Bolsa fecha em alta de 1,57%, aos 102.801,76 pontos
Fachada do prédio da Bolsa de Valores de São Paulo. Crédito da foto: Hugo Arce / FP (5/1/2014)
Depois de quatro dias em ajuste negativo, e de dois nos quais se descolou do exterior, o Ibovespa voltou esta quarta-feira (5) a caminhar na mesma direção das ações globais, ao fechar em alta de 1,57%, aos 102.801,76 pontos, limitando ganhos que até a virada para a tarde se mantinham acima de 2% na sessão, e que chegaram a ficar abaixo de 1%. O principal índice da B3 saiu de mínima na abertura a 101.219,98 pontos, escalando até alcançar, na máxima, os 103.762,66 pontos, mas perdeu fôlego logo no início do segundo tempo, enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, falava à Comissão Mista da Reforma Tributária.
Nela, o governo deu sinal de que pretende insistir na criação de um novo imposto sobre transações eletrônicas, ideia mal recebida tanto pelo Congresso como pelo mercado, que veem semelhanças entre o tributo e a CPMF. Guedes procurou dissociar a proposta do que é percebido como uma tentativa de ressuscitar em nova roupagem a contribuição sobre movimentações financeiras, extinta em 2007. "Não dá para o rico se esconder atrás do pobre falando que esse imposto é regressivo. O rico é quem mais faz transações, quem mais consome serviços digitais, de saúde, de educação, lancha, caviar, e está isento", afirmou o ministro.
"Não podemos ter nenhuma sombra de absolutismo: nem acharem que o ministro pode impor um imposto à sociedade, nem acharem que podem proibir esse debate. Nem o ministro pode impor um imposto que a sociedade não quer, nem um relator, presidente da Câmara, Senado ou da República pode impedir que se debata qualquer imposto", disse Guedes. Questionado pelos parlamentares, o ministro reafirmou que a equipe econômica pretende tributar também lucros e dividendos - outro ponto mal recebido pelo mercado.
"A dúvida para o mercado é que o governo como um todo está apostando no Renda Brasil e o Guedes está tentando achar uma forma de financiar isso. Nesta reunião de hoje, ficou claro que a aceitação (ao novo imposto) é negativa. Tirando o Ministério da Economia, todo mundo está querendo gastar. Lá na frente, para financiar o déficit, sabemos como termina: tem de elevar juros", observa Eduardo Cavalheiro, sócio-gestor da Rio Verde Investimentos. "O que ajudou a segurar hoje foram as ações de commodities, em meio à avaliação de que a China, para se contrapor à incerteza na relação com os EUA, tende a privilegiar um modelo de desenvolvimento mais voltado para dentro, com investimentos em infraestrutura, o que eleva os preços do aço, do minério, do petróleo", acrescenta.
Desempenho de ações
Assim, em dia de forte desempenho das ações de Petrobras (+6,43% na PN e +6,45% na ON), com a progressão dos preços do petróleo sendo induzida também por dados de estoque dos EUA, o Ibovespa manteve-se em alta, quase neutralizando as perdas na semana (agora -0,11%) e limitando as do ano a 11,11%. Destaque também para ganho de 2,45% em Vale ON, em dia mais uma vez em boa parte desfavorável, ainda que moderadamente, para o segmento de bancos, o de maior peso na composição do índice e que ao final foi na maioria levemente ao azul, na véspera da votação em comissão do Senado de projeto sobre tabelamento de juros do cheque especial e do cartão de crédito.
"O governo não conseguiu impedir que a proposta do senador Álvaro Dias fosse à votação, e a expectativa agora é de que possa derrotá-la na comissão", diz Cavalheiro, da Rio Verde. Na ponta do Ibovespa, Klabin subiu hoje 9,78%, com recepção muito positiva ao balanço e às indicações da fabricante de papel e celulose, que contribuíram para melhorar a perspectiva para o setor. Logo em seguida, vieram Multiplan (+8,03%) e Iguatemi (+7,76%), com recepção também positiva ao balanço da operadora de shoppings. No lado oposto, Hypera cedeu 2,84%, Ambev, 1,64% e Cielo, 1,36%. O giro financeiro totalizou R$ 30,5 bilhões na sessão.
"O mercado de ações vem de um rali de 45 a 60 dias, com o começo da saída da pandemia. A partir de agora, temos um choque de realidade, com uma recuperação mais gradual da economia e dos diversos setores - muitos ficaram caros, houve excessos, e o mercado tende a ficar mais seletivo. Ainda vemos oportunidades em papéis que não estiveram tão na moda e estão com valuation mais atrativo, como Vale, JBS e BR Distribuidora", diz Marcelo Audi, sócio-gestor da Cardinal Partners.
[irp posts="278036" ]
No plano doméstico, é fundamental que a agenda de reformas continue a caminhar, em momento no qual a questão fiscal permanece no foco dos investidores, destaca também o gestor da Cardinal. "É importante que haja um sinal de continuidade nas regras de controle fiscal criadas até aqui - perder o teto de gastos seria um mau caminho", aponta Audi. "Há pressão por gastos adicionais, como a transformação do auxílio emergencial em despesa permanente. Se o governo conseguir um aperfeiçoamento, com aumento da transferência de renda em base ampliada, sem impacto fiscal negativo, seria um avanço."
"Temos de ter certeza de que, com reformas, o caminho da disciplina fiscal permanecerá, e o ponto mais importante para construção é daqui ao quarto trimestre. Sem a contribuição dos estímulos à economia, especialmente os concedidos aos mais pobres, a economia começa a se enfraquecer a partir de setembro", conclui Audi. (Estadão Conteúdo)