“Faria mil vezes, se fosse preciso. Por mais que eu ame jogar e o futebol seja a minha vida, a minha família e a minha filha são tudo para mim. Não tem comparação.” Um dos reforços do São Bento para a Série A2 do Campeonato Paulista, o volante e meia-atacante Nenê Bonilha, de 29 anos, escolheu o Azulão para recomeçar após uma pausa na carreira durante o ano de 2021, de forma a acompanhar de perto o tratamento da filha Maria Luiza, de 1 ano e meio, diagnosticada com retinoblastoma no olho esquerdo. É o mesmo tipo de câncer detectado em Lua, filha do jornalista Tiago Leifert.

Em janeiro de 2021, o jogador estava no Cuiabá e se preparava para dar mais um passo na vitoriosa carreira -- que tem Palmeiras, Corinthians, Juazeirense-BA, Paulista de Jundiaí, Audax, Vila Nova-GO, Avaí-SC, Fortaleza, Cuiabá, Rio Claro e Catanduvense no currículo. Com experiência no exterior, tendo atuado no Nacional da Ilha da Madeira e no Vitória de Setúbal, ambos de Portugal, bem como no Veracruz, do México, ele havia recebido proposta de um clube do Catar, nos Emirados Árabes. Porém, na mesma época, teve a notícia sobre o problema de saúde da caçula. Ele também é pai de outra menina, Maria Eduarda, de 3 anos.

Naquele momento, Nenê não pensou duas vezes em abandonar não só os planos de voltar ao exterior mas, também, o futebol. “Falo que foi Deus que não permitiu que eu fosse. Se eu tivesse ido, estaria longe e, por causa da pandemia, não ia poder vir para cá (Brasil) e não ia descobrir essa situação da minha filha”, fala. “Não hesitei em ficar do lado dela, e vi que não era o momento de eu pensar na minha carreira ou no futebol, mas, sim, na minha filha e na minha família”, acrescenta.

Recomeço

Durante o período inativo, Nenê Bonilha foi procurado por diversas equipes interessadas em tê-lo na disputa do Brasileirão, no segundo semestre, e rejeitou todos os convites. Depois, com o avanço do tratamento da filha, decidiu aceitar, em dezembro do ano passado, a proposta do São Bento. O principal motivo foi a proximidade entre Sorocaba e a Capital, onde a menina se trata.

A estreia pelo Azulão acabou sendo postergada por duas rodadas, pois o atleta testou positivo para Covid-19 na véspera da primeira rodada. O primeiro jogo foi anteontem (3): o empate sem gols contra a Portuguesa, no Canindé, em São Paulo.

Ele se diz feliz pela oportunidade de trabalhar no Azulão e com “as melhores expectativas possíveis”. “É um clube que me surpreendeu positivamente, com bom trabalho, em uma cidade boa, com uma torcida calorosa, que me recebeu muito bem”, comenta. Ciente do objetivo de vencer a Série A2 e retornar à elite do futebol paulista, Nenê afirma, sem rodeios, estar preparado para o desafio. “Eu sempre falo que a gente tem que mirar o título. Sabemos que é muito difícil, ainda mais pelos clubes e pelos jogadores que estarão nesse campeonato, mas o meu pensamento sempre é ganhar”, destaca. Experiência de campeão ele tem -- venceu o Brasileirão em 2011, com o Corinthians, e a Série B em 2018 com o Fortaleza. “Procuro sempre alcançar o mais alto possível. Se eu não conseguir o título, é o acesso”, completa.

Ao mesmo tempo, também defende que pode aprender muito com os colegas de equipe, inclusive os mais novos, e defende a importância do trabalho em grupo. “Acredito que não serei só eu que vou trazer todas as soluções para o São Bento. O conjunto do nosso grupo é muito forte, bem unido, bacana de se trabalhar, com jogadores de qualidade, que já jogaram em clubes maiores, de divisões maiores”, pondera. (Vinicius Camargo)