Anfavea alerta para gravidade da crise devido pandemia
Fabricantes praticamente paralisaram a produção de veículos no Brasil. Crédito da foto: Divulgação VW
Sem citar nomes, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, afirmou ontem que há políticos que ainda não perceberam a gravidade da situação e as consequências da crise causada pela pandemia do novo coronavírus. “Os agentes políticos que deveriam estar trabalhando de forma coordenada estão prejudicando a economia”, disse o executivo, em coletiva on-line que apresentou os dados do setor em abril.
“Eu fico trabalhando de home office, entro na internet e todo dia tem crise, além da crise de saúde. É crise de manhã, de tarde, no Ministério da Saúde, na Secretaria de Cultura, no Judiciário, no Executivo, no Legislativo. Eu queria dizer que parte dessa desvalorização cambial não é econômica, é política, é institucional”, avaliou Moraes.
Com o aumento do risco causado pela crise do novo coronavírus, que deixou os bancos de varejo mais cautelosos, a participação dos bancos das montadoras nos financiamentos de veículos subiu de 45%, na média, para 60% em março, afirmou.
Moraes, que disse que os bancos das montadoras ajudam no escoamento da cadeia e no suporte à rede de concessionárias, aproveitou para rebater crítica que ouviu de um executivo de banco, que questionou, segundo ele, a necessidade dos bancos das montadoras. “Os bancos das montadoras estão lá quando faz sol e quando faz chuva, como instrumento para facilitar produção, ajudar concessionários com capital de giro e oferecer taxa mais baixa ao consumidor final”, comentou.
Ele também lamentou a concentração dos bancos de varejo nos negócios no País: “temos três ou quatro bancos que têm mais de 80% do volume de negócios e essa concentração não é boa para o País”.
O presidente da Anfavea afirmou que as montadoras não registraram nenhuma “grande compra” por parte das locadoras desde o início das medidas de isolamento social. “As locadoras vinham comprando veículos novos até março, mas, em função da situação, não tivemos mais nenhuma grande compra junto às montadoras, e isso pode continuar por mais tempo”, disse.
Empregos
O presidente da Anfavea disse que as montadoras vão se esforçar para manter os empregos nas fábricas, depois do fim do período de estabilidade oferecido por medidas trabalhistas, mas destacou que não há como garantir. Segundo ele, a chance de manutenção dos empregos diminui se houver continuidade da crise política.
“A manutenção dos empregos depende da retomada do mercado, que depende da gestão correta da crise no Brasil. Quanto mais coordenada for a gestão da saúde e da recuperação da economia, mais chance vamos ter (de manter empregos). As montadoras vão fazer esforços, mas garantir não dá”, disse o executivo.
Moraes afirmou que é possível manter os empregos se a demanda voltar a um nível razoável, não necessariamente ao patamar anterior da crise.
Produção de veículos cai 99,3% em abril
No mês em que praticamente todas as montadoras suspenderam as atividades em razão da pandemia do novo coronavírus, a produção de veículos caiu 99,3% em abril ante igual mês do ano passado, informou ontem a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em comparação a março, houve queda de 99%.
Em abril, as fábricas produziram 1,8 mil unidades, o menor resultado para um mês desde o início da série histórica da Anfavea, em 1957.
“Nem mesmo em períodos de greve, nunca enfrentamos um nível de produção tão baixo no País”, disse o presidente da associação, Luiz Carlos Moraes, em coletiva de imprensa on-line.
No acumulado do ano, a produção atinge 587,7 mil veículos, em soma que considera os segmentos de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. O resultado representa tombo de 39,1% na comparação com o primeiro quadrimestre do ano passado.
A venda de veículos novos, por sua vez, atingiu 55,7 mil unidades, queda de 76% em relação a abril do ano passado e de 65,9% na comparação com abril. No acumulado do ano, foram 613,8 mil emplacamentos, recuo de 26,9% ante igual período do ano passado.
A Anfavea também informou que os pátios das fábricas e das concessionárias contava, no fim de abril, com 237,3 mil veículos em estoque, abaixo dos 266,6 mil veículos no fim de março. Considerando o ritmo de vendas em abril, o número mais recente do estoque é suficiente para 128 dias, ou um pouco mais de quatro meses. (André Ítalo Rocha - Estadão Conteúdo)