw Kyaw, funcionário de um hotel.

"Não queremos a ditadura. Tenho um pouco de medo depois da repressão de ontem", disse o estudante Khin Nyein Wai.

Milhares de pessoas também se reuniram em Naypyidaw, capital administrativa de Mianmar, na região central do país. No estado de Kayah, leste, alguns policiais se uniram aos manifestantes, segundo a imprensa local.

Mulher ferida a tiros

O relator especial das Nações Unidas para Mianmar, Tom Andrews, condenou o uso da força e afirmou que a polícia abriu fogo contra uma mulher em Naypyidaw, que foi ferida por um tiro. Nas redes sociais, muitas pessoas compartilharam as imagens que mostram esta ação policial.

"Podem atirar contra uma mulher, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo", escreveu nesta quarta-feira Tom Andrews. "O mundo se solidariza com os manifestantes de Mianmar".

Um médico de um hospital de Naypyidaw afirmou que a jovem Mya Thwe Thwe Khin, ferida na cabeça, está no CTI porque "precisa de ajuda para respirar e continua inconsciente".

Na terça-feira, um médico afirmou que as forças de segurança usaram munição letal, a julgar pelos ferimentos sofridos por dois jovens hospitalizados em estado crítico. Em Mandalay (centro), segunda maior cidade do país, a polícia usou gás lacrimogêneo contra os manifestantes que exibiam bandeiras da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.

A LND, os militares executaram uma operação na sede do partido em Yangon. Um membro da LND, Soe Win, declarou nesta quarta-feira à AFP que um segurança viu a operação pelo sistema de vigilância por controle remoto, mas não foi capaz de intervir por causa do toque de recolher. Durante a manhã, funcionários constataram que as fechaduras foram forçadas. Dentro da sede, cabos da rede de energia elétrica e do servidor foram roubados, equipamentos foram retirados e documentos bancários sumiram do cofre. Soe Win afirmou que o partido pretende denunciar a operação à polícia.

Condenação internacional

As autoridades proibiram na segunda-feira todas as reuniões com mais de cinco pessoas em Yangon, Napypydaw e outras cidades e decretaram um toque de recolher.

Nos últimos dias, centenas de milhares de manifestantes saíram às ruas do país para pedir a libertação dos detidos, o fim da ditadura e a abolição da Constituição de 2008, muito favorável ao exército. Desde o golpe de Estado, o número de pessoas detidas alcança 190, de acordo com uma ONG que ajuda presos políticos.

Os ventos de protesto não eram observados no país desde 2007, quando a "revolução do açafrão", liderada por monges, foi violentamente reprimida pelos militares. O risco de repressão é real em um país que viveu quase 50 anos sob a ditadura militar desde sua independência em 1948. O golpe de Estado foi condenado pelos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outros países.

O presidente Joe Biden anunciou medidas contra a junta militar de Mianmar, incluindo o congelamento de seus ativos em solo americano, enquanto instava os generais a deixar o poder. "Passei uma nova ordem executiva que nos permite sancionar imediatamente os líderes militares que lideraram o golpe, seus interesses comerciais e parentes próximos", disse Biden, que também pediu a libertação "imediata" do líder Aung San Suu Kyi.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU celebrará na sexta-feira uma sessão especial para examinar os acontecimentos. O Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu a libertação dos detidos. (AFP)