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Há 65 anos

José Catto é a história viva da várzea

Ex-atleta é o último remanescente do CA Pinheiros de 1957, o primeiro campeão varzeano de Sorocaba

02 de Julho de 2022 às 00:01
Cezar Ribeiro [email protected]
"É uma coisa fantástica, o primeiro campeonato varzeano e ninguém se lembra disso?", lamenta. (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (23/5/2022))

O ano de 1988 marcou um ponto importante na linha do tempo do futebol varzeano de Sorocaba. De um lado, o primeiro campeão da história encerrava as suas atividades oficiais como time de futebol. Por outro, nascia o último vencedor. São eles o CA Pinheiros e o AA Vila Helena, respectivamente.

A pandemia suspendeu a Taça Cidade de Sorocaba -- atual nome da primeira divisão -- por dois anos. O Vila Helena conquistou os últimos títulos consecutivamente: tricampeão em 2017, tetra em 2018 e penta em 2019, na manhã do dia 22 de dezembro, quando venceu o Enquadros nos pênaltis, por 5 a 4, depois do 1 a 1 no tempo normal. O campeonato será retomado este ano, no mês de agosto.

Na outra ponta dessa história, em uma tarde de setembro de 1957, era decidida a final do primeiro campeonato varzeano. Depois de três empates em partidas finais, no dia 22, às 15h10, no estádio do Clube Atlético Votorantim, o Pinheiros e o Congregação Santa Terezinha entravam em campo para decidir quem ergueria a primeira taça da história. Ao vencer por 5 a 2, o Pinheiros se consagrou como o primeiro campeão varzeano de Sorocaba.

No ano em que o Pinheiros foi fundado, em primeiro de maio de 1945, José Catto tinha 13 anos. Começou a jogar quando completou 18 e, junto com seus irmãos, Mauro e Celso, elencou o time que seria o primeiro a vencer o varzeano. “Vivo só tem eu, os demais faleceram todos. Eu era lateral-direito ou meio-campo. É uma coisa fantástica, o primeiro campeonato varzeano e ninguém se lembra disso? Foi uma festa! A torcida lotou o estádio. Eu só não joguei a última partida porque tinha quebrado o nariz e não deu para jogar, então minha noiva e eu fizemos um bolo para o time que foi campeão em 57. Era uma delícia, uma confraternização que eu nunca vi, pareciam todos irmãos”, recorda-se.

Com a voz carregada de emoção, José ainda se lembra das cidades que o time ia jogar naquela época: “Muitas vezes íamos jogar fora. Piedade, Laranjal Paulista, Itu, etc. Nós íamos de caminhão, não era de ônibus, ninguém reclamava, o pessoal era divertido mesmo. Meu time era muito conhecido, todos da rua Campos Salles eram torcedores fanáticos”.

Na Vila Assis, a sede do Pinheiros ainda resiste -- apesar dos imprevistos que permearam a história do time. “Tem um rapaz lá, ele precisa pagar todos os impostos, por isso precisa ter uma renda, então ele vende algumas coisinhas, tem uma mesinha de snooker que vão jogar e pagam. Tudo isso ajuda ele a manter o lugar”, completa José. O “rapaz” a quem José se refere é André Honório, filho de Francisco Honório, um dos fundadores do CA Pinheiros.

Resistência

Pinheiros de 1957 foi o primeiro campeão varzeano de Sorocaba. - FÁBIO ROGÉRIO (23/5/2022)
Pinheiros de 1957 foi o primeiro campeão varzeano de Sorocaba. (crédito: FÁBIO ROGÉRIO (23/5/2022))

De um terreno em meio a um brejo, nasceu em 1963 a sede do CA Pinheiros, na rua Campos Salles, nº 495. Uma vaquinha entre os diretores e conselheiros do clube possibilitou a construção do espaço. O feito se deve muito a dois nomes -- pai e filho. Luiz Martini foi um dos fundadores e seu filho, Oscar, integrante do clube desde 1961, reassumiu a diretoria do Pinheiros de 1993 até o ano de seu falecimento, em 1998.

Há 28 anos cuidando do patrimônio memorial do time, André fala da importância dos Martini para a história do clube. “O ‘baluarte’ do clube foi o senhor Oscar Martini, o pai dele era o senhor Luiz e foi ele quem ajudou a fundar o Pinheiros. Ele tinha uma olaria e com uma máquina aterrou o brejo e fez esta sede em 1963, seis anos depois do campeonato de 57. O senhor Luiz faleceu em 97 e o senhor Oscar em 98”. André também se lembra do amor que o senhor Chico, como era conhecido o seu pai, tinha pelo clube. “Meu pai era muito ligado nisso aqui, largava casa, largava tudo para estar aqui.”

Marcelo Caldeira é o presidente do clube desde 1998 e sua história com o time é antiga, chegando a jogar no Pinheiros na década de 80. Assumiu a presidência do clube após a morte de Oscar Martini. “Todos os membros da diretoria faleceram, mas antes me pediram para ‘nunca deixar o CA Pinheiros cair’ e eu fiquei com essa incumbência de tocar o ‘Pinheirinho’. Sou vizinho da sede, coloquei o André ali para os bandidos não invadirem. Nos reunimos lá para tomar uma cerveja e jogar um truquinho, assim vamos tocando e para o André pagar as contas do clube ele toca a loja de móveis usados”, conta Marcelo.

Em 65 anos, quase tudo mudou no esporte

André Honório é o "guardião" da memória pinheirense. - CEZAR RIBEIRO (7/6/2022)
André Honório é o "guardião" da memória pinheirense. (crédito: CEZAR RIBEIRO (7/6/2022))

As lembranças ainda são vivas na memória dos remanescentes daquela época. Olhando as fotografias penduradas que enfeitam as paredes na sede do clube, André Honório faz uma retrospectiva dos tempos em que ainda era uma criança e acompanhava os jogos. “O caminhão saia aqui da frente, o time se jogava em cima dos bancos de tábua e íamos para Salto de Pirapora, Votorantim e Piedade. A gente tomava chuva e sol, eu tinha uns 12 anos. O Pinheiros chegou a jogar até na divisa do Paraná, com direito a fiança e sempre lotava os campos. Para Angatuba e Itararé nós fomos de trem, o time inteiro”, conta.

José Catto também guarda na lembrança os bons momentos daquela época, de tempos e lugares que só existem na memória. “Naquele tempo, no rio que passa em Sorocaba, aquela ponte do Pinheiros era de madeira. Muitas vezes, no sábado, não tinha jogo e a gente ia no rio logo de manhã se divertir. Tinha aquelas árvores na beira do rio, a gente amarrava uma corda e brincava o dia inteiro, fazia churrasco, era ótimo. Eu me lembro que a gente tomava água no rio Sorocaba. Eu sempre bebia água lá quando a gente ia”, lembra José. (Cezar Ribeiro - programa de estágio / Supervisão: Eric Mantuan)

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