Grupo teatral traz novo olhar para o texto clássico de Romeu e Julieta
O elenco de Romeu e Julieta, dirigido pelo sorocabano Paulo Cesar Oliveira, é formado por 18 atores da cidade. Crédito da foto: Divulgação
“Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu.” Com esses versos, o escritor inglês William Shakespeare encerra a obra que se tornaria uma das mais encenadas no mundo.
Seja no teatro, cinema ou televisão, o texto foi apresentado tantas vezes que parece não existir mais nenhum outro jeito de atrair o público para um novo contato com “Romeu e Julieta”. Essa visão simplista logo cai por terra diante da sensibilidade que alguns artistas têm de encontrar, mesmo num clássico já tão conhecido, uma outra forma de fazê-lo tocar as pessoas.
É o que conseguiu Gabriel Villela, do Grupo Galpão, ao mostrar os personagens em um universo mambembe. Agora, o diretor de teatro sorocabano Paulo Cesar Oliveira inova ao usar versos do poeta Carlos Drummond de Andrade e músicas de Marisa Monte, Gal Costa, Chico Buarque e Mutantes, dando um toque abrasileirado à obra.
Duas sessões
Interessados podem conferir esse trabalho no domingo, no Teatro Escola Mario Persico, em duas sessões, às 18h e 20h. A abertura será com um pocket show, realizado por Jamily Queiroz, Anna Vitória e Talisson Santos, logo às 16h30.
“Romeu e Julieta” acontece em uma Verona regida por monarcas e repleta de ostentações das ricas famílias nobres, que vivem em pé de guerra, os Capuletos e os Montecchios. Entre interesses e conquistas, um jovem casal de adolescentes se entrega aos laços do amor mais puro e intenso que se tem relato.
O casal protagonista é vivido pelos atores Math Caruso e Giovanna Tegani. Crédito da foto: Divulgação
Versão sorocabana
Na versão sorocabana, uma adaptação feita por Paulo Oliveira juntamente com Mario Persico, os personagens cantam em algumas cenas da peça, sendo acompanhados ao vivo por um violão. No desenrolar, há momentos de poesia e de tensão.
Além de belas passagens do casal protagonista, vivido por Math Caruso e Giovanna Tegani, principalmente a do final, destacam-se as interpretações de Talisson Santos, que empresta um ar de graciosidade ao frei, de Michele Sonsin (a Ama), que faz a gente sentir uma dor de arrebentar a alma, além do agressivo Teobaldo, do ator Rian Paulino.
A montagem marca a estreia de Paulo Oliveira, que é ator da Cia. Clássica de Repertório, como diretor. “Escolhi estrear na direção com ‘Romeu e Julieta’ porque é a primeira peça da minha vida como ator, dirigido por Mario ainda quando estava no curso de teatro da Fundec”, conta. “Sou muito apaixonado por esse texto e, em tempos sombrios, é sempre bom escancarar o amor”, acrescenta.
Desafio
Sobre o desafio de dar uma nova roupagem a um clássico de Shakespeare, Paulo afirma que não foi tão difícil, por ter muito conhecimento do texto. O mais complicado, comenta, foi pensar nas músicas que escolheria para compor a montagem. “Eu queria contextualizar com nossa poesia e nossa música”, diz.
Paulo conta que concebeu as cenas para se desenvolverem como num jogo xadrez. “No entanto, neste ninguém ganha”, destaca ele, que agradece a oportunidade ao seu professor Mario Persico. “A ideia de dirigir uma peça começou despretensiosamente, numa conversa com ele, e acabou acontecendo. Sou muito grato ao Mario por ele me mostrar a sua arte e ter conseguido me tocar com ela. Através dele e do espaço dele aprendi muito e sou feliz pelas oportunidades que me deu durante todo esse tempo.”
Integram o elenco 18 atores, entre eles Math Caruso, Giovanna Tegani e Rian Paulino, além de participação especial de Michele Sonsin e Talisson Santos. A musicalização é assinada por Ana Vitoria e Jamily Queiroz.
Os ingressos para as sessões de domingo custam R$ 20 (valor inteiro) e R$ 10 (meia-entrada e reservas). Interessados podem colocar o nome na lista pelo telefone (15) 3035-1566. O Teatro Escola Mario Persico fica na rua da Penha, 823, Centro.
Em algumas cenas os personagens cantam, acompanhados ao vivo por um violão. Crédito da foto: Divulgação
Uma tragédia verídica ou não?
A tragédia “Romeu e Julieta” foi escrita provavelmente em 1591, nos primórdios da carreira literária de Shakespeare. Estudiosos não sabem determinar exatamente a data. No entanto, algumas pistas ajudam a acreditar que o ano seja esse mesmo, isso porque no texto a Ama de Julieta refere-se a um terremoto que tinha ocorrido 11 anos antes.
Considerando que houve um terremoto na Inglaterra em 1580, é possível determinar que a peça se passa em 1591 ou que esse é o ano em que Shakespeare escreveu a obra. O fato é que, a partir daí, o relacionamento dos dois jovens passou a ser considerado o arquétipo do amor juvenil.
Uma curiosidade é que “Romeu e Julieta” pertence a uma tradição de romances trágicos que remontam à antiguidade. Um desses romances é o da história de Píramo e Tisbe, da obra “Metamorfoses”, escrita pelo poeta romano Ovídio (viveu até o ano 18 d.C), e cujo enredo contém paralelos com a história de Shakespeare.
Conto da Itália
“Romeu e Julieta” tem enredo baseado em um conto da Itália, traduzido em versos como “A trágica história de Romeu e Julieta”, por Arthur Brooke em 1562, e retomado em prosa com o “Palácio do Prazer”, por William Painter em 1582. Shakespeare teria se baseado em ambos.
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Há ainda especulações se a história é verídica. Há registros de que Giralomo della Corte, um italiano que viveu na mesma época de Shakespeare, afirmava que o relacionamento dos jovens amantes havia ocorrido em 1303, embora não se tenha certeza sobre isso. Pesquisadores afirmam que o único elemento comprovado é que as famílias Montecchi e Capuleto realmente existiram, embora não se saiba se moravam na Península Itálica, ou se eram rivais.
Uma outra fonte, mas literária, que faz alusões às duas famílias é “A divina comédia”, do italiano Dante Alighieri, escrita entre 1308 e sua morte, em 1321. Nesse poema, Dante cita os Montecchi e Capuleto como participantes de uma disputa comercial e política que se deram na Itália. (Daniela Jacinto, com informações do Wikipedia)