BC surpreende e eleva Selic para 2,75% ao ano
Maio deve ter nova alta. Crédito da foto: Bruno Rocha / Arquivo Estadão Conteúdo
Mesmo com a atividade econômica novamente freada pelo agravamento da pandemia de Covid-19, o Banco Central se viu forçado a elevar os juros da economia para tentar conter a ameaça da inflação -- e surpreendeu no tamanho do ajuste. Com a alta persistente de preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) não só elevou ontem a Selic (taxa básica de juros) em 0,75 ponto porcentual, para 2,75% ao ano, mas também indicou uma nova rodada de aperto para o mês de maio.
O “cavalo de pau” na política de estímulo veio 21 dias após a sanção da autonomia formal do Banco Central pelo presidente Jair Bolsonaro, com a bandeira de garantir a condução da política de juros sem pressões políticas. O aumento foi o primeiro em quase seis anos: a última vez que o BC precisou elevar juros foi em julho de 2015, ainda sob o governo Dilma Rousseff.
Desde agosto do ano passado, a Selic estava estacionada em 2%, no menor nível da série histórica. Na prática, quanto menores são os juros básicos da economia, mais barato fica o crédito para empresas e famílias. Por isso, o relaxamento na política do Banco Central abriu caminho ao crescimento dos financiamentos no auge da crise e ajudou a segurar as quedas na atividade e no emprego.
Nos últimos meses, porém, a inflação acelerou e virou o calcanhar de aquiles do presidente Jair Bolsonaro. Cobrado nas redes sociais pela alta da inflação, com vídeos que intitulam o movimento de alta dos preços como “Bolsocaro”, o presidente já reclamou em público diversas vezes do reajuste dos preços de combustíveis e alimentos.
Na tentativa de conter o preço do diesel, encomendou à equipe econômica uma desoneração de tributos e demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, indicando para seu lugar o general da reserva Joaquim Silva e Luna. Os anúncios caíram mal no mercado, geraram desconfiança e contribuíram para elevar a cotação do dólar -- um elemento que joga ainda mais lenha na fogueira da inflação.
Ao voltar a subir os juros, o Copom mira a inflação de médio e longo prazos, tentando evitar que a alta dos preços se dissemine na economia. Para o fim de 2021, o BC já estima uma inflação de 5%, bem acima do centro da meta para este ano de 3,75%, e já perigosamente próxima do teto.
No comunicado da decisão, o BC argumentou que a elevação mais forte tem o efeito positivo de evitar justamente que a inflação estoure o teto da meta neste ano. E já anunciou que, a não ser que as condições mudem significativamente, uma nova elevação de 0,75 ponto deverá ser aplicada na próxima reunião, levando a taxa para 3,50% em maio. (Eduardo Rodrigues e Idiana Tomazelli - Estadão Conteúdo)