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Após 15 anos de esquerda, Lacalle Pou assume presidência do Uruguai

01 de Março de 2020 às 15:31

Líder de centro-direita do Partido Nacional (PN) conseguiu derrotar a Frente Ampla (FA, esquerda) com uma coalizão de cinco forças políticas. Crédito da foto:  Pablo Porciuncula / AFP

 

O Uruguai encerra, neste domingo (1), 15 anos de governos de esquerda com a posse do liberal Luis Lacalle Pou, que assume a presidência com a promessa de diminuir os gastos públicos, reduzir a insegurança e facilitar a imigração.

"Eu, Luis Lacalle Pou, comprometo-me, por minha honra, a cumprir a posição que me foi confiada e a defender a Constituição da República", disse o novo presidente, conforme estabelecido no artigo 158 da Magna Carta, perante o ex-presidente José Mujica, que prestou juramento em seu cargo de presidente da Assembleia Geral, cargo que após o compromisso passou para a nova vice-presidente Beatriz Argimón.

A primeira parte da cerimônia de posse no Palácio Legislativo, sede do Parlamento, começou com a interpretação do hino nacional pela soprano Luz del Alba Rubio, acompanhada pelo coro público nacional.

O líder de centro-direita do Partido Nacional (PN), que conseguiu derrotar a Frente Ampla (FA, esquerda) com uma coalizão de cinco forças políticas que vão do centro até uma direita mais radical, fez um discurso aos legisladores, antes de se encaminhar para o Plaza Independencia em um Ford V8 de 1937, que pertencia ao seu bisavô Luis Alberto de Herrera, um líder histórico do PN. O veículo também foi usado por seu pai, ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), no dia em que assumiu.

Lacalle Pou, advogado de 46 anos que foi legislador por duas décadas, chega à presidência em sua segunda tentativa depois de derrotar o candidato oficialista Daniel Martínez em novembro, por uma diferença de 1,5% dos votos.

Centenas de partidários do PN vieram de diferentes partes do país para acompanhar a cerimônia.

Desafios

Lacalle Pou, que assume a presidência em um país com uma economia estagnada, um déficit fiscal de 4,6% e um aumento no desemprego, anunciou que tomará medidas imediatas em várias frentes, desde a redução dos gastos públicos à facilitação da imigração ou combate à insegurança.

Um de seus primeiros desafios será a aprovação da Lei de Urgente Consideração (LUC), com 457 artigos que tratam de questões como segurança, economia e educação. Este projeto, que o Parlamento deve aprovar em no máximo 90 dias, já gerou protestos de vários setores e levou o sindicato dos professores a convocar uma greve para 12 de março.

Até integrantes da coalizão governista formada pelo PN, o Partido Colorado (PC, liberal), Cabildo Abierto (CA, direita radical), o Partido da Gente (PG, direita) e o Partido Independente (PI, social-democrata) apresentaram modificações ao rascunho.

O novo presidente também anunciou sua intenção de implementar mudanças radicais na política externa. Para sua posse não convidou os presidentes de esquerda de Cuba, Nicarágua e Venezuela, cujo presidente Nicolás Maduro descreveu como "ditador".

Em contrapartida, contará com os presidentes direitistas do Brasil, Colômbia, Paraguai e Chile. Também o rei Felipe VI da Espanha, que Lacalle Pou recebeu no sábado com um churrasco em casa. O presidente argentino, Alberto Fernández, declinou do convite, alegando que, no mesmo dia, abrirá as sessões ordinárias do Congresso.

A saída de Vázquez, que termina seu segundo mandato (2015-2020), encerrar três governos consecutivos da FA.  O ciclo progressista culmina marcado pela aprovação de leis sociais - como a regulamentação do uso de maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo - mas também pelo aumento dos salários e aposentadorias, pela expansão do acesso a saúde, declínio acentuado da pobreza e períodos de crescimento recorde do PIB.

No entanto, os últimos cinco anos registraram estagnação econômica, aumento do desemprego e aumento da insegurança. O que ajuda a explicar sua derrota nas últimas eleições.

"O Uruguai nunca entrou em recessão e teve 16 anos de crescimento ininterrupto com a melhor distribuição de riqueza" da América Latina, disse Vázquez na sexta-feira à noite em uma cerimônia de despedida.

"O crescimento econômico com justiça social é o legado político dos três governos da FA", disse o presidente, antes de destacar a "paz social" do país em uma região convulsionada. ( Gabriela Vaz - AFP)