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Editorial

Difícil de engolir

"O futebol mundial chegou ao limite técnico. É uma correria só!", criticava Zagallo

08 de Janeiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Zagallo, uma lenda
Zagallo, uma lenda (Crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

O futebol mundial começou o ano de 2024 de luto; não se passaram nem dez dias do Réveillon e duas lendas já partiram.

Aqui, no Brasil, as despedidas foram para Mario Jorge Lobo Zagallo, o único verdadeiro tetracampeão mundial do planeta.

Na Alemanha, Franz Beckenbauer, campeão do mundo como jogador em 1974 e depois como treinador em 1990, morreu no domingo, 7 de janeiro, aos 78 anos.

O anúncio foi feito nesta segunda-feira, 8, pela Federação Alemã de Futebol.

Duas perdas consideráveis para um dos esportes mais populares do mundo.

Ícone do futebol brasileiro dentro e fora de campo, Zagallo também se destacou por sua personalidade forte.

O Velho Lobo, que morreu aos 92 anos, ficou conhecido por uma série de declarações polêmicas.

Ele também era bastante supersticioso e, sempre que podia, mostrava seu apreço pelo número 13 e sua fé em Santo Antônio.

Uma de suas mais célebres frases foi dita logo depois que a seleção brasileira, bastante desacreditada na época, venceu, em 1997, a Copa América.

Sob pressão e mergulhado em críticas, o técnico da amarelinha soltou a pérola que ficaria eternizada: "Vocês vão ter que me engolir".

Afastado dos campos por causa da saúde debilitada, Zagallo acompanhava, mesmo de casa, as mudanças do futebol no mundo, estava sempre antenado e não gostava muito do que estava vendo acontecer.

"O futebol mundial chegou ao limite técnico. É uma correria só!", criticava Zagallo.

Outra frase marcante de Zagallo só foi revelada muito tempo depois de ser cunhada.
Durante a cobrança de pênaltis pelo tetracampeonato, na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, Zagallo antecipou o resultado ao então técnico Carlos Alberto Parreira.

Naquela competição, Zagallo tinha o cargo de auxiliar técnico e, segundo declarações de Parreira, teria dito: "Quando chegou a hora de o Baggio bater o pênalti, pensei no santo (Antônio) no meu bolso. Apertei a mão do Parreira e disse: 'Ele vai perder agora. Vamos ser tetracampeões'". Dito e feito. A bola foi chutada para as alturas, e a taça ficou nas mãos do Brasil.

Zagallo ficou marcado também pela decisão de escalar Ronaldo na final da Copa de 98 na França.

O atacante tinha sofrido graves problemas de saúde antes da partida e não deveria ir a campo.

Sem condições de jogo, o time acabou sendo presa fácil para os donos da casa, que conquistaram seu primeiro título.

A morte de Zagallo foi destaque nos principais jornais do mundo. O The Guardian, da Inglaterra, publicou: 'Morreu Zagallo, a lenda do futebol que ganhou a Copa do Mundo como jogador e que em 1970, como técnico, levou Pelé à Glória'.

O diário Olé, da Argentina, destacou as participações do "Velho Lobo" em quatro das cinco Copas do Mundo conquistadas pela seleção brasileira. "(Zagallo) foi campeão do mundo como jogador e treinador, algo que apenas Franz Beckenbauer e Didier Deschamps também conseguiram", lembrou.

Mesmo sem imaginar, o jornal argentino antecipava outra despedida. O alemão Franz Beckenbauer, que foi campeão do mundo como jogador em 1974 e como treinador em 1990, partiu horas depois do sepultamento de Zagallo.

Ex-capitão da seleção da Alemanha Ocidental na década de 1970, técnico da 'Mannschaft' de 1984 a 1990 e ex-treinador e dirigente do Bayern de Munique na década 1990, Beckenbauer estava afastado da vida pública nos últimos anos devido a problemas de saúde.

Nos 13 anos em que vestiu a camisa do Bayern de Munique, foi campeão da Champions League por três vezes e da Bundesliga por quatro vezes.

Ao todo, venceu 13 títulos pelo clube. Ele ganhou também o prêmio Ballon d’Or por duas vezes, em 1972 e 1976.

Em 1977, aos 32 anos, decidiu deixar a Alemanha e jogar na equipe americana New York Cosmos, ao lado do rei Pelé, que há pouco mais de um ano também nos deixou.

Aos poucos, as lendas que fizeram do futebol o esporte mais popular do mundo vão partindo.

Deixam um legado imenso não só de qualidade técnica como de caráter. Outros nomes estão aí para continuar construindo essa história, mas os tempos românticos de Pelé, Garrincha, Zagallo e Beckenbauer, esses não voltam mais.