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Com negociações estagnadas, EUA se preparam para longa paralisação

23 de Dezembro de 2018 às 20:27
Marcel Scinocca [email protected]

Paralisação já afeta funcionamento, por exemplo, de parques nos Estados Unidos. Mark Wilson / Getty Images / AFP

Os Estados Unidos entraram, neste domingo (23), no segundo dia de paralisação do governo, com a suspensão de vários serviços, uma situação que, segundo o diretor de orçamento da Casa Branca, Mick Mulvaney, poderia se estender até janeiro. "É muito possível que este 'shutdown' [paralisação] prossiga além do dia 28 [de dezembro] e até o novo Congresso [assumir]", afirmou Mulvaney ao canal Fox News.

A primeira reunião da nova legislatura está prevista para 3 de janeiro. A paralisação parcial de algumas agências e departamentos federais, que vigora desde a meia-noite de sexta-feira, mantém quase 800.000 funcionários públicos em licença não remunerada ou trabalhando sem receber pagamento, no caso dos serviços considerados essenciais. Quase 400 mil trabalhadores foram mandados para casa, enquanto 420 mil adicionais, como membros da Patrulha Fronteiriça e da segurança aeroportuária, permanecem trabalhando sem salário.

As discussões sobre o orçamento federal para resolver o problema foram adiadas no sábado pelo Congresso até a quinta-feira, 27 de dezembro, ante a impossibilidade de alcançar um acordo sobre os recursos para a construção de um muro na fronteira com o México, uma exigência do presidente Donald Trump.

O presidente, que cancelou as férias de Natal na Flórida em consequência do "shutdown", insiste na aprovação de seu pedido de 5 bilhões de dólares para a construção do muro, uma promessa de campanha para reduzir a imigração ilegal que tem a oposição veemente dos democratas.

Sem um acordo entre o Congresso e a Casa Branca, diversas agências federais ficaram sem financiamento. "Isto é o que Washington parece quando você tem um presidente que se recusa a entrar no jogo para ficar bem", disse Mulvaney. - "Uma longa estadia" - "A única forma de evitar que as drogas, as gangues, o tráfico de pessoas, os elementos criminosos e muitas outras coisas cheguem ao nosso país é com um muro ou uma barreira", tuitou Trump neste domingo. "Os drones e tudo mais são maravilhosos e muito divertidos. Mas é só um bom muro à moda antiga que funciona!", acrescentou.

No sábado, Trump já tinha anunciado pelo Twitter que estava na Casa Branca "trabalhando duro" para encontrar uma solução, mas que esta "poderia ser uma longa estadia". A temporada de festas de fim de ano fez com que os efeitos visíveis da paralisação fossem mais lentos, mas vão se propagar gradativamente. Os primeiros a senti-los foram os visitantes da National Mall, uma espécie de parque da capital, que abriga locais de interesse, como monumentos de guerra e o imponente Monumento a Washington.

Houve poucos indícios, neste domingo, de qualquer avanço e, com a maioria dos legisladores em casa para as festas, parece que uma solução está mais distante do que nunca. "Os democratas nos ofereceram 1,6 bilhão de dólares há umas duas semanas", disse Mulvaney à ABC. "Depois, ofereceram ao presidente US$ 1,3 bilhão esta semana". "Essa é uma negociação que parece que vai na direção errada", disse o diretor de orçamento, que se tornará chefe de gabinete interino de Trump na próxima semana.

O senador Chuck Schumer, líder da minoria democrata, culpou um "piti extraordinário de duas semanas" do presidente pela paralisação, assegurando que o governo poderia voltar à normalidade se Trump "abandonasse o muro".

Falta ver como vai reagir Wall Street, que vai abrir nesta segunda-feira para uma sessão mais curta. A Bolsa de Nova York registrou esta semana sua pior queda semanal desde 2008, agitada particularmente pela ameaça de paralisação e a perspectiva de uma desaceleração econômica nos Estados Unidos. - 'É infantil' -

Até mesmo alguns republicanos expressaram sua consternação pelo que chamaram de uma crise evitável.

"Os democratas facilmente apoiariam mais recursos fronteiriços, segurança fronteiriça" se fosse possível alcançar um acordo mais amplo, disse o senador republicano Bob Corker à CNN. "Isto é algo desnecessário. É um espetáculo e, francamente, é infantil", acrescentou Corker, falando em seus últimos dias antes de deixar o Congresso. "Esta é uma briga inventada para que pareça que o presidente está brigando", emendou. "Mesmo se vencer, nossas fronteiras não estarão seguras", completou.

Corker também disse que é fácil chegar a um acordo se as duas partes estiverem preparadas para se comprometer, particularmente sobre o pedido dos democratas de proteger o status dos "Dreamers" (latinos que entraram ilegalmente nos Estados Unidos ainda crianças na companhia dos pais).

Mulvaney disse que Trump estava "disposto a discutir uma solução de imigração mais ampla", mas parecia não haver nenhuma possibilidade de oferecer a cidadania aos "Dreamers", e disse que não era uma ideia popular entre muitos republicanos.