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Uma reflexão sobre corpos e eletrônicos no Barracão Cultural

24 de Outubro de 2019 às 22:20

Uma reflexão sobre corpos e eletrônicos O espetáculo tem coreografia e direção geral da bailarina Mimi Naoi, que participa ao lado de Anderson Nascimento e Isadora Araújo. Crédito da foto: Davi Araújo / Divulgação

As relações dos corpos com aparatos eletrônicos -- como smartphones, óculos de realidade virtual e outros “gadgets”, que já parecem impor características de ciborgue aos usuários -- são refletidas no espetáculo “Frankenstein: os monstros dos outros e os nossos”, do grupo Quimera Dança, que estreia nesta sexta-feira (25), às 20h, no Barracão Cultural (avenida Dr. Afonso Vergueiro, 310, Centro).

O espetáculo de dança contemporânea, que também integra outras linguagens artísticas, reúne três bailarinos que, por meio movimentos coreográficos, lançam questionamentos e reflexões acerca das relações e interações humanas proporcionadas pelas novas tecnologias. A montagem é inspirada no livro “Frankenstein -- o prometeu moderno”, da inglesa Mary Shelley.

O romance, que em 2018 completou duzentos anos de sua primeira edição, serviu de mote e metáfora criativa para que a companhia colocasse em cena a sociedade contemporânea e os seus monstros pós-modernos que ela tem a potencialidade de criar.

O espetáculo tem coreografia e direção geral da bailarina de Mimi Naoi, que participa ao lado dos intérpretes-criadores Anderson Nascimento e Isadora Araújo. Mimi comenta que o ponto de partida foi a constatação de como o uso dispositivos eletrônicos portáteis tem sido encorporado ao cotidiano, alterando postura comportamental e, até mesmo física.

“A montagem quis falar de quanto o humano é androide de quanto o androide tem de humano”, assinala.

Neste percurso, a leitura do clássico romance gótico norteou a construção coreográfica, sob direção artística do poeta e escritor Davi Araújo. A escolha do grupo não foi transpor a história de “Frankenstein” para a dança contemporânea, mas captar e transmitir as emoções do texto, por meio de movimentos corporais.

“Usamos todas as liberdades possíveis, mantendo a essência do livro, que explora questões éticas da ciência e tem uma atualidade incrível. Hoje, há redes sociais, inteligência artificial e todo mundo anda com um computador no bolso, os smartphones”, complementa.

O espetáculo, que tem cerca de 45 minutos de duração, entrelaça a dança contemporânea com outras linguagens artísticas. A trilha sonora original é composta por Henrique Ravelli, Natali Mess e Alex Costa. “Ao contrário do processo mais convencional, eles musicaram a coreografia, como quem faz a trilha sonora de um filme”, detalha Mimi.

Além disso, “Frankenstein: os monstros dos outros e os nossos” conta com projeções visuais interativas, que se amimam de acordo com a movimentação no palco, e um sistema eletrônico que transforma a frequência dos batimentos cardíacos dos bailarinos em frequências de luz.

Segundo trabalho

“Frankenstein: os monstros dos outros e os nossos” é o segundo espetáculo do repertório da Quimera Dança, fruto de uma oficina de dança contemporânea ministrada por Mimi, e que estreou em março deste ano com “Trespassados”, contemplado em 2018 no edital de “Apoio a projetos de jovens artistas para produção de primeiras obras de espetáculo e temporada de dança” do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

O espetáculo de estreia foi uma livre adaptação do livro “Através do espelho e o que Alice encontrou lá” (1871), do escritor britânico Lewis Carroll, e também teve como mote o conceito de docilização dos corpos, desenvolvido pelo filosofo francês Michel Foucault, propondo um jogo lúdico, no qual o palco ora é espelho ou tela de projeções virtuais, e ora tabuleiro de um jogo de xadrez existencial.

“A relação de diálogo entre as artes, a leitura que norteia a criação do trabalho e a questão da tecnologia são as constantes neste dois trabalhos”, complementa Mimi.

“Frankenstein: os monstros dos outros e os nossos” foi produzido com apoio da Lei de Incentivo à Cultura (Linc), no edital de 2018 e contará com temporada de apresentações gratuitas no Barracão Cultural (além de hoje, amanhã, domingo e dias 22, 23 e 24 de novembro) e no Maloca Centro Criativo (8, 9 e 10 de novembro), sempre às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h. (Felipe Shikama)