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Biocombustível de lixo deve crescer com Lei do Gás

21 de Fevereiro de 2021 às 00:01

Enquanto o governo brasileiro discute uma potencial redução na tributação de combustíveis fósseis, na contramão do resto do mundo, produtores de biogás tentam criar condições para fazer deslanchar no País uma alternativa renovável ao diesel: o biometano. O cenário em 2021 é visto como promissor, com a quebra do monopólio da Petrobras nos gasodutos, a esperada aprovação do Novo Mercado do Gás pelo Congresso Nacional e o fortalecimento da agenda ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e governança) na esteira da pandemia da Covid-19.

Além do gás natural, a nova Lei do Gás deve incentivar também projetos de geração de biogás e biometano a partir de aterros sanitários e resíduos orgânicos. O texto já aprovado no Senado libera o acesso do biometano à rede de gasodutos, estimulando sua regulamentação pelos Estados, a quem compete a política de distribuição do gás. O recém-aprovado marco do saneamento também é favorável, já que o biometano pode ser produzido a partir do tratamento do biogás gerado nos aterros sanitários e nas estações de tratamento de esgotos.

Segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), a produção nacional de biometano é pequena: 365 mil m3 por dia. A entidade projeta um aumento de 10% em 2021, ritmo de crescimento abaixo do visto no ano passado (14%, apesar da pandemia). O volume está muito aquém do potencial brasileiro, estimado pela entidade em 120 milhões de m3 por dia, tendo em vista a quantidade de resíduos produzidos no País. Isso é o equivalente a 39 bilhões de litros de diesel, ou 70% do consumo nacional.

O biometano pode ser destinado à geração de energia elétrica e substituir o gás natural de uso industrial e residencial, mas é no abastecimento do transporte veicular que reside seu maior potencial. A estimativa é que ele reduza de 90% a 96% as emissões de gases do efeito estufa quando comparado ao diesel e à gasolina.

O diretor de vendas de soluções da Scania no Brasil, Silvio Munhoz, conta que, com a pandemia, cresceu a procura de empresas interessadas em caminhões a biometano e GNV (gás natural veicular). A estimativa é fechar 2021 com a venda de mais de duas centenas de unidades no País, contra 70 em 2020. A participação dos modelos a gás na produção e nas vendas gerais da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) é pequena: mil veículos em um total de 30 mil por ano.

Hoje o País tem oito usinas de biometano em produção comercial, fruto de R$ 680 milhões em investimentos, mas só três entregam o combustível no padrão exigido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A Ecometano, do Grupo MDC, opera duas delas: uma no Ceará e outra no Rio. A presidente do Grupo MDC, Manuela Kayath, diz que, ao mesmo tempo em que a nova Lei do Gás promete destravar o chamado mercado livre -- em que consumidores escolhem fornecedores --, cresce a demanda de empresas com metas de redução de emissões mais agressivas. (Mariana Durão - Estadão Conteúdo)