Buscar no Cruzeiro

Buscar

Bolsonaro pressiona Receita a perdoar dívidas de igrejas

01 de Maio de 2020 às 00:01

Bolsonaro pressiona Receita a perdoar dívidas de igrejas Crédito da foto: AFP/Evaristo Sá

O presidente Jair Bolsonaro se reuniu na última segunda-feira no Palácio do Planalto com o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho do missionário R.R. Soares, e com o secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, no encontro, a portas fechadas, o presidente cobrou uma solução para dívidas tributárias que as igrejas possuem com o Fisco. Bolsonaro já ordenou à equipe econômica “resolver o assunto”, mas a queda de braço continua por resistência do órgão.

Um eventual perdão das dívidas traria prejuízo às contas públicas. A Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada por R R. Soares (com quem o presidente já se encontrou em outras ocasiões), acumula R$ 144 milhões em débitos inscritos na Dívida Ativa da União -- terceira maior dívida numa lista de devedores que somam passivo de R$ 1,6 bilhão. A mesma igreja ainda tem outros dois processos em curso no Carf, tribunal administrativo da Receita, que envolvem autuações de R$ 44 milhões em valores históricos.

Tentativas de interferir na Receita já resultaram em crises políticas. No governo Luiz Inácio Lula da Silva, a então ministra da Casa, Civil Dilma Rousseff, foi acusada pela secretária do órgão Lina Vieira de pedir para aliviar uma investigação que envolvia a família Sarney. Lina deixou o cargo e Dilma precisou se explicar ao Congresso. Não é a primeira vez que Bolsonaro tenta impor à Receita a revisão das multas das igrejas. O ex-secretário da Receita, Marcos Cintra, disse a interlocutores que não ceder a essa ordem foi um dos motivos para ter deixado o cargo.

O deputado David Soares preferiu não se manifestar sobre a reunião com o presidente que constou em agenda oficial. “Isso aí é uma reunião com o presidente, eu não tenho nada a declarar”, disse.

O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) reagiu ontem, afirmando que recebeu “com espanto” a notícia da investida do presidente e diz que Bolsonaro “atropela as leis para, em benefício de alguns contribuintes, atentar contra a administração pública e o equilíbrio do sistema tributário”. (Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes - Estadão Conteúdo)