De sonho a pesadelo
Boxeador sorocabano defende cinturão peso-pena da WBO. Crédito da foto: Fábio Rogério (5/3/2021)
De ponto alto na carreira, a defesa de cinturão do boxeador Paulinho Soares, que seria ontem (1º) em Los Mochis, no México, passou a ser um grande problema para o pugilista peso-pena radicado em Sorocaba e que representa o São Bento. Barrado na imigração, ele permaneceu 24 horas retido no aeroporto da Cidade do México e ainda teve o celular confiscado. Como se não bastasse, perdeu o título sem sequer ter a oportunidade de subir ao ringue, já que o evento foi mantido pela Organização Mundial de Boxe (WBO), beneficiando o anfitrião Alan Solis.
Paulinho se preparava para o combate há aproximadamente dois meses, desde que o contrato foi assinado. A expectativa era grande. “Iria ser minha primeira luta internacional fora do Brasil. E por ser lá na casa do adversário, iria me subir no ranking e me dar visibilidade fora do País. A nível profissional, iria abrir as portas fora do País”. Na quarta-feira (28), ele, o treinador Paco Garcia e Mike Miranda, representante do Conselho Nacional de Boxe (CNB), embarcaram em Guarulhos para o México. No desembarque, cada um foi encaminhado para um guichê de imigração, onde começaram os problemas.
“Apresentei a reserva do hotel, passagem de volta, informação da luta. Eles pegaram e falaram para eu ir até o guichê do lado. O meu técnico eles não pararam, ele passou direto”, relata. Dali, Paulinho e Mike Miranda foram encaminhados a uma sala com mais pessoas para aguardarem uma entrevista que nunca aconteceu. “A implicação foi deixar a gente detido por 24h em uma cela, encarcerado”, denuncia.
“Quando eu fui conversar, eles foram bem ignorantes e me mandaram sentar. Não faço ideia do porque isso pode ter acontecido”, afirma. Embora inicialmente tenha atribuído o caso à pandemia da Covid-19, Paulinho relata que não sabe o real motivo. “Pode ser que seja pelo coronavírus ou qualquer outra coisa. Eu iria lutar com um adversário do país deles”, lembra. O lutador ainda teve o celular apreendido na sala onde seria a entrevista. “Daí em diante ninguém da minha família teve notícias. A mala que despachei ficou na companhia aérea, rodando na esteira. A mala de mão tomaram também. Fiquei só com a roupa do corpo, com o tênis no pé sem cadarço na cela”.
Humilhação
Paulinho Soares afirma que se sentiu humilhado e teve de ficar em uma sala com sete beliches, junto de outros brasileiros, indianos e quenianos. “Lugar pequeno, apertado. Havia comida, bebida, água, mas foram 24h ali dentro. Porta trancada, detenção mesmo. Mandaram tirar objetos do corpo, até o cadarço do tênis. Uma humilhação tremenda”, relata.
Como viajou antes, o sorocabano ainda tinha a esperança de que tudo fosse resolvido e ele pudesse lutar. “A todo momento eu já achava que iriam rastrear a gente, e que eu ainda iria lutar. Eu viajei nove horas, em jejum, sem comer, mantendo o peso, para poder lutar. Quando eu vi que foi passando o tempo, virou o dia, aí pensei que acabou mesmo. Diante de tudo que estava acontecendo, a melhor opção era voltar para o Brasil. Fiquei preso no aeroporto por 27 horas.”
Mas o “perrengue” não havia terminado com o retorno a Guarulhos. De volta ao Brasil, ele descobriu que perdeu o cinturão sem nem subir no ringue. “De campeão, passei a desafiante pelo título. Se isso acontecer, o que eu quero mesmo é ter a chance de lutar e bater naquele moleque. Não quero indenização por nada. Eu sei que imigração é terra que ninguém manda, então o que eu quero mesmo é a chance de lutar pelo título e ganhar dele”, reivindica. (Eric Mantuan e Jéssica Nascimento)