Buscar no Cruzeiro

Buscar

México inicia histórica alternância com esquerdista López Obrador

01 de Dezembro de 2018 às 12:53

López Obrador, de 65 anos, teve um ótimo resultado nas eleições depois de percorrer durante anos vários cantos do país prometendo uma forte luta contra a corrupção, a pobreza e o crime organizado - Foto: AFP / Ronaldo SCHEMIDT

Pela primeira vez em sua história recente o México terá um presidente de esquerda, fazendo com que a posse de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) neste sábado (1) seja uma "celebração", que incluirá a inédita passagem do bastão de comando da comunidade indígena e a abertura aos cidadãos da residência oficial Los Pinos.

Cerca de 900 personalidades, entre elas uma longa lista de chefes de Estado e presidentes, irão à cerimônia de posse de López Obrador na Câmara dos Deputados.

Em sua terceira tentativa de chegar à presidência, AMLO venceu as eleições em julho com 53% dos votos, deixando bastante atrás o outrora hegemônico Partido Revolucionário Institucional (PRI).

López Obrador, de 65 anos, teve um ótimo resultado nas eleições depois de percorrer durante anos vários cantos do país prometendo uma forte luta contra a corrupção, a pobreza e o crime organizado.

Mas um dos problemas mais urgentes que herda é a caravana de milhares de migrantes centro-americanos parada na fronteira com os Estados Unidos que espera receber asilo nesse país.

No domingo, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, e seu colega americano, Mike Pompeo, se reunirão para abordar a questão.

'Quarta Transformação' 

Os presidentes de Venezuela, Nicolás Maduro; Bolívia, Evo Morales; o vice-presidente americano, Mike Pence; Ivanka Trump, assessora da Casa Branca e Kirstjen Nielsen, secretária do Departamento de Segurança Interna desse país, são parte dos convidados para a posse, evidenciando a complexa relação geográfica do México, que faz parte da América do Norte, mas compartilha o idioma e a cultura com a América Latina.

Após a sua posse, AMLO receberá representantes indígenas no Zócalo da Cidade do México - o centro do que foi a grande Tenochtitlán - o bastão de comando, uma vara de madeira da árvore ahuehuete de 80 centímetros, símbolo do respeito e compromisso com os povos originários.

O ato do Zócalo, sem precedentes, tem como finalidade "honrar esta especial mensagem que Andrés Manuel López Obrador enviou de dar em seu governo uma atenção específica aos nossos povos e comunidades indígenas", explicou à imprensa Regino Montes, titular do Instituto Nacional dos Povos Indígenas.

Antes de receber o bastão, o novo presidente participará de uma "cerimônia de purificação e consagração" realizada por xamãs com flores e fumaça de copal.

Feito por comunidades indígenas mixes, o bastão é entregue desde épocas pré-hispânicas no início de um governo indígena ou de ciclos agrícolas, mas nunca antes a um presidente.

O Zócalo também será sede da "Celebração Cultural pelo Início da Quarta Transformação", como AMLO tem chamado a sua gestão, que considera a continuação dos grandes momentos históricos do país: A Independência (1810-1821), A Reforma (guerra entre liberais e conservadores de 1858 a 1861) e A Revolução (1910-1917).

Espera-se que milhares de pessoas assistam ao também chamado "AMLO Fest", um festejo animado pela popular banda porto-riquenha "Calle 13", entre outros.

Militares convertidos em guias

 A 10 quilômetros da AMLO Fest, os mexicanos entrarão pela primeira vez, e sem restrições, na residência oficial de Los Pinos, onde López Obrador se negou a morar, como fizeram 13 presidentes antes dele.

AMLO disse, ironicamente, que a residência "está amaldiçoada" e, por isso, decidiu converter a enorme propriedade, que equivale a 14 vezes a Casa Branca, em um espaço cultural.

E os militares que a protegem desempenharão o papel de guias de turismo improvisados.

A decisão de López Obrador faz parte de suas promessas de acabar com a corrupção e os luxos desnecessários na administração pública.

Contudo, seus críticos temem que seu governo se torne radical e autoritário, e o mundo dos negócios está particularmente tenso. A Bolsa mexicana e a moeda sofreram fortes quedas desde que AMLO anunciou o cancelamento da construção do novo aeroporto da Cidade do México, uma obra de 13 bilhões de dólares.

Mas o ex-prefeito da capital quase não perdeu popularidade, segundo diversas pesquisas, apesar deste cancelamento e de sua intenção de criar uma guarda nacional a comando do Exército para combater o narcotráfico. (AFP)