Na fronteira com México, Trump defende seu projeto de muro
Trump se reuniu com oficiais da patrulha de fronteira - Foto: Jim Watson/AFP
O presidente Donald Trump defendeu seu projeto de muro nesta quinta-feira (10), na fronteira dos Estados Unidos com o México, um dia depois de abandonar negociações para pôr fim ao "shutdown" federal com líderes democratas, contrários a financiar a construção da barreira na fronteira sul. Em reunião com oficiais da patrulha de fronteira, Trump disse que muitos emigrantes centro-americanos "simplesmente vão para onde não há segurança, e sequer sabem a diferença entre México e Estados Unidos".
"Trazem mulheres amarradas, com fita adesiva na boca, fita isolante. Se tivéssemos uma barreira de qualquer tipo, uma barreira poderosa, seja de aço, ou concreto (...) nós os prenderíamos", declarou Trump. "Este é um tema de senso comum. Precisamos de uma barreira. Precisamos de um muro. Se não existir, teremos muito trabalho, problemas extenuantes e, por certo, morte. Muita morte", disse Trump, após se reunir com os agentes da fronteira. "Todos queremos um muro, ou uma barreira, porque isto vai tornar seu trabalho muito mais fácil e serão ainda mais eficientes", acrescentou.
A viagem do presidente ao Texas é mais um passo para fazer avançar seu plano de construir o muro, após seu primeiro discurso à nação na terça-feira e depois de abandonar uma reunião com os democratas no dia seguinte. Antes de desembarcar no Texas, porém, Trump aumentou a pressão sobre os democratas, ao anunciar via Twitter que, devido à "intransigência" da oposição, cancelou sua viagem ao Fórum Econômico de Davos, que acontece de 21 a 25 de janeiro.
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Trump quer 5,7 bilhões de dólares para erguer um muro que considera necessário para impedir uma crise de crimes violentos causada pela insegurança na fronteira sul. Os democratas dizem que o muro não resolve problemas de imigração, alegando que se trata apenas de uma manobra política para satisfazer as bases de direita do presidente. "Você pode ter toda a tecnologia do mundo. Se não tiver uma barreira de aço, ou um muro de algum tipo, forte, poderoso, vai ter tráfico de pessoas, vai ter entrada de drogas por toda fronteira, vai ter gangues entrando", disse da Casa Branca antes de seguir para o Texas.
O presidente pressionou o Congresso, ao se recusar a assinar o orçamento do governo federal. O gesto resultou no chamado "shutdown", devido ao qual milhares de funcionários, incluindo controladores de tráfego aéreo e membros da Guarda Costeira, não recebem salários há três semanas. Uma paralisação prolongada do governo federal teria "um efeito considerável" sobre a economia mundial, advertiu o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, na quinta-feira (10).
Trump repetiu a ameaça de que, se os democratas não desistirem, ele vai declarar emergência nacional para evitar a votação no Congresso. "Se não chegarmos a um acordo, acho que me surpreenderia" não ser declarada emergência nacional, afirmou. Em uma entrevista à noite à rede Fox News, o presidente reiterou que tem o "direito absoluto de declarar a emergência nacional", mas não ofereceu uma estimativa de tempo para fazer isso. "É hora de o presidente Trump usar os poderes de emergência para financiar a construção de um muro", defendeu o senador republicano Lindsey Graham.
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Os analistas alertam que a decisão de Trump seria contestada na Justiça, de modo que o projeto do muro poderia ser bloqueado. No entanto, esse processo daria credibilidade política ao presidente ante suas bases, mostrando que ele fez o que pôde para construir o muro. Naquela época, Trump poderia acabar com o fechamento parcial do governo.
Birra
Trump, que se orgulhava de suas habilidades de negociação por seu passado como magnata do setor imobiliário em Nova York, não conseguiu fazer os democratas cederem à sua demanda para investirem os 5,7 bilhões de dólares em seu projeto. Foi como "uma total perda de tempo" que Trump descreveu no Twitter sua reunião com a líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e com o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer.
Chuck Schumer disse à imprensa que ele "bateu na mesa" e "se levantou e foi embora". "Vimos sua birra novamente, porque ele não conseguiu o que queria", acrescentou o senador. "Eu não bati na mesa, isso é mentira", defendeu o presidente. "Eu não tenho birras. Todas essas histórias são mentiras", insistiu. Segundo vários veículos da imprensa americana, a Casa Branca estaria estudando redirecionar fundos de ajuda para emergências em áreas afetadas por desastres naturais, como Porto Rico e Flórida, para financiar o muro.
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A oposição a Trump diz que o presidente exagera no perigo para estimular a xenofobia em benefício próprio. "A verdade é que um grande percentual das pessoas que entram no país, que pedem para entrar no país, não é de criminosos. São famílias, crianças, mães, que realmente pedem proteção", afirma a irmã Norma Pimentel, do Centro católico de ajuda humanitária em McAllen, no Texas.
Um migrante hondurenho de 23 anos que se identificou como Kevin disse que veio com sua jovem filha em busca de uma vida melhor. "Saímos de lá por causa do crime, porque há muito desemprego, o sistema educacional é ruim, e todos nós, os pais, queremos um futuro melhor para nossos filhos", explicou à AFP. "Todos têm direito a emigrar, a buscar um novo futuro", disse Yanira de Hernández, uma migrante salvadorenha de 52 anos, que espera no México para poder chegar aos Estados Unidos.
"Não vamos cometer nenhum delito. Esperamos que ele (Trump) entenda isso e que Deus o ajude a mudar, porque seus ancestrais também eram imigrantes", completou. O "shutdown" atual está perto de se tornar o mais longo da história, batendo o recorde de 21 dias ocorrido entre o fim de 1995 e o início de 1996, no governo Bill Clinton. (Sebastian Smith e Michael Mathes - AFP)
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