Bolsa fecha em queda de 2,41%, no menor nível desde 26 de junho
Fachada do prédio da Bolsa de Valores de São Paulo. Crédito da foto: Hugo Arce / FP (5/1/2014)
Em dia de apetite por risco no exterior, o Ibovespa perdeu a carona, pressionado por retomada dos receios sobre a situação fiscal, em momento no qual o governo recoloca na mesa novo programa de renda mínima a partir de 2021 - o Renda Cidadã - sem que consiga fazer avançar a reforma tributária ou iniciativas de compensação para gastos ampliados. Assim, no pior momento do dia, o principal índice da B3 foi ao menor nível desde 29 de junho e, ao final da sessão, mostrava perda de 2,41%, aos 94 666,37 pontos - menor patamar desde o encerramento de 26 de junho, então aos 93.834,49 pontos. Em NY, os ganhos do dia ficaram entre 1,51% (Dow Jones) e 1,87% (Nasdaq).
"Caiu muito mal a falta de acordo na reunião de líderes sobre a reforma tributária. Com reformas necessárias ainda distantes, o que prevalece é o encontro com a verdade, após um avanço prolongado movido basicamente por fluxo doméstico. Ainda sem reformas, fala-se agora no Renda Cidadã, se preciso for até tirando de precatórios. Assim, Bolsonaro volta a se mostrar mais preocupado com a reeleição do que com o ajuste das contas e as reformas", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. "Apesar de toda retórica do Guedes, a agenda econômica está emperrada, houve poucos avanços neste governo."
"A cada dia que passa a percepção é de que não vai haver reformas este ano, com as eleições municipais se aproximando. E depois, no início do próximo ano, ainda tem a eleição para as presidências da Câmara e do Senado. O estresse de hoje ficou bem evidente na curva de juros, ainda mais que na Bolsa e no câmbio. Quando se posterga o pagamento de dívidas (precatórios) ou há distorção de finalidade (Fundeb) em prol de gastos perenes (Renda Cidadã), o que se tem é algo insustentável no longo prazo", aponta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
"Hoje, o Ibovespa começou a mostrar definição mais clara, confirmando, a princípio, as perdas dos suportes de 98 e 97 mil pontos. O Ibovespa saiu de um momento de consolidação e pode entrar em tendência de queda, chegando aos 90 mil pontos de forma mais rápida", observa Fernando Góes, analista gráfico da Clear Corretora. Na mínima, o Ibovespa foi hoje aos 94.370,60 pontos, no menor nível intradia desde 29 de junho (93.825,27), saindo de máxima nesta segunda-feira aos 98.313,73, com abertura a 97.005,38 - entre o piso e o teto do dia, a variação foi de quase 4 mil pontos.
O giro financeiro totalizou R$ 27,5 bilhões e, no mês, as perdas de setembro, faltando dois dias para o encerramento do mês, chegam a 4,73%, voltando a superar as de agosto (-3,44%), quando foi interrompida a recuperação iniciada em abril - no ano, as perdas avançam agora a 18,14%.
Mais cedo, as ações de bancos, ainda muito atrasadas no ano, conseguiam dar algum suporte ao Ibovespa, em dia positivo para o segmento no exterior. Ao final, apenas Unit do Santander (+2,10%) e Banco do Brasil ON (+0,69%) conseguiram manter-se em alta na sessão. Na ponta negativa do Ibovespa, Yduqs cedeu 5,35%, seguida por Intermédica (-5,20%) e Minerva (-5,02%).
Entre as commodities, destaque para perdas de 2,48% em Petrobras PN e de 2,42%, para a ON. Vale ON cedeu 0,79%. Na face positiva do Ibovespa, Embraer liderou a alta do dia (+3,92%), seguida por Santander (+2,10%) e IRB (+0,84%).
"Minerva esteve entre as maiores quedas do índice, com a China anunciando meta de ser 95% autossuficiente em produção de suínos, enquanto a maior alta foi Embraer, com a Azul recebendo aprovação para operar um Embraer E195 modificado para transporte de cargas", aponta Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti. (Estadão Conteúdo)