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Efeito Moro: dólar a R$ 5,66 e Bolsa cai 5,4%

25 de Abril de 2020 às 00:01

Efeito Moro: dólar a R$ 5,66 e Bolsa cai 5,4% Banco Central fez leilões ontem para evitar que alta do dólar fosse ainda maior. Crédito da foto: Adriana Toffetti / A7 Press / Estadão Conteúdo (25/4/2020)

Em um dia de nervosismo no mercado brasileiro, o dólar comercial ultrapassou a barreira de R$ 5,60 e fechou no maior valor nominal, sem considerar a inflação, desde a criação do real. A moeda encerrou ontem vendida a R$ 5,668, com alta de R$ 0,14 (+2,54%). O euro comercial foi vendido a R$ 6,116, fechando acima dos R$ 6 pela primeira vez na história.

A Bolsa operou o dia inteiro em queda, mas despencou depois do anúncio da demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O índice Ibovespa, da B3, a bolsa de valores brasileira, caiu 5,45%, fechando aos 75.331 pontos, no menor nível desde 6 de abril. Por volta das 12h30, o índice chegou a cair 9,5%, ameaçando o acionamento do circuit breaker, quando as negociações são interrompidas por meia hora quando o recuo supera os 10%.

Em relação ao dólar, a cotação começou o dia em torno de R$ 5,55, mas aproximou-se de R$ 5,70 após a demissão do ministro. Na máxima do dia, por volta das 14h50, a moeda chegou a ser vendida a R$ 5,74.

A alta poderia ter sido maior caso o Banco Central (BC) não tivesse intervido no mercado. A autoridade monetária fez quatro leilões de venda direta de US$ 2,175 bilhões das reservas internacionais e dois leilões de venda com compromisso de recompra de US$ 700 milhões. O BC fez ainda leilões de contratos novos de swap (venda de dólares no mercado futuro), mas o resultado não foi divulgado.

No ano, o dólar acumula valorização de 41% e o real é a moeda com pior desempenho mundial, considerando os principais mercados.

Além da renúncia de Moro, o mercado está sendo influenciado pela perspectiva de queda dos juros. Na última quarta-feira, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o cenário para a Selic (taxa básica de juros) mudou depois da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Juros mais baixos tornam menos atrativos os investimentos em países emergentes, como o Brasil, estimulando a retirada de capitais por estrangeiros.

Paulo Guedes

A saída de Sergio Moro é muito ruim para o presidente Jair Bolsonaro, pois o ministro o acusou abertamente de corrupção e ainda traz preocupações sobre a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no cargo, avalia o economista Pedro Tuesta, responsável em Nova York pela América Latina na Continuum Economics, consultoria do economista Nouriel Roubini.

Neste ambiente de maior risco político e temor com o futuro de Guedes, Tuesta não vê o dólar abaixo de R$ 5,60 no curto prazo. ‘Há risco de ir a R$ 6,00‘, ressalta ele.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, diz que a saída e o discurso de Moro podem tornar o cenário político disfuncional. “O que Moro disse é muito grave.”

Na sua avaliação, o governo parece, com a saída do ministro, estar perdendo sua essência que era a bandeira contra a corrupção e a pandemia do coronavírus também colocou outra bandeira em xeque: a agenda liberal. (Agência Brasil e Estadão Conteúdo)