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Superação

Após derrotar o câncer, garoto retoma carreira na base do Magnus

18 de Agosto de 2021 às 00:01
Marina Bufon [email protected]
Vinicius Vestina Dias.
Vinicius Vestina Dias. (Crédito: CORTESIA)

A vida do atleta Vinicius Vestina Dias, então com 16 anos, virou de cabeça para baixo no início de 2019. Prestes a acertar contrato com um time de futebol brasileiro de campo, ele descobriu um câncer na região do cerebelo, parte do cérebro relacionada ao equilíbrio, e teve que deixar seu sonho de lado para realizar o tratamento da doença.

“Eu sempre joguei bola, era volante, estava em um time de Sorocaba mesmo e, no fim de 2018, comecei a me queixar de dor de cabeça, estava tendo bastante tontura e me desequilibrando muito fácil. Meus pais acharam que podia ser o calor, o sol, porque a gente nunca imagina que seria algo desse tamanho”, iniciou o jogador, hoje, curado, com 19 anos.

Vinicius fez uma série de exames com diversos especialistas. Em uma ressonância realizada, o neurologista confirmou a doença. “É um tumor, vamos ter que abrir a sua cabeça. Ficou vivo, ficou. Morrer, morreu. Ele foi bem frio mesmo. Meu mundo caiu, a gente fica sem reação, não é uma notícia que a gente recebe todos os dias. Eu e minha mãe choramos na frente do médico”.

Depois disso, o jogador teve que dar uma pausa na carreira para se dedicar ao ano mais difícil de sua vida: primeiro foi realizada a cirurgia para retirada do tumor (com sucesso) e, após isso, realizou 30 sessões de radioterapia e seis ciclos de quimioterapia. Tudo durou exatos 12 meses -- do diagnóstico até o fim do tratamento.

Após cirurgia aos 16 anos, Vinicius Vestina Dias fez reabilitação em ONG e voltou a jogar. - CORTESIA
Após cirurgia aos 16 anos, Vinicius Vestina Dias fez reabilitação em ONG e voltou a jogar. (crédito: CORTESIA)

Visando sua recuperação também na parte esportiva, Vinicius procurou, após indicação de um amigo, a ONG norte-americana Maple Tree, localizada em Sorocaba. A instituição é voltada à reabilitação de pacientes oncológicos por meio da atividade física e funciona de forma totalmente gratuita.

“Eles são profissionais muito sérios e qualificados, são as pessoas mais empáticas do mundo. A forma como eles nos tratam é sensacional. Comecei meu tratamento na Maple no fim da quimioterapia e hoje já não estou mais lá, mas sinto muitas saudades”, disse.

A Maple está em Sorocaba há dois anos, vinda dos Estados Unidos, onde existe há dez. Atualmente, são cerca de 60 pessoas em atendimento regular em duas unidades, no Campolim e na Faculdade de Educação Física de Sorocaba (Fefiso). A boa notícia é que está prevista a abertura de mais dois locais no segundo semestre de 2021, ou seja, a ONG vai dobrar sua capacidade de atendimento.

“Hoje, infelizmente temos fila de espera, porque esse serviço é único no país, mesmo com a ampliação. O nosso objetivo é que as pessoas entendam que a atividade física é importante na reabilitação desse paciente, independente do tipo de câncer e se você é atleta ou não”, explicou a médica mastologista e diretora da Maple, Alice Francisco.

Todos os pacientes treinam gratuitamente duas vezes por semana, com, no máximo, dois alunos por hora, além de orientações para exercícios em casa. Antes, durante e depois das atividades há acompanhamento de pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de oxigênio.

É necessário, ainda, que o paciente oncológico regular tenha autorização médica para participar do programa, com permanência de 12 a, no máximo, 48 semanas dentro da instituição. Para mais informações e cadastro de fila de interesse, basta acessar o site da ONG.

“Nos primeiros treinos ele tinha muita dificuldade para caminhar, tanto é que os exercícios iniciais eram de baixa complexidade. A evolução foi extraordinária: para quem fazia esteira com velocidade 3,5 km/h, terminar correndo a 15 km/h é uma grande diferença”, disse o educador físico João Luiz Lopes de Moura, que acompanhou Vinicius durante sua passagem pela instituição.

De volta ao Magnus

A história de Vinicius e sua família sempre andou de mãos dadas com o Magnus, atual campeão invicto da Liga Nacional de Futsal (LNF). Ele treinava por lá desde os dez anos de idade, mas, com a doença, precisou dar uma pausa. Com seu trabalho na Maple, acabou retornando aos treinamentos após ter encontrado as “portas abertas de sempre” de Edmilson Bueno, coordenador das categorias de base da equipe (do sub-8 ao sub-18).

“Ele já era atleta nosso, menino bom, bom jogador e muito dedicado. Agora ele treina de duas a três vezes por semana, fica bem à vontade, porque a gente sabe que ele está voltando. A cabeça pensa como ele pensava, mas nem sempre fisicamente ele está acompanhando. Tenho certeza que ele vai galgar algum time ainda, não sei se vai ser com a gente, mas gostaria que fosse”, comentou Edmilson.

Curado e com portas abertas no futsal, Vinicius pensa, além da carreira de jogador, em seguir outro sonho: ser advogado. “Meu planejamento é continuar com os treinos no Magnus e, no ano que vem, quero entrar em uma faculdade de Direito. Sempre gostei muito de ler, meus tios são advogados e sempre foi uma área que me interessou bastante”, finalizou.

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