Unidos contra o racismo
O norte-americano Eric Laster, da LSB, diz que atletas têm grande plataforma e inspiram pessoas. Crédito da foto: Marina Gouvêa / LSB / Divulgação
O assassinato brutal de George Floyd por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, reacendeu a chama sobre o racismo na sociedade. Diversos protestos tomaram as ruas em todo o mundo.
O assunto não é novo e a discriminação aos negros é histórica. Em 2013, o movimento “Black Lives Matter” (vidas negras importam) foi lançado nos Estados Unidos por três ativistas em função da violência da polícia de Los Angeles.
A organização voltou a ganhar as ruas novamente no final de maio e início de junho. Com os grandes protestos ao redor do planeta, o tema também entrou em discussão entre atletas, dirigentes e entidades esportivas.
Como exemplo, o campeonato inglês, na retomada, além de prestar homenagens às vítimas do Covid-19, também foi palco para a manifestação em apoio aos movimentos anti-racistas. Atletas e árbitros se ajoelham antes do início do confronto. Gesto que marca os protestos.
Nos Estados Unidos, país que foi o estopim das movimentações, grandes atletas foram às ruas e usaram o seu poder midiático para dar ainda mais voz à causa. Como o astro da Liga Nacional de Basquete (NBA), LeBron James.
Reflexos no Brasil
Aqui no Brasil, também houve publicações de federações e confederações, além de esportistas participarem de manifestações. Na capital paulista, o meio-campista do São Paulo Futebol Clube, Tchê Tchê, marcou presença no movimento do último dia 7 de junho.
O poder de influência das personalidades esportivas é de extrema importância para reverberar a discussão sobre o assunto em todas as camadas sociais. Como aponta o ala da Liga Sorocabana de Basquete (LSB), Eric Laster.
“Atletas têm uma grande plataforma e inspiraram muitas pessoas. É importante que os atletas usem essa plataforma e influência para atrair atenção e ajudar a criarem soluções para o problema do racismo e da violência policial”, pontuou Laster.
O norte-americano, que foi eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro de Basquete de 2019 quando vestia a camisa do Cravinhos, aponta também que os jogadores não precisam se posicionar apenas por serem famosos, mas por fazerem parte da sociedade.
“Quando o jogo acaba e tiramos o nosso uniforme, voltamos a ser cidadãos comuns. E sendo assim, o atleta deveria fazer tudo ao seu alcance para tentar fazer o mundo um lugar melhor. Somos todos humanos e ser um atleta profissional não muda isso”, avaliou.
Assim como Laster, a armador a da Pró-Esporte, equipe feminina do basquete sorocabano, Aruzha Michaski, também se posicionou contra o racismo. Para a jogadora é importante todos se manifestarem e para o atleta é um dever de se posicionar contra esse crime.
“Um crime que acontece diariamente e muitos de nós já sofreram com isso, eu ja sofri com o racismo. Na época, eu não sabia me defender, era muito nova e tive vergonha. Então, hoje eu me posicionando, consigo ajudar e mostrar que superei esse acontecimento”, confessou.
O racismo é considerado crime no Brasil desde o dia 5 de janeiro de 1989, quando o então presidente da República, José Sarney, sancionou a Lei 7.716/89. Mesmo assim, o tema é tabu e existe uma censura velada para a live manifestação.
O ex-goleiro Aranha foi vítima de racismo em 2014 quando enfrentava o Grêmio, em Porto Alegre, vestindo a camisa do Santos. Crédito da foto: Divulgação
O ex-goleiro Aranha, que foi vítima de racismo em 2014, na Arena do Grêmio, quando enfrentava o time gaúcho vestindo a camisa do Santos, é um exemplo. Por se posicionar na luta anti-racista, ele lembra que foi taxado de encrenqueiro no meio do futebol.
“No meu caso, passei a ser o encrenqueiro. Todo time que me contrata sabe que toda vez que acontecer alguma coisa eu vou ter que falar e estarei com a camisa do clube. Nem todo diretor está disposto a abraçar isso”, afirmou ao programa Troca de Passes, do Sportv.
Aruzha, cestinha da Liga de Basquete Feminino (LBF) em 2019, apontou que nunca foi proibida de se manifestar. “Nunca contestaram nada sobre isso, e agora no time do Pró Esporte os profissionais envolvidos são incríveis e não só ajudam como apoiam totalmente.”
Para Aruzha é importante todos se manifestarem e é um dever do atleta se posicionar contra esse crime. Crédito da foto: Eduardo Campos / Divulgação
Apesar do apoio à jogadora, publicamente a Pró-Esporte preferiu não se manifestar. Assim como o Magnus Futsal e o São Bento. O clube beneditino enviou uma nota à reportagem do jornal Cruzeiro do Sul, onde enfatiza o compromisso com os valores da cidade.
“Historicamente o sorocabano combate qualquer forma de racismo. O São Bento é um clube de Sorocaba, com os valores da nossa cidade. Somos todos iguais. Dentro e fora do campo nosso time está sempre ao lado do ser humano, da igualdade e do respeito”, afirmou.
A LSB fez uma postagem apoiando a hashtag “blackout tuesday”, movimento criado por gravadoras musicais dos Estados Unidos. As empresas fecharam as suas portas no dia 2 de junho e motivaram as pessoas a publicarem fotos inteiramente pretas nas redes sociais.
O norte-americano Eric Laster hoje vive em Sorocaba, mas nasceu em Smyrna, no estado de Delaware. Já viveu no Ceará, em Santa Catarina, e lembra que o racismo é universal. Mas torce para que o atual momento sirva para iniciar um processo de mudança.
“Todos nós deveríamos entender a dor e a injustiça do racismo. Espero que esse momento ajude a trazer soluções para acabar com o racismo sistêmico e com a violência policial, e conseguir nos unir em um mundo mais pacífico e menos racista”, finalizou. (Zeca Cardoso)
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