Editorial
Envelhecer bem tem seus desafios
A solução, aqui, passa por estimular atividades sociais para os idosos e esse desafio recai sobre o próprio idoso, sua família, a sociedade e, por fim, o governo
A população sorocabana está ficando mais velha. Essa constatação aparece nos números apresentados pelo último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados mostram que, em 12 anos, a população centenária de Sorocaba cresceu cerca de 51%, passando de 41 para 62 munícipes. O assunto foi alvo de matéria publicada no último domingo (18) pelo jornal Cruzeiro do Sul.
Envelhecer bem e com saúde vai além de atividade física e boa alimentação. Manter o corpo nutrido e saudável, além do idoso livre de quedas, durante muitos anos, foi o objetivo primordial no cuidado com os mais velhos. A saúde mental, entretanto, passou a fazer parte da lista de cuidados fundamentais para o bom envelhecimento.
No Estado de São Paulo, conforme um levantamento feito pelo Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), os centenários, que eram 3.234 em 2010, passaram para 5.095 em 2022. No Brasil inteiro, pessoas com 100 anos ou mais representam 0,018% da população -- aproximadamente 37,8 mil.
Essa população está mais suscetível à solidão. Uma pesquisa feita no Brasil e publicada em julho do ano passado na revista científica Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), constatou que boa parte dos idosos brasileiros está solitária. O estudo conversou com 9.412 pessoas e 16% delas afirmam se sentir sozinhos o tempo inteiro, e isso não é bom.
Geriatras e especialistas em comportamento humano destacam que além das mudanças físicas, os idosos enfrentam também outras situações que reforçam o isolamento de pessoas com mais idade.
A aposentadoria e a consequente interrupção do trabalho, perda de amigos, dos parceiros, além de mudanças familiares como o casamento dos filhos, colaboram para o cenário de isolamento. A todos esses fatores é possível acrescentar ainda o etarismo, ou seja, preconceito contra pessoas idosas, como um fator que desencoraja a convivência social.
Ansiedade, depressão e declínio funcional devido à falta de estímulos físicos e cognitivos podem ser algumas das consequências do isolamento sistemático. E a solução, aqui, passa por estimular atividades sociais para os idosos e esse desafio recai sobre o próprio idoso, sua família, a sociedade e, por fim, o governo.
Em Sorocaba, ferramentas como Clube do Idoso e a Chácara do Idoso são exemplos interessantes de como o poder público pode atuar nessa frente. Uma observação para a melhoria seria levar também esses serviços para bairros mais afastados da área central da cidade.
A cultura do autocuidado é mais forte entre as mulheres. Além de ter consigo um zelo maior, as mulheres também são mais sociáveis e buscam atividades coletivas com maior frequência que os homens. Isso aparece na pirâmide etária do Censo Demográfico de Sorocaba e elas são a maioria entre os idosos. A partir dos 70 anos de idade, são 16.016 mulheres e 12.801 homens.
Com o inevitável envelhecimento da população, além de políticas públicas, também é necessária a mudança de mentalidade por parte da família e da sociedade. As mudanças devem ser no sentido de proporcionar aos idosos oportunidades reais de participação na dinâmica social para que eles sejam integrados como parte ativa da sociedade.