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Manifestações na Argélia celebram segundo aniversário da revolta popular

22 de Fevereiro de 2021 às 13:00

Milhares de pessoas participaram e dezenas foram presas. Crédito da foto: Ryad Kramdi/AFP

Milhares de manifestantes tomaram as ruas de Argel e de outras cidades da Argélia nesta segunda-feira (22) para comemorar o segundo aniversário do Hirak, um movimento opositor que tenta recuperar forças após um ano de pausa pela crise sanitária. Essa foi a maior manifestação na capital da Argélia desde a suspensão dos protestos em 13 de março de 2020 devido à pandemia de covid-19, observaram jornalistas.

"Não viemos para celebrar [o segundo aniversário do Hirak], mas para exigir sua saída", gritavam os manifestantes referindo-se ao governo, o qual enfrentam há dois anos. "A fatídica hora chegou", dizia um cartaz.

As forças de segurança estabeleceram controles em várias estradas das imediações da capital, onde foi implantado um grande dispositivo policial. Os manifestantes começaram a chegar ao meio-dia. A polícia tentou impedir que avançassem para a sede dos Correios de Argel, um lugar emblemático das manifestações do Hirak, e prendeu alguns manifestantes, recorrendo ao uso da força em algumas ocasiões.

Também houve protestos em outras cidades como Annaba, Orã, Bugía, Setif, Bouira, Mostaganem, Constantina e Tizi Uzu, segundo as redes sociais e relatos coletados. "Vim desde Hamadi [leste]. Tive que sair às cinco da manhã. Duas horas e meia de trânsito para chegar ao centro por culpa dos controles. Controlavam cada veículo", explicou Hamid, de 54 anos.

Contra o "sistema"

O movimento de protesto, que surgiu em 22 de fevereiro de 2019, obrigou o ex-presidente Abdelaziz Bouteflika, que estava há décadas no poder, a renunciar dois meses depois. Apesar de ter sido suspenso no ano passado por causa da pandemia de covid-19, o movimento continua exigindo o desmantelamento do "sistema" político instaurado desde a independência da Argélia em 1962, que os manifestantes associam ao autoritarismo e à corrupção.

O governo, no entanto, considera que as reivindicações do movimento já foram atendidas e chama seus simpatizantes de "magma contra-revolucionário". As manifestações ocorreram um dia depois de o presidente, Abdemadjid Tebboune, tomar uma série de decisões para enfrentar a crise tripla que abala o país: política, econômica e sanitária.

Na quinta-feira, Tebboune emitiu um decreto presidencial a favor de cerca de 60 presos de consciência, em um gesto de apaziguamento. Desde então, cerca de 40 presos foram libertados, incluindo o opositor Rachid Nekkaz e o jornalista Khaled Drareni, que se tornou um símbolo do combate pela liberdade de imprensa.

Além disso, no domingo, ele reorganizou o governo, apesar de não ter tomado nenhuma mudança importante, e dissolveu o Parlamento, abrindo o caminho para novas eleições legislativas em um prazo de seis meses.

"O reajuste [ministerial] não me preocupa, são os mesmos peões. E o mesmo vale para o Parlamento, os novos [deputados] trabalharão, como o regime atual, pelos seus próprios interesses [...], não pelo povo", declarou à AFP Zaki Hannache, um ativista de 33 anos. (Abdelhafid Daamache e Philippe Agret/AFP)