PIB cai 4,1% e Covid põe retomada em xeque
Abre e fecha do comércio prejudica manutenção de empregos. Crédito da foto: Vinícius Fonseca / Arquivo JCS (10/7/2020)
O Produto Interno Bruto (PIB) fechou o ano passado, marcado pela crise da Covid-19, com queda de 4,1%, informou ontem o IBGE. Considerado o crescimento populacional, o PIB per capita caiu 4,8% em relação a 2019. Com a piora da pandemia e o fim do auxílio emergencial, extinto em janeiro, indicadores mais recentes mostram que a desaceleração continuou neste início de ano, o que lança dúvidas sobre o ritmo da recuperação em 2021.
O PIB divulgado ontem foi o terceiro pior desempenho anual numa série desde 1901, compilada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atrás apenas da retração de 4,35% de 1990, ano do confisco das poupanças pelo governo Fernando Collor, e da queda de 4,25% de 1981, em meio à crise da dívida externa.
A queda de 4,8% no PIB per capita foi a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. É a “tragédia maior” dos dados de ontem, porque sinaliza a piora na condição financeira dos brasileiros, disse o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal.
No quarto trimestre, foi registrada alta de 3,2% ante o terceiro trimestre, resultado melhor do que o esperado. Isso dá um impulso adicional para 2021, mas foi insuficiente para desencadear revisões para cima nas expectativas.
A pandemia segue no centro das atenções. Recordes sucessivos de mortos apontam para um endurecimento nas restrições ao contato social, como confirmado ontem em medidas do governo de São Paulo. O ritmo da vacinação da população ditará o ritmo da economia.
Helcio Takeda, economista da consultoria Pezco, lembrou que a dinâmica de “abre e fecha” do comércio poderá frustrar a retomada do mercado de trabalho, e o desemprego já se aproxima dos 14%.
Segundo economistas, a reedição do auxílio emergencial, em discussão no Congresso Nacional, ajudará a aliviar o choque da segunda onda da pandemia. As medidas definidas pelo governo federal e pelo Congresso, incluindo o auxílio, permitiram um desempenho melhor do que o esperado no PIB em 2020 -- em meados do ano, as projeções chegaram a apontar para queda de até 9%. Só que, com o gasto limitado a cerca de R$ 50 bilhões, a segunda rodada da transferência emergencial de renda não deverá repetir o impacto dos quase R$ 300 bilhões injetados no ano passado.
“2020 é o ano que não terminou. O ano de 2021 é um ‘repeteco’, e agravado. Estamos vendo uma rebarba forte da pandemia, sem os instrumentos (para mitigar a crise), como o auxílio (emergencial), e com o desemprego e a inflação mais elevados. É um 2020 piorado”, afirmou o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Como esperado, pesou no resultado anual de 2020 o segundo trimestre, auge das medidas de restrição, com tombo de 9,2% ante os três primeiros meses do ano. A partir de meados do ano, as medidas de restrição começaram a ser relaxadas País afora. Só isso já foi suficiente para dar início à retomada, lembrou a economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro. É o que economistas chamam de “recuperação cíclica”, que fica ameaçada pela volta das restrições, diante do descontrole da pandemia.
A pandemia também desorganizou a economia. Com bares, restaurantes, salões de beleza, cinemas e hotéis fechados ou com horários reduzidos, os serviços caíram 4,5% em 2020. Por outro lado, com as famílias mais em casa, o comércio eletrônico permitiu que o consumo de bens fosse mantido, ajudando a recuperação da indústria. (Estadão Conteúdo)