Projeto ‘Rua das Cem Minas’ revitaliza Lapa de Baixo
Este ano, por conta da pandemia, grupo será formado apenas por 24 mulheres. Crédito da foto: Matheus Sandes / Virada Sustentável
O “Rua das Cem Minas” foi criado em 2018 com dois objetivos: dar mais visibilidade para grafiteiras e revitalizar o bairro da Lapa de Baixo, em São Paulo, onde as criadoras moravam. Ele realiza ações na Virada Sustentável desde então, e na edição de 2020 não será diferente, apesar das adaptações devido à pandemia do novo coronavírus.
“A gente tinha um incômodo com a falta de reconhecimento e visibilidade da mulher artista no grafite. Queríamos criar um espaço onde ela pudesse ser vista e valorizada, uma rua ou beco, servido de vitrine para o nosso trabalho”, conta a grafiteira Mado Lopez, que criou o “Rua das Cem Minas” junto com a artista Majo.
A ideia era reunir no mínimo cem grafiteiras e revitalizar um muro na Lapa de Baixo, contando com o apoio financeiro da subprefeitura da Lapa, essencial para a ação ocorrer. O projeto foi um sucesso, e se repetiu em 2019, no mesmo muro, atendendo a um pedido dos próprios moradores.
“A partir do momento em que a gente limpa a rua e pinta, as pessoas têm mais cuidado. Quando fazemos a ação a gente troca ideia, conversa com os moradores, isso é muito legal”, conta Mado. Em 2020 a ação ocorrerá em um novo bairro, na Vila Leopoldina, e contará com 22 artistas. O número foi reduzido para não gerar uma aglomeração em meio à pandemia.
Mado explica que o critério para escolher as grafiteiras foi o de “fortalecer artistas afetadas pela pandemia, com renda e trabalho. A gente é muito unida nesse rolê feminino, muita gente se conhece, é uma conexão muito bacana. A gente queria fortalecer essas manas”. Assim, foram escolhidas artistas trans, mães, negras e moradoras da periferia.
Uma das escolhidas foi Rosalía Surreal, uma artista visual e grafiteira trans. Ela começou no mundo artístico antes de sua transição, e conta que nesse processo notou a diminuição de oportunidades de trabalho: “senti que algumas portas se fecharam no sentido das pessoas não conseguirem me entender”. Ela destaca que o projeto da “Rua das Cem Minas” é muito importante não apenas para que seu trabalho tenha mais visibilidade, mas também porque ela consegue se sentir mais segura estando com outras mulheres, e não sozinha e mais exposta a possíveis perigos e preconceitos.
Pandemia
Desde o começo da ação, já havia sido definido que o mural, de 150 metros, contaria com uma homenagem às vidas perdidas na pandemia. Ele estará todo pintado de preto, e então ganhará os trabalhos das artistas. O projeto começou ontem e termina no domingo, 4.
“Nós queremos lutar pelas mulheres, inserir todo mundo. Se o cliente tiver de escolher uma mulher ou um cara, ele escolhe um cara. As pessoas não acreditam que a gente consegue pintar, carregar uma tinta, a gente consegue”, explica Mado.
E agora essa ideia ganhará mais uma materialização, na rua Doutor Adelino Chaves, em meio à Virada Sustentável. O Estadão é o portal oficial do evento Virada Sustentável 2020, que neste ano completa dez anos. (Estadão Conteúdo)