China deixa de ser berço do vírus e agora teme efeito 'bumerangue'
O coronavírus afetou mais de 78.000 pessoas na China, das quais mais de 2.700 morreram. Crédito da foto: AFP
O novo coronavírus parece perder força na China, origem da epidemia, e o país agora teme ser afetado por contágios do exterior. O caso de uma pessoa que voltou do Irã contaminada nesta quinta-feira (27) causou grande preocupação nas redes sociais. As autoridades centrais e locais anunciaram mais controles para os viajantes vindos do exterior.
Deflagrada em dezembro em Wuhan, no centro do país, a epidemia afetou mais de 78.000 pessoas na China, das quais mais de 2.700 morreram. Um mês após a quarentena de Wuhan e de sua região, porém, o número de mortes diárias na China caiu para 29 nesta quinta-feira, bem abaixo dos cerca de 100 óbitos já registrados no meio do mês.
Em sentido contrário, a epidemia avança no restante do mundo, especialmente na Itália, no Irã, na Coreia do Sul e no Japão. Na quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o número de novas infecções diárias agora é menor na China do que no exterior.
Assim, o governo chinês avalia "medidas precisas de prevenção e de controle" para os recém-chegados, afirmou o Ministério das Relações Exteriores. Na quarta-feira (26), Pequim anunciou que impôs uma quarentena de 14 dias para pessoas de países "seriamente afetados" pela epidemia, sem especificar quais.
Centenas de sul-coreanos estão em quarentena no leste do país, após a detecção de casos suspeitos da COVID-19 em dois aviões.
Jornada perturbadora
Os internautas reagiram, sobretudo, ao caso de uma pessoa contaminada que chegou do Irã em 20 de fevereiro, um dia após o anúncio dos primeiros casos no país.
A pessoa – de sexo não informado e de nacionalidade chinesa, conforme o jornal "Global Times" – terminou sua viagem em Ningxia (norte), segundo autoridades dessa região autônoma muçulmana, detalhando seu itinerário em um comunicado.
Segundo seu relato, voou de Teerã para Moscou e depois para Xangai, onde embarcou em um trem noturno para Lanzhou (noroeste), antes de chegar a seu destino. As autoridades divulgaram os assentos ocupados nos aviões por essa pessoa para que seja possível identificar quem quer que tenha entrado em contato com ela.
O número de seu quarto de hotel em Lanzhou foi revelado, assim como o fato de ter usado uma cadeira de massagem em uma estação de trem.
"Fuga de Wuhan"
O caso gerou inúmeros comentários na rede social Weibo e cerca de 100 milhões de visitas. "Não podemos arruinar todos os esforços da China somente por causa de uma vinda do exterior", afirmou um usuário.
No último mês, cerca de três milhões de chineses não podem sair de suas casas, ou, quando o fazem, usam máscara protetora. A ameaça potencial dos países vizinhos também alarma a imprensa chinesa.
Os viajantes do Japão e da Coreia do Sul "não devem ter um tratamento preferencial que lhes permita atravessar facilmente a rede de prevenção e de controle chinesa", argumentou o "Global Times".
À medida que a epidemia diminui, muitas províncias chinesas começaram a suspender parcialmente as medidas de emergência, informou a agência de notícias Xinhua.
Começam a surgir temores, porém, quanto à segurança do sistema de quarentena, depois de se saber que uma mulher conseguiu deixar Wuhan, supostamente isolada, para viajar de carro para Pequim.
O Ministério da Justiça confirmou que a mulher, infectada, chegou a Pequim após ser solta de uma prisão em Wuhan, onde há 300 pessoas contaminadas. Diante do espanto provocado, uma investigação foi aberta para esclarecer o caso. (AFP)
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