Instabilidade
São Bento registra 12 trocas de treinador desde 2021
A média de permanência dos técnicos no Azulão é de aproximadamente 128 dias, cerca de quatro meses
O futebol brasileiro é marcado por uma cultura de instabilidade no comando técnico. Frases prontas, regras internas e tradições extraoficiais circulam amplamente entre torcedores e dirigentes. Uma delas parece consolidada: a culpa, quase sempre, recai sobre o treinador. Bastam duas ou três derrotas para que mesmo profissionais experientes ou ídolos sejam colocados em xeque. O Esporte Clube São Bento, de Sorocaba, reflete esse cenário.
Desde que o empresário Almir Laurindo assumiu a presidência do clube, em janeiro de 2021, o São Bento já contabiliza 12 trocas de comando técnico. Edson Vieira, Marcelo Cordeiro, Paulo Roberto Santos (em duas passagens), Kike Andrade, Fábio Toth, Roberto Fonseca (também em duas ocasiões), Ademir Fesan, Fabiano Carneiro (em duas etapas), Dyego Coelho — a lista é extensa e reforça a rotatividade no cargo.
Entre os nomes, Paulo Roberto Santos foi quem teve o período mais longo à frente do time, com 335 dias. Já Luiz Carlos Martins permaneceu apenas 13 dias no cargo. Considerando o período entre 1º de janeiro de 2021 e 30 de julho de 2025, ou seja, 1.672 dias, a média de permanência dos treinadores no São Bento é de aproximadamente 128 dias — cerca de quatro meses.
As trocas frequentes envolvem, além dos treinadores, mudanças em comissões técnicas, como preparadores físicos, auxiliares e fisioterapeutas. A cada movimentação, há impacto na rotina do clube, desde métodos de treinamento até o planejamento esportivo.
Panorama estadual
A cultura de mudanças frequentes no comando técnico é generalizada no futebol brasileiro. Entre os principais clubes paulistas, os números reforçam essa tendência: Santos: 14 trocas (mais sete interinos); São Bento: 12 trocas; Corinthians: dez trocas (e seis interinos); Ponte Preta: nove trocas (e três interinos); São Paulo: sete trocas (e dois interinos); Bragantino: três treinadores fixos desde 2021; Palmeiras: apenas um treinador (Abel Ferreira).
O Palmeiras é exceção à regra, mantendo Abel Ferreira no comando desde 2021. Já o Santos, que também disputa a Série A, lidera em número de trocas no período. O Corinthians teve casos curiosos, como o técnico Cuca, que ficou apenas sete dias no cargo.
No interior, o Red Bull Bragantino, com três treinadores em quatro anos, se destaca pela estabilidade. Já a Ponte Preta teve nove mudanças de comando, além de períodos com técnicos interinos.
Instabilidade técnica
A troca constante de treinadores compromete a continuidade do trabalho e dificulta a construção de uma identidade tática sólida nas equipes. Sem tempo para implementar ideias, muitos profissionais atuam sob forte pressão e com prazos curtos, o que afeta não apenas o desempenho em campo, mas também o desenvolvimento de atletas e o planejamento de longo prazo.
Esse cenário gera um ciclo vicioso: a falta de resultados leva à demissão, e a ausência de continuidade impede que resultados consistentes sejam alcançados.
No São Bento, há casos de recontratação de técnicos que haviam sido demitidos anteriormente, como Paulo Roberto Santos, Roberto Fonseca e Fabiano Carneiro. No caso deste último, a situação é peculiar: ele não chegou a ser desligado oficialmente e permaneceu como auxiliar durante a passagem de Dyego Coelho, que deixou o clube na segunda-feira (28).
Outro ponto relevante é o impacto no elenco. Sem calendário de competições durante todo o ano, o São Bento reformula seu grupo de jogadores com frequência, geralmente a cada seis meses. Como os treinadores participam ativamente das indicações de reforços, a troca precoce no comando técnico pode gerar desequilíbrios: um treinador que monta o elenco com foco defensivo pode ser substituído por outro com proposta ofensiva, herdando um grupo incompatível com sua filosofia de jogo.
Desafios para o futuro
As mudanças recorrentes também dificultam o desenvolvimento tático da equipe. Com pouco tempo de trabalho, treinadores acabam priorizando resultados imediatos em vez de estratégias duradouras, comprometendo o entrosamento e a identidade da equipe.
No caso do São Bento, o desafio é duplo: se reconectar com a torcida e buscar um projeto esportivo mais estável e sustentável. O clube sorocabano, que já viveu momentos marcantes no futebol paulista, enfrenta agora o desafio de encontrar constância dentro e fora de campo. (Vernihu Oswaldo)