Entre socos e chutes, há mais do que apenas força bruta. Existe ritmo, estratégia e uma dança marcada por disciplina e respeito. Um esporte de luta não é formado apenas por potência. Há espaço para a graça, fluidez e leveza. O kickboxing é uma arte marcial de raiz japonesa, com grande desenvolvimento nos Estados Unidos. O estilo surgiu da confluência de quatro artes marciais que já existiam anteriormente. Grande parte das técnicas vem do boxe, combinadas com os chutes do caratê, muay thai e taekwondo.

E foi assim, da leveza, que vieram quatro títulos nacionais para Sorocaba — os primeiros campeonatos femininos da cidade. O 34º Campeonato Brasileiro Oficial da CBKB foi disputado em Brasília. Na categoria creative forms, de 12 a 15 anos, Maria Júlia Egêa Cardoso foi a campeã, enquanto Tayla Pimenta dos Santos ficou com o vice-campeonato. Já na categoria musical forms, da mesma faixa etária, as duas inverteram as posições: Tayla conquistou o ouro e Maria Júlia ficou com a prata. Na categoria de 10 a 12 anos, a atleta Helena Almeida Yamaguchi conquistou o título tanto no creative forms quanto no musical forms.

As atletas são treinadas por Márcio Augusto Lopes, que também já foi campeão brasileiro e paulista. Ele afirma que, para as campeãs, isso servirá como um ensinamento: sempre correr atrás dos próprios sonhos. “Elas já sabem que pouquíssimas coisas na vida vêm da sorte ou do acaso”, acrescenta.

O treinador destaca ainda a importância desses títulos para o desenvolvimento da modalidade em Sorocaba. “É um fato quase histórico, visto que foram as primeiras atletas, as primeiras meninas, as primeiras mulheres a conquistarem um título nacional nesta modalidade, que ainda é pouquíssimo explorada e treinada em nosso país”, justifica. “Querendo ou não, o kickboxing ainda está associado unicamente à luta, ao contato. Poucos conhecem a beleza inexplorada das raízes desse esporte.”

O 34º Campeonato Brasileiro de Kickboxing foi disputado em sete categorias: full contact, low kicks, K1 styles (essas disputadas em ringue), point fight, kick light, light contact, creative e musical forms (essas em tatame). Segundo o regulamento, nas categorias de contato disputadas no tatame, só é permitido utilizar até 70% da força total.

Creative e musical forms

Em diversas artes marciais, existem sequências de golpes pré-determinadas que simulam um combate, realizadas individualmente. O praticante deve demonstrar intensidade, como se estivesse realmente em uma luta. No caratê, essas sequências são chamadas de katas; no taekwondo, são os pumsae.

No kickboxing, foi criada uma forma de homenagem a essas práticas, conhecida como forms, na qual a criatividade é valorizada. Algumas falhas, como quedas ou derrubada de armas, são penalizadas, mas, no geral, o atleta define sua própria rotina de exercícios. Existem duas variações principais: creative forms e musical forms.

Nos creative forms, o atleta tem liberdade para montar sua própria sequência de movimentos, incluindo golpes, acrobacias e elementos de diferentes estilos. Não há necessidade de música, e o ritmo é ditado pelo próprio competidor.

Já nos musical forms, as apresentações seguem o mesmo princípio de liberdade criativa, mas são realizadas com acompanhamento musical. Os movimentos devem estar sincronizados com o ritmo da música escolhida, exigindo precisão, controle e expressão artística. (Vernihu Oswaldo)