Luto
‘Rei morto que não vai ter posto’
O Rei do Futebol foi responsável por despertar a paixão pelo esporte em José Desidério, um dos nomes históricos do rádio brasileiro. No dia 30 de outubro de 1963, um diretor da rádio Cacique pediu que Zé fosse, como repórter, cobrir o jogo do Santos contra o São Bento no antigo estádio Humberto Reale -- atualmente utilizado pelo Azulão como centro de treinamento. Embora ele gostasse mesmo da narração, topou o desafio.
Zé pediu 200 metros de fio para poder ficar mais solto no campo e, quem sabe, conseguir uma entrevista com o Rei. “Fiquei do outro lado do campo, e pensei: ‘se der sorte, o Santos vem fazer aquecimento aqui’. O Pelé veio e deu uma arrancada no aquecimento na minha direção. Eu pedi uma entrevista, mas ele pediu para eu esperar um ‘momentinho’, que depois ele vinha. Eu achei que ele não fosse voltar”, disse.
O repórter estava enganado. Após o jogo -- que o São Bento ganhou por 3 a 1, -- um grupo de jornalistas cercou Pelé para entrevistá-lo. O craque pediu licença e foi até Zé Desidério. “Eu estava com um punhado de flâmulas da rádio Cacique na mão para distribuir. Entreguei tudo na mão dele. Foi a minha primeira entrevista fantástica. Fiquei muito feliz”, relembrou.
Depos disso, Zé teve a oportunidade de entrevistar Pelé outras duas vezes. A segunda ocasião foi na Vila Belmiro, em 1973. Fazia frio e Pelé estava saindo do meio-campo quando Macedo, mordomo e massagista do Santos, jogou um agasalho em cima do atacante. O repórter, que estava na espreita em cima de um cano, pediu uma entrevista assim que viu o jogador.
Ao ver aquele homem encolhido de frio, Pelé ofereceu seu agasalho e pediu para que Macedo desse uma camisa número 10 para Zé Desidério. A última entrevista com o Rei do Futebol foi em 1979, em uma mesa redonda da rádio e TV Gazeta. Foi nesse dia que Pelé assinou a carteira profissional de Zé Desidério.
“Não tive dúvidas. Peguei a caneta do colega e ele fez um autógrafo na minha carteira profissional. Os caras morreram de dar risada. Naquela época era proibido ter rasuras nesses documentos”, disse. Zé Desidério considera Pelé seu ídolo e, durante a entrevista, fez questão de corrigir um dito popular: “Pelé é o unico rei morto que não vai ter (rei) posto. Ele é insubstituível”, finalizou. (Wilma Antunes)
Galeria
Confira a galeria de fotos