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Teatro Escola Mario Persico sustenta fôlego de fazer apresentações semanalmente

16 de Dezembro de 2018 às 06:30

Teatro Escola Mario Persico sustenta fôlego de fazer apresentações todo final de semana O local possui teatro de bolso com uma arquibancada para 40 pessoas, dois camarins e sofisticado sistema de luz e sonorização. Crédito da foto: Emidio Marques

Uma imponente escadaria de 58 degraus leva os visitantes ao terceiro andar de um prédio comercial situado na Rua da Penha, nº 823, no Centro. Ao final do vertiginoso caminho ascendente, está o Teatro Escola Mario Persico, espaço dedicado ao ensino de artes cênicas, ensaios e apresentações de espetáculos.

Inaugurada há cinco anos pelo experiente ator, diretor e dramaturgo sorocabano Mario Persico, a escola, que funciona de segunda a sexta-feira, das 13h às 22h, oferece aulas de teatro para crianças e adultos, com cursos livres e profissionalizantes, e também para quem não pretende ser ator, mas quer adquirir técnicas para melhorar desinibição, voz, postura, por exemplo.

O espaço possui teatro de bolso com uma arquibancada para 40 pessoas, dois camarins e sofisticado sistema de luz e sonorização, que recebe espetáculos em praticamente todos os finais de semana com sessões noturnas e, mais recentemente, com matinês para o público infantil. “Começou como escola e espaço para ensaiar e guardar os figurinos, mas rapidamente ganhou as adequações necessárias para a gente encenar espetáculos aos fins de semana. Tanto que hoje as pessoas vêm [aos finais de semana] sem saber o que vai ser apresentado. Virou um hábito para as pessoas que gostam de assistir teatro”, comenta.

A caixa cênica também é usada nos ensaios da Cia. Clássica de Repertório, fundada e dirigida por Mario Persico, atualmente com elenco de 15 atores, e de grupos formados por ex-alunos: a Cia. ProvocAção, de Tiske Reis; a On Stage, de Marcos Sanson, e o Grupo Triad, de Diego Crivari.

Esses grupos que compartilham o espaço são algumas das “crias” de Persico, que tem 42 anos de teatro, sendo 17 deles também como professor -- começou a dar aulas em 2001 no Núcleo de Artes Cênicas (NAC) da Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec), onde permanece até hoje.

Teatro Escola Mario Persico sustenta fôlego de fazer apresentações todo final de semana “Minha trajetória na arte sempre esteve interligada a ele”, justificou Persico. Crédito da foto: Emidio Marques

Assim como as companhias fundada por ex-alunos, Persico se orgulha da trajetória de dezenas de ex-integrantes da Cia. Clássica que se destacam no meio, como Rodolfo Amorim, do premiado Grupo XIX de Teatro, de São Paulo; Renato Gomes, que em 2016 integrou o elenco da minissérie “Nada será como antes”, da TV Globo; e Robson Catalunha, recentemente selecionado para trabalhar com o encenador norte-americano Bob Wilson, considerado um dos principais mestres do teatro experimental mundial.

Mario Persico comenta que a decisão de emprestar o próprio nome como marca da escola de teatro não foi movida por mera vaidade, e sim como fruto da credibilidade e respeito conquistados ao longo de mais de 40 anos de teatro. “A gente já fez algumas coisas e tem uma história”, diz.

Esta reportagem é parte da série “Palco independente”, do Mais Cruzeiro, que apresenta, aos domingos, espaços privados e independentes de cultura destinados à formação, pesquisa e fruição das artes cênicas em Sorocaba.

Sala do 1º andar é homenagem a Mantovani

Há dois anos, o espaço cultural de Mario Persico ganhou uma segunda sala de espetáculos, situada no primeiro andar do mesmo prédio, cujo nome homenageia o ator, diretor e dramaturgo sorocabano Carlos Roberto Mantovani (1950-2003). “Decidi homenageá-lo primeiro pela importância que ele tem, não só dentro do teatro sorocabano, mas na arte em geral, e segundo porque minha trajetória na arte sempre esteve interligada a ele”, justificou, citando que seu primeiro trabalho com Mantovani foi em 1979, na montagem da tragédia grega “Antígona”, de Sófocles.

Em janeiro de 2019, a Sala Mantovani recebe a estreia de “Veredas da Salvação”, baseada no texto de Jorge Andrade e encenado pela primeira vez em 1964, sob direção de Antunes Filho.

Paixão pelo cinema sublimada para o palco

A parede do corredor que dá acesso ao teatro de bolso do terceiro andar é coberta por dezenas de fotografias emolduradas de astros e estrelas de filmes clássicos de Hollywood. A galeria de retratos, a maior parte em preto e branco, revela que a aproximação de Persico com a arte de representar surgiu primeiramente por meio do cinema.

Teatro Escola Mario Persico sustenta fôlego de fazer apresentações todo final de semana Diretor fala das dificuldades diárias para manter dois teatros de bolso com agenda regular. Crédito da foto: Emidio Marques

Ele conta que desde criança se deslumbrava com o mundo mágico do “faz de conta”, de tapetes voadores, fugas alucinadas, heróis e vilões. “Todo aquele mundo povoava minha mente e alimentava um sonho. Ser ator”. O cinema, no entanto, lhe parecia algo distante demais para uma criança do interior paulista. Em 1976, aos 18 anos, viu o anúncio de um curso de teatro oferecido pela Fetabas, a Federação de Teatro Amador da Baixa Sorocabana. “Até então eu nunca tinha visto uma peça sequer”, comenta.

A partir desse curso, que resultou na montagem de “Romeu e Julieta”, onde fez “mera figuração”, nunca mais deixou os palcos. “Logo depois eu escrevi uma pequena peça, chamei alguns colegas do curso para encená-la. A coisa foi caminhando e crescendo, e não parou mais”, diz.

Em 1994, Persico fundou a Cia. Clássica de Repertório, como autor, diretor e ator de “A mulher zumbi”. Ao longo de 24 anos, a montagem, que permanece ativa no repertório da companhia, conquistou 27 prêmios, excursionou a Portugal e representou o Brasil no 12º Entepola - Encontro de Teatro Popular Latino-Americano em Santiago do Chile, em 1998.

Com boa parte da vida dedicado às artes cênicas, Mario Persico reconhece bem as dificuldades diárias do teatro independente, especialmente em manter dois teatros de bolso com agenda regular. No entanto, destaca que a compensação vem por meio de resultados positivos gratificantes que acredita não colher em outras funções. “Claro que é difícil e complicado, mas como nós gostamos tanto, o fardo não é tão pesado. Aqui passa a ser a extensão da nossa casa, nos dá satisfação e é isso que faz a gente prosseguir”, conclui. (Felipe Shikama)

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