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Zona Verde e base que abriga soldados americanos são alvos de ataques no Iraque

04 de Janeiro de 2020 às 14:43

Dois foguetes caem em base iraquiana que abriga soldados americanos Grupo foi às ruas de Bagdá para protestar contra a morte do general iraniano Qasem Soleimani. Crédito da foto: Ahmad Al-Rubaye / AFP (4/1/2020)

Atualizada às 15h20

Dois ataques visaram quase simultaneamente neste sábado (4) à noite a Zona Verde de Bagdá e uma base aérea iraquiana que abriga soldados americanos ao norte da capital, informaram autoridades dos serviços de segurança.

Dois morteiros caíram na Zona Verde, onde está localizada a embaixada dos Estados Unidos, atacada na terça-feira por milhares de combatentes e partidários pró-Irã. No mesmo momento, menos de 100 quilômetros ao norte, dois foguetes Katyusha caíram na base aérea de Balad, que abriga soldados e aviões americanos, segundo fontes da segurança no local.

De acordo com o comando militar iraquiano, os ataques não fizeram vítimas. Logo após esses disparos, drones americanos sobrevoaram a base para missões de reconhecimento, acrescentaram as fontes.

Os Estados Unidos enviaram soldados adicionais esta semana para proteger seus diplomatas e soldados no Iraque, onde o sentimento antiamericano, alimentado pelos pró-iranianos, explodiu com o assassinato na sexta-feira em Bagdá do poderoso general iraniano Qassem Soleimani e do seu braço-direito Abu Mehdi Al Mouhandis.

Funeral do general

Também neste sábado (4), milhares de iraquianos, incluindo autoridades, participaram em Bagdá do funeral do general iraniano Qasem Soleimani. Ele foi morto no Iraque em um ataque americano.

“Morte à América”, gritou a multidão em Bagdá e nas cidades sagradas xiitas de Kerbala e Najaf. A manifestação ocorreu na passagem do cortejo fúnebre do general iraniano e de seu braço-direito iraquiano Abu Mehdi Al Muhandis. Ambos foram mortos na sexta-feira (3) em um ataque com drone perto do aeroporto internacional de Bagdá.

Temendo represálias, a coalizão internacional anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos reduziu suas operações. Também reforçou a segurança de suas bases no Iraque, segundo uma autoridade americana.

Na véspera, os Estados Unidos anunciou o envio de entre 3 mil e 3.500 soldados adicionais. O objetivo é reforçar a segurança dos militares e diplomatas americanos no Iraque.

O assassinato de Soleimani - o arquiteto da política do Irã no Oriente Médio - e do líder miliciano Al Muhandis - número dois da coalizão paramilitar pró-iraniana Hashd Al Shaabi e considerado o homem do Irã em Bagdá - faz temer um novo conflito na região. O Irã prometeu “uma dura vingança no momento e no lugar apropriados”.

Trump

Justificando o ataque, o presidente americano Donald Trump disse que eliminou Soleimani para parar uma guerra e não começar outra. Ele também garantiu que o general planejava um ataque “iminente” contra os interesses dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos cometeram “um ato de guerra” contra o Irã, considerou o embaixador iraniano na ONU, Majid Takht Ravanchi. “A resposta a uma ação militar é uma ação militar. Por quem, quando ou onde, o tempo dirá.”

Vingança

Os apelos à vingança foram retomados no Iraque neste sábado. Os corpos das dez vítimas foram levados de Kazimiya para a chamada Zona Verde, um bairro sob rigorosas medidas de segurança e sede de instituições governamentais e de várias embaixadas, incluindo a dos Estados Unidos, que na terça-feira sofreu um ataque de apoiadores da Hashd.

O primeiro-ministro iraquiano Adel Abdel Mahdi participou do funeral, assim como Hadi Al Ameri, chefe das forças pró-iranianas no parlamento iraquiano, o ex-primeiro-ministro Nuri Al Maliki e vários chefes de facções xiitas pró-iranianas.

‘Grave erro’

Após o funeral, os corpos serão transferidos para Kerbala e Najaf, duas cidades sagradas xiitas ao sul da capital. Al Mouhandis será enterrado no Iraque e o corpo de Soleimani será transferido para o Irã, onde será sepultado na terça-feira em sua cidade natal, Kerman.

Na terça-feira passada, durante o funeral de 25 combatentes de uma milícia Hashd, a multidão atacou o primeiro perímetro da embaixada dos Estados Unidos com barras de ferro. Os analistas agora temem um conflito entre o Irã e os Estados Unidos em solo iraquiano.

No Irã, as autoridades decretaram três dias de luto oficial em memória de Soleimani, de 62 anos. O guia supremo iraniano, Ali Khamenei, e o presidente Hassan Rohani, que já nomearam Esmail Qaani para substituir Soleimani, também pediram represálias.

Soberania do Iraque

Após o ataque, as forças pró-iranianas parecem mais fortes do que nunca no Iraque, país mergulhado há três meses em uma revolta popular contra o poder e a influência do Irã. O ataque americano “viola a soberania do Iraque”, disseram os líderes iraquianos.

O líder xiita iraquiano Moqtada Sadr reativou sua milícia, chamada Exército Mehdi, que havia sido dissolvida após a luta contra a ocupação americana no Iraque (2003-2011). Por sua parte, Hadi Al Ameri, líder dos parlamentares pró-iranianos no Iraque, pediu união para “expulsar as tropas estrangeiras”, referindo-se aos americanos.

Os deputados se reunirão no domingo (5) e poderão revogar o tratado entre o Iraque e os Estados Unidos, que permite a presença de 5.200 soldados americanos no país petrolífero. E nas grandes capitais, a preocupação domina. Moscou e Paris disseram estar preocupados com o risco de uma "piora da situação" no Oriente Médio. (AFP)

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