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Luto

‘Zagallo Eterno’ tem 13 letras

Presente em quatro dos cinco títulos mundiais brasileiros, o "Velho Lobo" deixa saudades aos 92 anos

06 de Janeiro de 2024 às 22:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ex-técnico e jogador da seleção tinha 92 anos
Ex-técnico e jogador da seleção tinha 92 anos (Crédito: LUCAS FIGUEIREDO / ARQUIVO CBF)

“Brasil campeão tem 13 letras”. Escutar essa frase é lembrar de Mário Jorge Lobo Zagallo. Uma das razões é o apego dele ao número 13, que surgiu com a esposa Alcina, devota de Santo Antônio (cuja data é comemorada em um dia 13). A outra é a história vitoriosa, de mais de meio século, dedicada à seleção brasileira -- dentro ou fora de campo. Simplesmente quatro dos cinco títulos mundiais da seleção amarelinha tiveram participação do Velho Lobo: dois como atleta, um como técnico e um como coordenador técnico.

Mário Jorge Lobo Zagallo morreu às 23h41 de anteontem (5). O Velho Lobo, tetracampeão mundial como jogador, técnico e auxiliar técnico com a Seleção Brasileira, tinha 92 anos. O Hospital Barra D’Or, onde o ídolo estava internado desde o final do ano passado, comunicou que ele não resistiu a uma falência múltipla de órgãos resultante de progressão de múltiplas comorbidades previamente existentes.

Zagallo era alagoano de Atalaia, nascido em 8 de agosto de 1931. Antes de completar um ano, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde foi aprovado para o time infantil do América. Antes de brilhar no Flamengo, onde foi tricampeão carioca (1953 a 1955), foi recrutado pelo Exército e, em 1950, trabalhando como segurança no Maracanã, viu de perto o uruguaio Alcides Ghiggia adiar o sonho do então inédito título mundial brasileiro. História que o então soldado Zagallo ajudaria a mudar anos depois.

Zagallo vestiu a amarelinha em 36 ocasiões e marcou seis gols. Um na final da Copa do Mundo de 1958, na vitória por 5 a 2 sobre a anfitriã Suécia, estampando a primeira estrela no peito brasileiro.

Foi também em 1958 que a passagem de Zagallo pelo Flamengo chegou ao fim, com a mudança para o Botafogo. Foram sete anos na Estrela Solitária, ao lado de Nilton Santos, Didi e Garrincha. Foi também vestindo a camisa alvinegra que o ponta-esquerda ajudou o Brasil a erguer a taça Jules Rimet pela segunda vez, em 1962, no Chile.

Zagallo deixou os gramados aos 34 anos, iniciando a carreira como treinador. Em 1966, assumiu justamente o Botafogo, sendo bicampeão carioca (1967 e 1968) e conduzindo o Glorioso ao primeiro título brasileiro, em 1968.

Como treinador

Às vésperas da Copa do Mundo de 1970, o Velho Lobo foi chamado para comandar o Brasil na Copa do Mundo do México, no lugar de João Saldanha. Com Gérson, Rivellino, Tostão, Pelé e Jairzinho, todos camisas 10 nos respectivos clubes, a seleção conquistou o tri.

Após dirigir o Brasil na Copa de 1974, Zagallo passou por diferentes clubes e países (Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), até retornar à seleção em 1991, como coordenador técnico. Ao lado de Carlos Alberto Parreira, fez parte da comissão do tetracampeonato mundial, sendo escolhido para suceder o treinador campeão.

A nova passagem à frente da amarelinha teve momentos amargos, como a eliminação na semifinal da Olimpíada de Atlanta (Estados Unidos) para a Nigéria, mas também de conquistas, como a da Copa das Confederações e da Copa América, ambos em 1997. Esta última foi especial, por ser a primeira do Brasil longe de casa. Após derrotar a anfitriã Bolívia na final, por 3 a 1, na altitude de La Paz, o Velho Lobo disparou contra os críticos a famosa frase: “Vocês vão ter que me engolir!”.

O vice-campeonato mundial na França, em 1998, deu fim à segunda passagem de Zagallo no comando da seleção brasileira. Retornou em 2002, novamente como coordenador técnico, em nova parceria com Parreira. O adeus nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, foi também o último trabalho do Velho Lobo, aos 75 anos.

Foram 135 partidas à frente do Brasil, com 79,7% de aproveitamento, sendo o treinador com mais jogos no comando da seleção. Como coordenador, ele participou de outros 72 jogos (65,7% de aproveitamento). 

Corpo será velado hoje, no Rio

O velório de Zagallo será na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, a partir das 9h30 de hoje (7). A solenidade será aberta ao público. O sepultamento ocorrerá às 16h, no Cemitério São João Batista.

A CBF decretou luto de sete dias. “A CBF e o futebol brasileiro lamentam a morte de uma das suas maiores lendas, Mário Jorge Lobo Zagallo. A CBF presta solidariedade aos seus familiares e fãs neste momento de pesar pela partida deste ídolo do nosso futebol”, manifestou-se a entidade, em nota. A Confederação Sul-Americana de Futebol, a Conmebol, ressaltou que o ex-jogador foi o único tetracampeão mundial como jogador, técnico e assistente.

“Tive a honra de aprender muito contigo”, disse o ex-jogador Branco, tetracampeão mundial com a seleção brasileira em 1994, nos Estados Unidos. “Obrigado por tudo mestre. Descanse em paz!”, escreveu Ronaldinho Gaúcho. O lateral Roberto Carlos também se despediu: “Obrigado sempre, mestre Zagallo.” Ídolo do Flamengo, Zico disse: “O Brasil perdeu um dos maiores nomes da história de seu futebol, Zagallo. Campeoníssimo e que tive o prazer de trabalhar no início e final de minha carreira no Flamengo e ainda na Copa de 98. Que ele descanse em paz e Deus conforte seus familiares. O Brasil e o futebol agradecem.” (Da Redação, com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)