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Nikki Haley deixa cargo de embaixadora dos Estados Unidos na ONU

09 de Outubro de 2018 às 20:28

Nikki Haley e Donald Trump na Casa Branca. Crédito da foto: Mark Wilson / Getty Images / AFP

A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, a mulher mais proeminente do governo de Donald Trump, surpreendeu a todos ao anunciar a sua renúncia nesta terça-feira (9). O presidente e a política republicana deram a notícia diante de jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, sem dar explicações sobre os motivos e sem revelar o nome do sucessor, que segundo o presidente poderá ser conhecido nas próximas duas ou três semanas.

"Ela fez um trabalho fantástico", disse Trump sobre Nikki, que se juntou ao seu governo logo no início, "fez um trabalho fantástico". "Me disse há seis meses (...) que queria um tempo para descansar", acrescentou, sem descartar seu retorno "em algum momento", "talvez em outro cargo". "Foi muito especial para mim", destacou, depois de chamá-la de "minha amiga" no Twitter.

Haley, de 46 anos, um dos membros mais populares da administração Trump, imediatamente negou ter ambições presidenciais. "Não, não me candidatarei para 2020", disse, após declarar que foi uma honra estar na ONU. "Espero poder apoiar o presidente nas próximas eleições".

Ao saberem da notícia, alguns observadores especulavam que Haley estava tentando cortar todo laço com Trump para disputar um cargo em um futuro próximo. "É muito importante que os funcionários entendam quando é o momento de se retirar. Dei tudo nos últimos oito anos e acho que às vezes é bom mudar", declarou Haley, que antes de se juntar ao governo de Trump foi a primeira governadora da Carolina do Sul (2011-2017).

Intriga palaciana ou dúvidas?

Haley, filha de imigrantes indianos, tem sido considerada uma estrela em ascensão no Partido Republicano, tradicionalmente marcado por uma liderança branca e ávida por contar com minorias femininas e étnicas para ampliar seu atrativo eleitoral. Nascida na Carolina do Sul como Nimrata Nikki Randhawa - Haley é seu sobrenome de casada -, foi eleita governadora em 2010 e chegou a criticar Trump por seus comentários sobre os imigrantes durante a campanha de 2016, antes de sua reconciliação política.

Novata nas relações internacionais, rapidamente se colocou na linha de frente do cenário diplomático americano, onde foi elogiada por seus talentos políticos e por sua elegância. "Se veste para o cargo", costumavam dizer sobre a sua aparência impecável. Mas desde março, quando Rex Tillerson foi substituído no Departamento de Estado por Mike Pompeo, muito próximo a Trump, ela parecia mais retraída.

Em declarações a jornalistas nesta terça, Pompeo afirmou que Haley foi "uma grande colega", embora tenha se negado a responder a perguntas sobre o assunto. A saída de Haley, aparentemente amigável em uma Casa Branca turbulenta, onde em menos de dois anos entraram e saíram dezenas de funcionários, parece ter uma explicação mais prosaica que as intrigas palacianas: a necessidade de um trabalho no setor privado para dar conta das dívidas importantes que apareceram em sua última declaração de renda, inclusive uma hipoteca de mais de um milhão de dólares.

Na véspera de sua renúncia, Haley foi questionada pela ONG Cidadãos pela Responsabilidade e a Ética em Washington, que pediu para investigá-la pelo uso de luxuosos aviões privados e a aceitação de caros ingressos para jogos de basquete como presente.

Críticas a Venezuela e Nicarágua

Na ONU, Haley se distinguiu por pressionar por uma linha dura contra Coreia do Norte, Irã, Venezuela e Nicarágua. Na última Assembleia Geral da ONU, mostrou uma conduta extremamente incomum para um alto diplomata, ao se dirigir com um megafone a opositores venezuelanos durante uma manifestação.

Haley também atacou o governo de Daniel Ortega, na Nicarágua, o qual acusa de seguir o "caminho" de Síria e Venezuela. Conseguiu por duas vezes que a crise da Venezuela fosse discutida no Conselho de Segurança, que só debate casos que sejam uma ameaça à segurança e à paz no mundo; e em setembro aproveitou que os Estados Unidos presidiam o Conselho para convocar uma sessão sobre a Nicarágua.

Nikki Haley renunciou ao cargo de embaixadora dos Estados Unidos. Crédito da foto: Olivier Douliery / AFP

De Nova York também fez eco dos severos questionamentos de Trump à ONU. Justificou os cortes da ajuda internacional americana e, no início deste ano, sob a sua liderança, os Estados Unidos deixaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU, o qual acusou de ser parcial com relação a Washington e Israel. Embora o secretário geral da ONU, António Guterres, tenha destacado seu "profundo apreço" por Haley, o diretor nos Estados Unidos da organização International Crisis Group, Stephen Pomper, a criticou por fragilizar o papel de seu país no contexto internacional, considerando-a uma "força divisória".

Ambiciosa, decidida e direta, Haley já não incluía nesta terça-feira o título de embaixadora dos Estados Unidos na ONU em sua conta no Twitter, na qual tem 1,66 milhão de seguidores e costuma compartilhar fotos e situações de sua vida familiar. (AFP)

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