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Que Carnaval queremos para o futuro?

16 de Fevereiro de 2021 às 00:01

Que Carnaval queremos para o futuro? Presidente de honra da “28 de Setembro”, Santão espera que o desfile, que já não ocorreu no ano passado, retorne com força total no ano que vem. Crédito da foto: Manuel Garcia / Arquivo JCS

A pandemia do novo coronavírus impediu a realização do Carnaval 2021 em todo o Brasil. Assim como vários outros setores afetados pela pandemia, o cancelamento da festa mais popular do País resulta em prejuízos econômicos consideráveis, principalmente em cidades onde a folia é responsável por atrair uma multidão de turistas, como o Rio de Janeiro, que em 2020 movimentou mais de R$ 2,6 bilhões.

Em Sorocaba, onde o Carnaval de Rua vinha perdendo força nos últimos anos devido à falta de apoio do Poder Público -- em 2020 não houve desfile de rua --, carnavalescos e foliões concordam com o cancelamento da festa que, por natureza, é sinônimo de aglomeração. “Em função da pandemia, é mais do que justo não termos Carnaval. Não tem lógica fazer desfile com tanta gente morrendo e com tanto risco de contaminação”, comenta a cabeleireira e produtora cultural Tarsila Toti, que se diz apaixonada por Carnaval desde criança e que desde a década de 1980 integra a Escola de Samba Estrela da Vila.

Na mesma linha, o presidente de honra da Escola de Samba 28 de Setembro, José Carlos Santos, o Santão, assinala que diante da crise sanitária, não é hora de por o bloco na rua. “Por mais que o Carnaval seja a nossa paixão e esteja no nosso sangue, nós estamos totalmente de acordo (com o cancelamento), porque na situação em que vivemos, não podemos nos aglomerar e aumentar o risco do vírus se propagar”, afirma.

Que Carnaval queremos para o futuro? Mazé pede atenção ao Carnaval de rua. Crédito da foto: Manuel Garcia / Arquivo JCS

Personagem icônica do Carnaval sorocabano, Mazé Lima assinala que é compreensível o cancelamento do festejo deste ano, mas lamenta a falta de apoio ao Carnaval de rua pela administração municipal nos últimos anos, a despeito da pandemia de Covid-19. “(A falta de apoio) É uma questão política. Não é só o folião que perde, é o comércio, as empresas, o setor hoteleiro. E tem ainda a parte social, porque quem mais perde é a população mais pobre, que não tem outra maneira de se divertir. Já a população mais abastada financeiramente consegue alugar uma chácara com piscina”, afirma.

Santão, que não esconde a tristeza em ver pela primeira vez o Carnaval suspenso em todas as partes do País, assinala que torce pela ampla cobertura vacinal para que em 2022 os foliões possam brincar o Carnaval com saúde, longe da Covid-19. No último final de semana, quando seria festejada a folia, ele ficou em casa contribuindo com postagens nas redes sociais da escola 28 de setembro, com fotografias e relatos de carnavais marcantes do passado. “Carnaval é tradição e história e, mesmo não tendo neste ano, a gente não pode deixar a memória se apagar”, assinala.

Mesmo sentindo falta da folia, tanto Tarsila quanto Santão acreditam que a quarentena é momento de ficar em casa e, sem perder as esperanças, repensar em estratégias para que o Carnaval de Rua retome com força em 2022. “É o momento de refletir sobre o que a gente quer para os próximos anos. Nós, que reconhecemos a importância da cultura do Carnaval, temos de nos unir, ainda que virtualmente neste momento, para pensar que Carnaval a gente quer para o futuro”, defende.

Que Carnaval queremos para o futuro? Tarsila faz a defesa dos projetos sociais. Crédito da foto: Manuel Garcia / Arquivo JCS

Tarsila, que é natural de Laranjal Paulista, desfila no Carnaval de Sorocaba desde que se mudou para a cidade, em 1987. Atualmente ela cursa a faculdade de Serviço Social e concorda com Mazé, destacando que a cultura do Carnaval vai além dos dias de folia. Segundo ela, além de ser um festejo tradicional que ajuda a formatar a identidade cultural do Brasil, o Carnaval tem a capacidade de mobilizar um transversal das escolas de samba, que passa pela inclusão social e até mesmo na formação profissional.

“Acho que nós, quando pudermos nos reunir, temos que repensar em um Carnaval mais sólido, pensando também nas contrapartidas sociais ao longo do ano inteiro”, destaca. Ela cita o exemplo da manutenção de projetos sociais como as aulas de percussão e a oferta de oficinas profissionalizantes nas áreas de costura e solda.

Com intuito de destacar a importância do Carnaval brasileiro, Tarsila criou o projeto intitulado “Pra Pular - Oficinas Carnavalescas Virtuais”, com recursos da Lei Emergencial de Auxílio aos Artistas (Lei Aldir Blanc). O projeto consiste em uma série de vídeos nos quais a pesquisadora traça um panorama sobre os principais carnavais do País, com destaque para a história e a estética da manifestação popular. A série pode ser acessada no link https://cutt.ly/GkRvUW2. (Felipe Shikama)

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