Editorial
Educação financeira é seguro contra crises
O conhecimento do que é certo e necessário deve ser ensinado desde cedo
O suplemento infanto-juvenil do jornal Cruzeiro do Sul -- um dos projetos editoriais mais importantes e longevos em seu segmento -- trouxe, em sua edição de domingo (29), interessante reportagem com o título: "Lojinha ensina como funciona a economia e incentiva bom comportamento -- Para fazer compras, alunos de escola de Sorocaba precisam se aplicar nas aulas”.
Dias antes, em 19 de outubro, a manchete do Cruzeiro do Sul foi “Superendividados são 80 mil em Sorocaba”, elaborada com base em dados do Procon de Sorocaba, que lançou o Feirão Limpa Nome, iniciativa municipal realizada por meio do Programa de Apoio ao Superendividado (PAS), do Governo Federal.
O serviço oferece atendimento personalizado e busca solucionar os problemas financeiros da população, com o objetivo de ajudar os mais de 80 mil sorocabanos superendividados a “limpar o nome na praça”.
O levantamento prévio do Procon-Sorocaba aponta também que mais de 150 mil sorocabanos possuem pequenas dívidas.
Uma triste realidade que se tenta reverter com soluções paliativas, principalmente com o objetivo de que as famílias tenham “um respiro” no crédito neste final de ano. É justo!
Na “Lojinha”, a proposta é que as crianças da Escola Municipal Professora Odilla Caldini Crespo, no Jardim Recreio dos Sorocabanos, aprendam a lidar com o “próprio dinheirinho” para comprar as coisas que gostam, o valor do dinheiro e a importância da responsabilidade.
Nos dias atuais, parece “impossível” guardar dinheiro e aplicá-lo de forma que ele “cresça” amparado em alguma casa bancária, principalmente para os assalariados. Afinal, há despesas fixas, mas com valores variáveis como as contas de consumo (água, energia elétrica, telefone, internet, combustíveis), as imprevisíveis (consideradas “luxo”, como a necessidade eventual de compra de roupas, calçados ou gastos com lazer), além é claro do abastecimento da casa com os alimentos básicos.
Tudo isso custa caro e não dá para fugir dessa roda viva. E, muitas vezes, a família percebe que o dinheiro acaba antes do final do mês. Além disso, os “novos” boletos chegam antes do próximo crédito salarial.
Por isso, o que aconteceu na escola pública municipal do Recreio dos Sorocabanos, é muito importante. Há pelo menos três teses que corroboram esse pensamento.
Provérbios da Bíblia, no capítulo 22, versículo 6 , diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.”
Já um antigo provérbio popular afirma que “de pequenino é que se torce o pepino”, referindo-se à necessidade de cuidar do pepineiro desde cedo, endireitando-o com estacas e desbastando-o com podas.
Outro dito dos tempos de nossos avós defende que “educação vem do berço”. Ou seja, o conhecimento do que é certo e necessário deve ser ensinado desde cedo.
Ensinar crianças a usar o dinheiro é uma prática necessária. Não para a formação de futuros avarentos, mas, sim, para que, quando atingirem a idade das “responsabilidades”, saibam utilizar os recursos ao seu favor. Aprender desde pequeno a lidar com dinheiro possibilita às crianças desenvolver, ao longo de sua formação, as noções de organização e planejamento, responsabilidade e autocontrole, independência e autonomia.
A iniciativa do Procon-Sorocaba com o Feirão Limpa Nome, amparada no Programa de Apoio ao Superendividado (PAS), também tem um caráter educativo, que vai além da reabilitação do crédito. Uma das missões do Procon é desenvolver políticas públicas destinadas a proteger e educar pessoas para o consumo consciente, harmonizando as relações por meio de orientação permanente a consumidores e fornecedores.
A preocupação é que a ausência de um sistema de proteção ao indivíduo superendividado possa até provocar a insolvência civil, procedimento legal que prevê a liquidação do patrimônio penhorável do devedor a fim de quitar os créditos pendentes, sem qualquer preocupação com as consequências às necessidades mínimas de sobrevivência da família. Isso é preocupante!
Portanto, educar as crianças e reeducar adultos quanto à questão básica de economia, principalmente quando envolve o uso do dinheiro, também encontra sabedoria em outro ensinamento popular: “É melhor prevenir do que remediar”. Este aponta para a necessidade de se preparar para acontecimentos que podem estar por vir ou que certamente virão.