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Robson Catalunha dirige musical em São Paulo

28 de Janeiro de 2020 às 00:08

A formação atual de “Divinas divas” conta com Jane Di Castro, Divina Valéria, Eloína dos Leopardos, Camille K, Divina Núbia e Márcia Dailyn. Crédito da foto: Bruno Galvincio / Divulgação

 

O espetáculo musical “Divinas divas”, apresentado na década de 1960 pela pioneira geração de travestis brasileiras, volta ao palco nesta quarta-feira (29), em uma única apresentação gratuita, às 20h, no Theatro Municipal de São Paulo. A atração comemora o Dia da Visibilidade Trans no Brasil e integra a programação do Festival Verão Sem Censura, que reúne artistas e espetáculos alvo de preconceito. A direção é do diretor de teatro Robson Catalunha, de Sorocaba. A formação atual conta com Jane Di Castro, Divina Valéria, Eloína dos Leopardos e Camille K, além das atrizes convidadas Divina Núbia e Márcia Dailyn, primeira bailarina transexual do Theatro Municipal.

Conforme Robson, as travestis fizeram história no Rio de Janeiro na época da ditadura militar, como as primeiras vozes e corpos a expressar a possibilidade de uma sociedade livre de preconceitos, abrindo as portas para a luta por direitos da comunidade LGBT no Brasil. O espetáculo permaneceu em cartaz por mais de dez anos.

Recentemente, a história das Divas foi retratada no documentário homônimo, dirigido por Leandra Leal, neta de Américo Leal, dono do Teatro Rival, no Rio de Janeiro, onde o espetáculo foi apresentado pela primeira vez. Robson afirma que “Divinas divas”, mais que um espetáculo musical, é o retorno, da década de 1960 para a segunda década dos anos 2000, de um manifesto a favor da diversidade sexual.

Experiências

“Divinas divas” chegou a Robson Catalunha após algumas experiências. Ele lembra que dirigiu a atriz transexual cubana Phedra D. Córdoba no solo chamado “Phedra por Phedra”. “Ela já estava beirando os 80 anos e contava sua própria vida. Phedra foi conhecida como a diva do grupo Os Satyros, do qual faço parte”, afirma.

Depois desse show, Robson dirigiu outro espetáculo, em parceria com Gero Camilo, quando as atrizes Maria Casadevall, Paula Cohen e Cléo De Páris interpretaram Phedra. “Foi uma homenagem. Depois disso ela faleceu”, lembra.

O diretor também assumiu, posteriormente, mais uma homenagem a Phedra. “Estive muito próximo de atrizes e artistas transexuais, teve uma montagem com Márcia Dailyn, chamado ‘Entrevista com Phedra’, que ganhamos o Prêmio Nelson Rodrigues, depois Jane Di Castro me convidou para produzir o espetáculo dela, dirigido por Ney Latorraca, e nesse vai e vem surgiu a oportunidade de retomar o ‘Divinas divas’”, conta.

Para Robson, remontar o espetáculo tanto tempo depois é muito importante. “Porque de certa forma estamos vivendo agora algo próximo daquilo que essas atrizes viveram em relação a preconceito, intolerância.”

O diretor afirma que ainda há falta de entendimento sobre a sexualidade, o que mostra que esse continua sendo um tabu. “Então, levar esse espetáculo para o Theatro Municipal é importante, para que esses artistas possam ocupar mais espaços. Um dia talvez as pessoas entendam que a sexualidade de alguém não é empecilho para que conviva em sociedade. Espero que a gente evolua nesse sentido algum dia, porque muita gente tem morrido por conta desse ódio.”

Robson afirma que o musical -- que conta com repertório eclético, desde Édith Piaf a Dalva de Oliveira -- reserva ao público algumas surpresas. Em um dos momentos, entrará um carro no palco. Também haverá música acompanhada por pianista, que tocará em um piano de cauda. O espetáculo presta homenagens para Phedra e Rogéria.

Carreira

Robson Catalunha se divide entre Sorocaba (tem família aqui e vem visitar frequentemente) e São Paulo. Ele começou a carreira na cidade, aos 16 anos. Fez teatro com Carlos Mantovani, Hamilton Sbrana e Mario Persico, no Núcleo de Artes Cênicas (NAC) da Fundec e, posteriormente, integrando a Cia. Clássica de Repertório. Formou-se em Teatro -- Arte Educação pela Uniso e em 2009 iniciou trajetória em São Paulo, no Satyros. Também trabalhou com nomes como o do diretor norte-americano Bob Wilson e Maria Alice Vergueiro. Atualmente, além do Satyros, Robson tem desenvolvido trabalhos independentes no Brasil, Estados Unidos, Croácia e África. (Daniela Jacinto)

Serviço

O Theatro Municipal de São Paulo fica na Praça Ramos de Azevedo, s/nº, República. A classificação etária do musical é 16 anos. Os ingressos, gratuitos, serão distribuídos no local com duas horas de antecedência.

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