Adiamento das Olimpíadas gerou alívio
Pandemia prejudica esportes. Pela primeira vez na história os Jogos Olímpicos foram adiados. Crédito da foto: Philip Fong / AFP
A pandemia do novo coronavirus causou uma mudança na rotina de todo o mundo. E os impactos nos esportes não foram pequenos. As incertezas pairam sobre qual será o futuro das atividades esportivas em meio às paralisações.
Um dos maiores resultados em função da crise mundial foi o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que ocorreriam entre julho e agosto de 2020, para 2021. Pela primeira vez na história, a competição foi adiada.
Em 1916, 1940 e 1944, as Olimpíadas foram canceladas, por conta das duas grandes guerras mundiais. Um período inédito para todos os envolvidos, com consequências enormes, inclusive no psicólogico dos principais atores: os atletas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia mundial no dia 11 de março, o Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou que os Jogos seriam adiados em 24 de março. Um período de ansiedade gerada no mundo esportivo.
A postergação da competição era algo inevitável, já que muitas modalidades ainda não conheciam todos os seus competidores. Para alguns, a medida trouxe um certo alívio, como explica a psicóloga Laís Yuri, especialista em psicologia esportiva.
“Por muitas partes, um certo alívio. Já tinham parado de treinar, já tinha atrapalhado de qualquer forma a periodização de treinamentos para as Olimpíadas. Então, eles estariam muito mais preocupados se mantivessem os Jogos”, avalia.
Como é o caso da sorocabana Priscilla Stevaux, que ainda sonha em conquistar uma vaga para representar o Brasil no BMX. Em 2016, a ciclista esteve nos Jogos do Rio. Para estar em Tóquio, ela ainda brigava por uma posição.
“Muitas modalidades, como no meu caso, não concluiriam o calendário olímpico, tirando a oportunidade de qualificação. Muita coisa me passou pela cabeça, mas principalmente a saúde de todos, acredito que o adiamento foi uma decisão necessária”, explica.
Por outro lado, o impacto também pode ser negativo. O boxeador Abner Teixeira, titular da categoria peso pesado na seleção brasileira e lutador da Liga Sorocabana de Boxe (Lisoboxe), recebeu a notícia poucos dias antes do pré-olímpico.
“O adiamento para mim foi terrível. Tive uma base de treinamentos (boa). Faltando cinco dias para o pré-olímpico, avisaram que seria cancelado. Foi devastador. A ansiedade de ir logo, fazer parte dos Jogos, garantir uma vaga. Fiquei desapontado”, desabafa.
Uma reação de alguém que se preparou para participar da maior competição da carreira e, de uma hora para outra, vê o sonho ser adiado. Diferentes resultados emocionais na vida dos competidores. Alívio, ansiedade e, também, frustração.
“Existe, ao mesmo tempo, a frustração por não ocorrer o que a pessoa se preparou mais do que quatro anos. Para um atleta chegar ao nível olímpico, (a preparação) é muito maior do que quatro anos, é uma vida inteira dedicada ao esporte”, comenta Laís.
O equilíbrio mental nesse momento é tão, ou até mesmo mais, importante quanto o trabalho físico. Para absover o adiamento dos Jogos sem maiores danos, o atleta precisa compreender que nada disso estava ao seu alcance. Como explica, Laís Yuri.
“A primeira parte é entender que é um evento de proporções mundiais que não tinhamos como controlar. Não está no nosso controle esse vírus, a não ser a parte de ficar em casa. Não tinhamos controle da proporção, do adiamento dos Jogos”, disse.
“O que é possível controlar é a rotina”, comenta a psicóloga. E é exatamente esse o caminho que os atletas sorocabanos procuraram seguir. Permanecer com foco, continuar com a rotina e manter o alvo no próximo ano.
“Não há nada que a gente possa fazer para mudar isso. Paciência, usar esse tempo para ficar cada vez melhor. E manter o foco, manter o trabalho e o foco no alvo, que são os Jogos Olímpicos de Tóquio”, revela Abner Teixeira. A mesma filosofia adota por Priscilla.
“Gosto de pensar positivo tendo em vista que aumentarei o tempo de preparação, por mais que não seja o ideal neste momento, o que eu puder fazer para evoluir durante este período com certeza fará diferença para o ano de 2021”, finaliza Stevaux. (Zeca Cardoso)