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Editorial

Decepção olímpica

Falta incentivo na base e um entendimento que o esporte pode alavancar a vida de milhares de jovens

12 de Fevereiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Olimpíadas em Paris
Olimpíadas em Paris (Crédito: REPRODUÇÃO)

As Olimpíadas de Paris vão começar no dia 26 de julho e já se sabe, de antemão, que o Brasil não terá representantes em duas modalidades históricas dos esportes coletivos. O futebol masculino e o basquete feminino foram eliminados nos torneios pré-olímpicos e agora vão assistir, de casa, as disputas. A delegação brasileira, nesta edição, ficará desfalcada de várias estrelas. Nem mesmo o medalhista de ouro no surfe, em Tóquio, está confirmado na competição.

Com a vaga garantida pelo título mundial do ano passado, Filipe Toledo, o Filipinho, decidiu abandonar a temporada 2024 da WSL, o Circuito Mundial de Surfe. Ele alegou que precisa cuidar melhor da sua saúde mental antes de dar sequência à carreira. O anúncio foi feito em uma publicação no Instagram, neste domingo (11), quase duas semanas depois de o bicampeão deixar a disputa de Pipeline, primeira etapa do ano, por causa de uma intoxicação alimentar.

Esse passo atrás não significa o abandono de Paris, mas mostra que o atleta brasileiro não deve chegar à competição em condições favoráveis para a disputa do ouro. Basta lembrar o que ocorreu com a ginasta norte-americana Simone Biles, nos jogos passados. Claro que, no caso de Filipe, ainda há tempo de recuperação, situação contrária ao vexame proporcionado pelo futebol, detentor do lugar máximo no pódio nas últimas duas edições olímpicas.

A seleção pré-olímpica deixou escapar a vaga ao perder para a Argentina nesse domingo, em Caracas, na Venezuela. A derrota foi a pá de cal no projeto comandado pelo técnico Ramon Menezes.

Desde o início da competição, o futebol apresentado pelos meninos do Brasil deixava muito a desejar. A equipe, na primeira fase, venceu alguns jogos graças à individualidade de alguns craques como Endrick, do Palmeiras, e John Keneddy, do Fluminense. Só que isso não foi suficiente no quadrangular final. Com derrotas para o Paraguai e a Argentina, o Brasil viu a vaga para Paris escorrer pelas mãos.

A seleção de Ramon Menezes nunca empolgou a torcida brasileira e nem demonstrou a força necessária para alcançar uma das vagas. O fraco desempenho espelha a situação confusa em que vive a Confederação Brasileira de Futebol, envolvida com problemas na Justiça e num momento de total falta de organização. Se nem o time principal vai bem nas eliminatórias para a Copa, o que se pode dizer das categorias de base. Estamos colhendo os frutos da nossa própria incompetência.

No caso do basquete feminino, a situação é um pouco diversa. A falta de renovação com qualidade é patente e os tempos de estrelas como Maria Helena, Heleninha, Ritinha, Hortência, Paula e Janete ficam cada vez mais distantes. As novas gerações sequer viram as atuações dessas gigantes das quadras. Vai ser a segunda edição olímpica consecutiva sem a presença do Brasil. O intervalo só não é maior porque, em 2016, no Rio de Janeiro, o Brasil garantiu a classificação automática por ser sede da competição.

No caso do basquete, a seleção nacional ainda teve o fator casa como trunfo para conquistar a vaga e nem isso foi suficiente. A confederação de basquete teve a oportunidade de hospedar o Pré-Olímpico em cidades da região norte do País em busca de uma vantagem climática contra Austrália, Sérvia e Alemanha. Eram três vagas para quatro postulantes, só que o Brasil ficou em último.

Depois de uma preparação intensa para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, o investimento no esporte voltou a cair no Brasil. O número de atletas com verdadeiro potencial é cada vez menor. Falta incentivo na base e um entendimento que o esporte pode alavancar a vida de milhares de jovens. Sem essa aposta, vamos perder muitas crianças para o ócio e até para a criminalidade, principalmente nas comunidades mais pobres. É preciso que o Poder Público, em todas as esferas, olhe com carinho para essa situação e decida reverter o jogo.