Tumulto, sangue e lágrimas
Fãs do ex-jogador tentaram invadir a sede do governo argentino, onde acontecia o velório. Crédito da foto: Martin Zabala / Estadão Conteúdo
O velório de Diego Maradona, ontem (26), reuniu milhares de pessoas nos arredores da Casa Rosada, sede do governo argentino, em Buenos Aires. A cerimônia ocorreu no Salão de Los Patriotas, reunindo autoridades e fãs do craque campeão mundial em 1986. Mas não foi suficiente para reunir todos aqueles que esperavam por uma oportunidade de dar seu último adeus ao ídolo.
Um pouco antes das 18h, o corpo de Maradona saiu da Casa Rosada com direção ao cemitério de Bella Vista, na zona noroeste da grande Buenos Aires, onde também estão sepultados seus pais, Dalma e Diego. Uma multidão se amontoava nas margens da rodovia por onde passou o cortejo. A pista ao lado da qual este percorria estava praticamente parada. Pessoas cumprimentavam a caravana e, emocionadas, acenavam e festejavam pela última vez o contato com o craque. O corpo do jogador chegou ao cemitério por volta das 19h30.
Maradona foi um dos poucos argentinos a serem velados na Casa Rosada. A última pessoa a ser velada na sede do governo argentino foi o ex-presidente Néstor Kirchner, falecido em outubro de 2010. Antes, em 1995, outro ídolo do esporte, Juan Manuel Fangio, cinco vezes campeão da Fórmula 1 e um dos maiores pilotos da história, teve o corpo velado no Salão Branco.
A despedida de Maradona na Casa Rosada foi uma oferta do presidente Alberto Fernández à família do craque. A família de Maradona aceitou a oferta e o velório do camisa 10 começou a ser realizado na manhã de ontem, primeiramente em um cerimônia íntima e logo aberta ao público, sem deixar de atender a certas medidas restritivas em função da pandemia do novo coronavírus.
Confusão
Por volta das 15h30, fãs de Maradona e policiais entraram em conflito do lado de fora da Casa Rosada, quando um grupo de pessoas tentou derrubar as grades de proteção para ganhar espaço na longa fila. A polícia local respondeu com balas de borracha, gás lacrimogêneo e prisões para dispersar o tumulto.
No meio da grande aglomeração de pessoas na esquina da avenida de Mayo com a 9 de Julho, perto da Casa Rosada, foram registrados empurrões, correria e gritos. Enquanto alguns tentavam furar a fila, a polícia reagiu e começou a dispersar o tumulto. As balas de borracha feriram algumas pessoas, que tiveram de receber atendimento médico. Houve também o uso de caminhões hidrantes e de motos para fazer com que as pessoas se afastassem da região.
Alguns fãs reagiram à ação da polícia com o arremesso de garrafas e hidrantes. Diante da violência, famílias com crianças pequenas tiveram de fugir pelas ruas secundárias enquanto a polícia avançava. A fila para entrar no velório de Maradona tinha mais de 20 quadras de extensão. Durante o tumulto, alguns invadiram a Casa Rosada. Por precaução, o caixão do ídolo foi transferido para um outro salão, e o velório terminou às 16h.
Repercussão
A comoção mundial pela morte de Maradona chegou até às estrelas do rock. Bandas como U2, Queen e Oasis usaram as redes sociais para relembrar encontros com o craque argentino. Grande parceiro de Maradona no Napoli entre o final da década de 80 e início dos anos 90, o ex-atacante Careca se despediu dele publicando um vídeo de agradecimento ao “irmão” nas redes sociais.
Ao Estadão, o escritor Luis Fernando Verissimo definiu Maradona como “o melhor Pelé de todos os tempos”. (Luciana Rosa - Estadão Conteúdo)