Cientistas premiados querem mostrar imagens de buraco negro em tempo real
Cientistas apresentam o estudo no telão. Crédito da foto: Chip Somodevilla / AFP (10/4/2019)
Quando divulgaram a primeira imagem de um buraco negro, em 10 de abril, os cientistas da colaboração internacional do Event Horizon Telescope já estavam preparando o que viria depois, a primeira imagem animada mostrando os movimentos de gases sugados para sempre nesses objetos celestes.
Observações já foram feitas por telescópios em 2017 e 2018, e os pesquisadores estão trabalhando ativamente, neste momento, para produzir vídeos a partir das montanhas de dados obtidos - eles esperam publicar com sucesso um primeiro filme, talvez um pouco bruto, em 2020.
De qualquer forma, "até o final da próxima década, faremos filmes de buracos negros de alta qualidade e em tempo real, que revelarão não apenas sua aparência, mas seu comportamento no palco cósmico", diz à AFP Shep Doeleman, diretor do enorme projeto de astronomia, que reúne 347 coautores de todo o mundo que receberam coletivamente nesta quinta-feira um prêmio de US$ 3 milhões, o Breakthrough Prize, em reconhecimento dos avanços científicos realizados.
"Estou trabalhando nisso há 20 anos, e minha esposa está finalmente convencida de que estou fazendo algo importante", explicou o pesquisador de 52 anos, pai de dois filhos e astrônomo no Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian.
A ideia que o ocupou desde sua tese de doutorado é a seguinte: os astrônomos podiam detectar a luz engolida por buracos negros, "mas não tínhamos a precisão necessária para ver a forma da luz". "Para criar uma imagem, era preciso ligar vários telescópios", explica o astrônomo: vários telescópios espalhados pela Terra e que juntos reproduziriam o equivalente a um telescópio virtual gigante, capaz de resolução sem precedentes, para observar em detalhes uma estrela que aparece microscopicamente no céu.
'Um primeiro filme bruto'
No final dos anos 2000, a tenacidade começou a dar resultados. O projeto usou três telescópios para provar o conceito e publicou em 2008 as primeiras medições de um buraco negro.
Mas foi apenas em abril de 2017 que o projeto conseguiu reunir oito radiotelescópios no Chile, nos Estados Unidos, no Polo Sul...
Os telescópios observam altas frequências. Graças a isso, "fomos capazes de ver através de todo o gás e poeira de nossa galáxia, e através dos gases acumulados no buraco negro, até a borda do buraco negro".
Além disso, durante esta semana de abril de 2017, os telescópios observaram não apenas o buraco negro no centro da galáxia M87, mas também aquele no centro da nossa, Sagittarius-A*. Eles também os observaram em 2018 e planejam fazer isso novamente no próximo ano.
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Nosso buraco negro é mais turbulento e, portanto, mais difícil de observar. "Leva cerca de um mês para que a matéria circule em torno de M87. Mas para Sagittarius-A, leva apenas meia hora e, em uma noite de observação, Sagittarius-A pode mudar na nossa frente", diz.
"É possível que façamos um primeiro filme um tanto bruto", acrescenta o cientista. Idealmente, seriam necessários mais telescópios, na Terra ou na órbita terrestre, para aumentar a resolução. "Mas refinaremos isso com o tempo, talvez como os primeiros filmes no cinema".
A primeira imagem do M87 abriu portas e Shep Doeleman está otimista. "Seremos apoiados por agências de financiamento em todo o mundo, por fundações, talvez até por doadores privados, para dar o próximo passo".
Segundo ele, a próxima geração do Horizon Telescope Event, na década de 2020, produzirá vídeos cada vez mais precisos de buracos negros. O projeto "criou mais valor do que qualquer outro projeto científico da história", afirma. "Nós nos vemos como exploradores", diz Shep Doeleman. "Somos instrumentos à beira de um buraco negro e voltamos para contar o que descobrimos". (Ivan Couronne - AFP)