Bolsa fecha em baixa de 1,15%, no menor nível desde 16 de junho
Crédito da foto: Miguel Schincariol / Arquivo AFP (29/10/2018)
Nestas duas primeiras sessões da semana, o Ibovespa, pressionado pelos temores de que a situação fiscal se agrave por iniciativa do governo - desta vez fora do manual -, perdeu sucessivamente as linhas de suporte de 95 mil e de 93,8 mil, após ter iniciado a semana anterior cedendo outra referência importante, abaixo dos 97 mil. Hoje, fechou em queda de 1,15%, aos 93.580,35 pontos, com mínima a 93.408,17 - menor nível intradia desde 24 de junho (93.259,07) - e máxima a 95.504,78 pontos na sessão. O dia negativo no exterior, em meio à expectativa para o primeiro debate entre Donald Trump e Joe Biden na disputa pela Casa Branca, contribuiu para que a B3 seguisse ao sabor da ventania de ontem.
Agora no menor nível de fechamento desde 16 de junho (93.531,17 pontos), o índice emendou a terceira sessão negativa, hoje com giro financeiro a R$ 23,5 bilhões, após os R$ 27,5 bilhões do dia anterior, quando o governo pareceu jogar gasolina na fogueira ao destacar um líder político, Ricardo Barros (PP-PR), para explicar diretamente ao mercado a ideia de usar recursos destinados a precatórios e ao Fundeb para financiar o futuro Renda Cidadã, programa que deve substituir o auxílio emergencial a partir de 2021. Sem sinais de que o governo voltará atrás, o mal-estar se estendeu à sessão de hoje, conforme se esperava. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 3,52%, elevando a do mês a 5,83% e a do ano a 19,08%.
Na segunda-feira (28), a referência do ministro Paulo Guedes ao "timing político" - após ter afirmado recentemente que confia na intuição política do presidente Bolsonaro - e a ausência de integrantes da área econômica na aproximação ao mercado fez acender uma luz amarela: o poder de influência do fiador da política econômica teria encolhido ou, ainda pior, Guedes estaria dando anuência a sugestões da ala política mesmo que ao custo de pilares como o teto de gastos. Assim, a palavra "pedalada", que marcou o fim do governo Dilma Rousseff, em 2016, retornou ontem ao vocabulário corrente - e mesmo outro termo nada eufemístico, "calote".
"Redirecionar verba que seria para dívida não paga é decretar pela segunda vez que a dívida não será paga - e há pareceres de juristas contra isso. Redirecionar recursos do Fundeb para complementar orçamento para os mais carentes é um desvio de finalidade, que não terá apoio de prefeitos e governadores. O que tivemos então, mais uma vez, foi uma proposta ruim em um momento ruim", observa Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura.
"O Ibovespa chegou até a trabalhar no positivo na abertura, com rumores de que o plano seria revisto, mas logo depois o relator da PEC do Pacto Federativo, Márcio Bittar, confirmou que a proposta não será alterada e tem o aval de Bolsonaro", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Diante do crescente risco fiscal, os juros futuros voltaram a disparar, já precificando 50% de chance de alta da Selic na próxima reunião do Copom, em 28 de outubro - o que é muito pouco provável, mas revela o nível de estresse do mercado e a preocupação com o rumo da economia. Sem falar da contabilidade criativa utilizada para financiar gastos públicos, que revive antigos fantasmas", acrescenta.
Com a aversão ao risco político, as perdas se distribuíram por empresas e setores na sessão, com algumas exceções notáveis, como WEG (+3,26%), Lojas Americanas (+2,05%) e Natura (+1,97%). Na ponta oposta do Ibovespa, Azul cedeu hoje 7,71%, seguida por Gol (-5,72%), Embraer (-4,09%) e CVC (-3,88%), com dólar à vista a R$ 5,6393 (+0,07%) no fechamento de hoje. Entre as commodities, destaque para queda de 2,82% em Petrobras ON; entre as siderúrgicas, de 2,86% para Usiminas, e entre os bancos, de 2,46% para BB ON. (Estadão Conteúdo)