História que se perde
Oficinas de Vagões sofrem com o abandono em Sorocaba
Sem conservação, complexo ferroviário na área central da cidade, provoca insegurança e reclamações
O complexo ferroviário formado pelas antigas Oficinas de Vagões, Carros e Locomotivas da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) é um importante recorte histórico da cidade. Durante décadas, a área abrigou um dos maiores e mais movimentados centros ferroviários do País, onde centenas de profissionais trabalhavam diariamente para manter os trens em funcionamento.
Hoje, no entanto, o cenário é bem diferente. Abandonado desde 2016, quando foi desativado pela empresa Rumo Malha Oeste S/A, o complexo vem sofrendo com a ação do tempo e do descaso. O que antes era um local vivo e movimentado, hoje se parece mais com um cenário pós-apocalíptico, onde o matagal tomou conta e as construções históricas foram deixadas à própria sorte. Esse abandono tem trazido consequências negativas para a região, como a presença de usuários de drogas e criminosos que se escondem entre os escombros em busca de abrigo.
Durante uma conversa com a equipe de reportagem, alguns profissionais que trabalham próximo ao complexo ferroviário relataram que os furtos nas antigas oficinas são recorrentes. Sem se identificar, um deles mencionou que “coisas absurdas” acontecem no local, e não é preciso procurar muito para constatar isso.
O muro do complexo está quebrado em diversos pontos, permitindo a entrada de criminosos para furtar os materiais das oficinas e cometer outras atividades ilícitas. “Eles entram por todo lado aqui. Se enfiam no meio do mato. Falta segurança, né? Tem uma escola aqui perto, e isso acaba sendo um descaso (para a comunidade)”, disse o profissional que preferiu não se identificar.
A escola municipal Matheus Maylasky está localizada na rua Hermelino Matarazzo, bem próxima ao complexo ferroviário abandonado, que fica na rua Paissandu. Segundo informações apuradas pela reportagem, os alunos evitam passar pelo local devido à sensação de insegurança que ele transmite. Murilo Pedroso, de 26 anos, trabalha como vigilante na unidade educacional e já presenciou situações preocupantes na região.
“Hoje mesmo, dia 21, tentaram furtar o celular de uma mulher. Ela chegou aqui desesperada, dizendo que o criminoso entrou no mato. É muito perigoso ter uma escola em meio a um matagal abandonado. A maioria dos usuários sabe que aqui não há câmeras de segurança, então eles vêm e fazem o que querem. As pessoas dizem para evitar passar por aqui, mas o certo seria tomar providências para resolver essa situação, como limpar a área e aumentar a segurança”, afirmou Pedroso.
O que diz a Rumo
Em nota, a Rumo informou que as ocorrências de furto e vandalismo são comunicadas imediatamente às autoridades policiais. Conforme a concessionária, denúncias e sugestões podem ser feitas pelo número 0800 701 2255. “A empresa mantém equipes de vigilância que fazem fiscalizações nas áreas sob sua responsabilidade para tentar coibir esses atos”, destacou a empresa.
Prefeitura está ciente
A Prefeitura de Sorocaba informou que está ciente da situação no complexo ferroviário e que a Guarda Civil Municipal (GCM), em conjunto com outras forças policiais do município, está acompanhando de perto a região central da cidade, incluindo o entorno do complexo ferroviário. No entanto, o complexo está sob jurisdição federal e sob concessão de empresa particular, o que significa que o município não tem a autoridade para realizar ações permanentes no local.
“A GCM mantém equipes atuantes 24 horas por dia, realizando o patrulhamento preventivo aos espaços e próprios públicos, com vistas à segurança do patrimônio e, principalmente, da população. Todas as regiões da cidade recebem esse patrulhamento, assim como a região central. As rondas são constantes e a GCM intensificou, ainda mais, esse patrulhamento no Centro”, afirmou o Poder Executivo.
Planos para o futuro
A Prefeitura também destacou que tem planos para uso de parte da área ferroviária. Segundo a administração municipal, a Secretaria de Cultura (Secult) já recebeu protocolos de intenções para destinação cultural de uso, inclusive, das antigas oficinas. No momento, a Secult mantém tratativas avançadas com a Superintendência de Patrimônio da União (SPU), para viabilizar o recebimento da área pelo Município para, assim, a Prefeitura estar legitimada a agir nesse sentido.
Os prédios do complexo são tombados como patrimônio histórico. O tombamento existe tanto na esfera municipal (pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico -- CMDP), como na estadual, com reconhecimento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo -- Condephaat.
Por outro lado, a Rumo informou que o destino da operação ferroviária e do complexo de oficinas de Sorocaba só será definido após a conclusão da relicitação da Malha Oeste. “A análise do projeto está em curso, após ter sido aprovado pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), e encontra-se em fase de estudos e o prazo de conclusão dos levantamentos necessários é até 2025. A relicitação abre caminho para que o poder concedente promova nova licitação, com um novo concessionário assumindo a malha, ou mesmo para que o formato dessa concessão possa ser remodelado pelo governo”, afirmou a concessionária.
Por sua vez, a Secretaria de Mobilidade (Semob) aguarda a definição de projeto para instalação do trem intercidades, entre São Paulo e Sorocaba, bem como a definição técnica de uso da área ferroviária que corta a cidade e que será utilizada pelo Governo do Estado no empreendimento. (Wilma Antunes)
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