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Com clássico e sem torcida, futebol volta na Alemanha

17 de Maio de 2020 às 21:19

O meia croata do Bayern de Munique, Ivan Perisic (R), e o defensor austríaco da Union Berlin, Christopher Trimmel, disputam a bola durante o jogo de futebol da Bundesliga da primeira divisão alemã. Credito da foto: Hannibal Hanschke / AFP / POOL

 

Sem jogos há dois meses, o mundo do futebol viveu neste domingo (17) na Alemanha um clássico sem torcida por causa da pandemia do novo coronavírus, que parece dar uma alívio a Espanha, Reino Unido e Itália, enquanto avança sem trégua na América Latina.

Depois de dois meses de confinamento, em muitos países - em particular na Europa -, as restrições foram aliviadas neste fim de semana. Com isso, torcedores de futebol puderam se sentar em frente à televisão para reviver velhas sensações, ou sair para tomar uma bebida e, para os mais privilegiados, até molhar os pés na água do mar.

A Bundesliga foi o primeiro grande campeonato a ser retomado. Depois dos jogos de ontem, o Bayern de Munique, líder da competição, voltou a campo neste domingo e venceu por 2 a 0 o Union Berlim em um jogo sem público, sem apertos de mão e sem crianças acompanhando os jogadores.

Mais de cinco meses após seu surgimento na China, a pandemia que colocou a economia mundial em xeque segue sua corrida mortal, embora em três dos países mais afetados neste fim de semana o número de mortos foi o mais baixo desde que foram impostas as medidas de confinamento.

Tanto Itália, quanto Espanha e Reino Unido, que registraram respectivamente 145, 87 e 170 óbitos nas últimas 24 horas, pareciam ver a luz no fim do túnel neste domingo. É preciso, no entanto, levar em conta que estes números de fim de semana podem estar incompletos, como já aconteceu no passado.

A África do Sul, ao contrário, anunciou neste domingo 1.160 novos contágios, o balanço diário mais alto dede 1º de março, quando começaram os registros. Enquanto isso, na América Latina, o Brasil superou a barreira das 16.000 mortes e os 240.000 casos neste domingo.

Os especialistas consideram que as estatísticas ocultam uma realidade muito mais trágica, enquanto o presidente Jair Bolsonaro continua a criticar o confinamento decretado por alguns governadores. "Desemprego, fome e miséria serão o futuro daqueles que apoiam a tirania do isolamento total", tuitou o presidente.

Neste domingo, Bolsonaro voltou a participar de um ato em Brasília, acompanhado por vários de seus ministros. Usando máscara, cumprimentou centenas de seguidores que se aglomeraram em frente ao Palácio do Planalto para apoiá-lo.

A região da América Latina e Caribe superou os 508.000 casos de contágio e dos 28.700 mortos por Covid-19.

 "Ficar para trás"

Nos Estados Unidos, o país mais afetado, com quase 90.000 óbitos, onde aumentam as críticas ao presidente Donald Trump por sua gestão da pandemia, a Casa Branca criticou duramente o trabalho dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), aos quais culpou por atrasos iniciais do país na detecção da Covid-19.

"No começo da crise, os CDC, que desfrutavam da maior reputação nesta área em nível mundial, realmente decepcionaram o país nas testagens", declarou o assessor econômico da Casa Branca, Peter Navarro, à emissora NBC.  "Além disso, conceberam um teste ruim. E isso nos fez ficar para trás", acrescentou.

Na Europa, milhões de pessoas aproveitam seu primeiro fim de semana de relativa liberdade. A França abriu muitas praias. Várias delas foram literalmente inundadas de pessoas ansiosas para dar um mergulho depois de dois meses em casa.

"Eu realmente senti falta da praia. Estávamos apenas esperando por isso: o anúncio da reabertura!", celebra Nathanael, de 28 anos, em Saint-Malo (oeste).

Neste país que registrou mais de 28.100 mortes, as viagens ainda são limitadas a um raio de 100 quilômetros de casa, e as praias são reservadas para atividades "dinâmicas", sem a possibilidade de se deitar na areia para pegar sol.

- "Risco calculado" -

A Grécia também abriu suas praias particulares, mas com a condição de que sejam respeitadas algumas instruções estritas, como a proibição de colocar um guarda-chuva a menos de quatro metros de seu vizinho. As praias públicas abriram em 4 de maio.

No Reino Unido, que totaliza 34.600 mortes por COVID-19, as pessoas correram para os parques, dificultando o respeito às medidas de distanciamento social, no primeiro final de semana de flexibilização do confinamento.

A Itália (mais de 31.900 mortos), muito dependente do turismo, anunciou a suspensão da quarentena obrigatória para todos os visitantes estrangeiros e a reabertura das fronteiras para todos os turistas da União Europeia a partir de 3 de junho. "Enfrentamos um risco calculado, sabendo que a curva epidemiológica pode subir de novo", afirmou o primeiro-ministro, Giuseppe Conte.

A Espanha, onde foram registradas 27.650 mortes, pretende reabrir suas fronteiras aéreas para espanhóis e residentes na Espanha. Anúncios unilaterais de reabertura de fronteiras estão em debate na União Europeia, cuja Comissão deseja uma reabertura "concertada" e "não discriminatória" de fronteiras internas.

O fato de proceder unilateralmente "não fortalece o que devemos fazer para trabalhar em solidariedade", defendeu o ministro francês do Interior, Guillaume Castaner.

Vigilância na China

A Grécia também suavizou as restrições nas fronteiras para facilitar a chegada de mão de obra estrangeira essencial para a agricultura, especialmente no caso dos vizinhos albaneses, que não são membros da UE. "Sem os albaneses, não teríamos nem um pêssego", diz Panagiotis Gountis, agricultor de Veria, no norte do país.

Já a Noruega precisou abrir mão de atos previstos para este 17 de maio, dia de sua Festa Nacional, no qual muitos noruegueses se contentaram em cantar o hino de suas varandas.

A Índia prolongou em duas semanas as medidas de confinamento, até 31 de maio, mas revelou que algumas emendas poderão ser aprovadas para "facilitar a atividade econômica".

Na Nova Zelândia, a primeira-ministra Jacinda Ardern não conseguiu entrar em um café, devido às regras de distanciamento social definidas por seu governo. Ela queria tomar um café com um grupo de amigos na capital, Wellington, mas foi impedida. O local já havia atingido o número máximo de pessoas permitido.

Neste domingo, o Catar começou a aplicar as sanções mais severas do mundo contra pessoas que não usarem máscara de proteção em público. O infrator pode ser condenado a até três anos de prisão e a multas de mais de 50.000 euros.

Em todas as partes do mundo, vigilância é a palavra de ordem, enquanto se espera uma possível vacina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta regularmente contra o risco de uma segunda onda de infecções.

Na China, onde o coronavírus estava sob controle, as autoridades levam essa possibilidade muito a sério.

"Enfrentamos um grande desafio", disse à CNN Zhong Nanshan, um dos principais assessores do Ministério da Saúde, observando que uma "maioria" de chineses "provavelmente será infectada" no futuro.

Zhong também reconheceu que as autoridades de Wuhan, o epicentro da pandemia, ocultaram a amplitude da pandemia quando ela surgiu no final de dezembro.

Nesta segunda-feira (18), os 194 Estados-membros da OMS farão uma reunião por teleconferência para tentar coordenar a resposta à pandemia, um compromisso sob a ameaça de um confronto direto entre Washington e Pequim. (Christophe Beaudufe e José Vicente Bernabeu - AFP)