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Jiu-jítsu

Entre a farda e o tatame

Policial militar, faixa-preta e multicampeão, Ronaldo Possato constrói uma carreira que une operações especiais, ensino técnico e alto rendimento no jiu-jítsu

14 de Dezembro de 2025 às 03:43
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Faixa-preta 4º grau desde 2007, Ronaldo iniciou a vida marcial no kickboxing antes de migrar para a arte suave
Faixa-preta 4º grau desde 2007, Ronaldo iniciou a vida marcial no kickboxing antes de migrar para a arte suave (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

O tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo, Ronaldo Cezar Possato Venancio, construiu uma trajetória que se divide entre o serviço à segurança pública e o alto rendimento esportivo. Ingressou na corporação em 1996 e permanece até hoje, em uma carreira marcada por operações especiais, ensino técnico e conquistas internacionais no jiu-jítsu.

Ele começou a treinar a modalidade em 1997, ainda dentro da PM e, desde então, encontrou no tatame uma ferramenta que ampliou sua capacidade física, emocional e profissional. “O jiu-jítsu faz com que o policial não dependa tanto da arma de fogo”, afirma. “Dá mais confiança e diminui o estresse em combate.”

Faixa-preta 4º grau desde 2007, Ronaldo iniciou a vida marcial no kickboxing antes de migrar para o jiu-jítsu. Formação policial e esporte caminharam lado a lado, fortalecendo seu desempenho em ambos os ambientes. Bacharel em direito, pós-graduado em direito penal e processo penal e mestre em ciências policiais, comandou unidades estratégicas como o COE e o Gate — onde implementou treinamentos diários de técnicas de menor potencial ofensivo, valorizando a defesa pessoal como disciplina central. “Dou aula de defesa pessoal em vários cursos da corporação, desde formação até operações especiais”, explica.

A atuação como instrutor ultrapassou fronteiras: ministrou treinamentos para as Forças Armadas, Polícia Federal, forças de segurança do consulado americano e policiais dos Estados Unidos. Ele também escreveu dois livros sobre táticas defensivas, um em português e outro em inglês, reforçando sua contribuição teórica e prática para o setor.

Atualmente, mantém seus treinos na Hachiman Dojô Barbosa Jiu-Jítsu Sorocaba, representando a equipe nas categorias médio e absoluto, nas quais enfrenta adversários de qualquer peso.

Conquistas e reconhecimento

Ronaldo coleciona seis cinturões internacionais: cinco da Naga (North American Grappling Association) e um da Newbreed Ultimate Challenger. Suas principais vitórias foram conquistadas na Flórida, Geórgia e Texas, regiões onde o grappling possui grande visibilidade. Competindo em solo estrangeiro, vivenciou a pressão de representar o país que revolucionou o jiu-jítsu. “Por ser brasileiro e o jiu-jítsu ter se desenvolvido muito em nosso país, muita gente ia assistir às lutas”, conta. “A pressão era enorme, principalmente contra os lutadores locais.”

Nas disputas, enfrentou adversários oriundos de wrestling, judô, sambô e outras modalidades, reforçando o valor do jiu-jítsu brasileiro. “Foi muito gratificante demonstrar a força do nosso BJJ e trazer todos esses cinturões”, recorda.

O impacto de suas vitórias ultrapassava o tatame e reverberava dentro da Polícia Militar. “O pessoal do quartel vibrava com as vitórias”, lembra. “Sempre havia muita divulgação nas mídias oficiais da PM.” Um dos momentos mais marcantes se deu quando foi homenageado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) após conquistar o Mundial de Jiu-Jítsu sem kimono — categoria disputada apenas com bermuda e rashguard.

Retorno aos combates

Após uma cirurgia no joelho, Ronaldo se recuperou totalmente e já tem planos definidos para 2026. “Ano que vem já volto forte”, projeta. A competição que marcará seu retorno será em Florianópolis, onde pretende reencontrar o ritmo do circuito competitivo.

Para além das medalhas, Ronaldo defende que o jiu-jítsu tem função social e profissional. “É importante para que mais policiais e pessoas da sociedade pratiquem artes marciais”, explica. “Ajuda em caso de necessidade em defesa pessoal e melhora aptidões físicas e psicológicas.”

Entre operações especiais, ensino técnico, formação de novos policiais e uma carreira esportiva construída com disciplina e superação, Ronaldo Cezar Possato Venancio segue representando Sorocaba, a Polícia Militar e o jiu-jítsu brasileiro com a mesma determinação que demonstrou desde o primeiro treino, quase três décadas atrás.

(Murilo Aguiar) 

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