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Entrevista

Camilo Tedde, um sorocabano que ganhou o mundo

04 de Julho de 2021 às 00:01
Manuel Garcia [email protected]
Camilo Tedde.
Camilo Tedde. (Crédito: Divulgação)

O sorocabano Camilo Tedde, atual presidente da GSK Consumer Healthcare Brasil, atua há mais de 25 anos em posições de destaque nos segmentos de consumo para o público final. Com passagens por multinacionais como GSK, Pfizer, Merck, Newell Rubbermaid, Red Bull, Reckitt Benckiser e Pepsico, Tedde já morou na Colômbia, Peru, Chile, Canadá e Portugal, sempre desenvolvendo sua atividade com ética e maestria, ajudando na construção de marcas fortes, com resultados expressivos em marketing, inovação, vendas e crescimento. O sorocabano assumiu a liderança da GSK CH Brasil em setembro de 2020 e tem o prazer de voltar para nossa cidade. Camilo Tedde bateu um papo com nossa coluna que você confere aqui e também em vídeo em nosso portal.

Onde você nasceu? Como foi sua infância?

Eu sou cidadão sorocabano, nascido no hospital Santa Edwiges no Trujillo, e fui criado aqui em Sorocaba. Minha educação foi entre o colégio Getúlio Vargas escola municipal, e depois fui estudar no Colégio Objetivo. Estudei na antiga Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Sorocaba. Tenho orgulho de ser filho de um dentista, o doutor Camilo Tedde, que foi funcionário como muitos na época da antiga Sorocabana, e por muito tempo ele atendeu também em seu consultório particular. Meu pai ocupou todos os cargos de direção do Lions Clube Sorocaba Oeste e foi membro da APCD (Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas), onde desenvolveu diversos trabalhos sociais. Minha mãe, Nereide Tedde, é uma professora que nunca lecionou, e sempre se dedicou a cuidar da família. Moramos a maior parte da minha infância e adolescência na rua Saldanha da Gama, fui um grande frequentador do Ipanema Clube, pelo qual tenho um carinho muito grande. Aos finais de semana eu frequentava o Sorocaba Clube, e a praça Central, era uma vida típica de um jovem dos anos de 1970 e 1980. Adorava as boatinhas dos clubes e os barzinhos da cidade na época.

Como foi sua formação acadêmica e seus primeiros passos no mundo corporativo?

Comecei a fazer faculdade de ciências contábeis aqui em Sorocaba e aconteceu uma coisa muito interessante, em um determinado momento, quando eu entrei na faculdade eu comecei também a fazer faculdade de direito na Fadi, eu cursava direito de manhã e ciências contábeis à noite. Chegou um determinado momento em que eu tive que trancar a faculdade de direito e nunca mais consegui voltar, porque eu fui fazer o Tiro de Guerra, o TG 040. Quando acabou o meu tempo no TG eu fui buscar emprego em São Paulo, sabia que, de certa maneira, na época as melhores oportunidades estavam lá. Consegui um emprego na Arthur Young (hoje Ernst&Young Global Limited) e assim começou a minha vida, foi meu primeiro emprego. Era uma época muito boa e, ao mesmo tempo, muito corrida por durante dois anos. Eu acordava de madrugada para pegar o ônibus, sair de Sorocaba e ir para capital trabalhar, depois eu voltava à noite para poder ir para a faculdade. Esse tempo foi muito bom pois aprendi muita coisa, e eu tinha na minha cabeça, naquela época, que eu queria ser financeiro, atuar na área financeira. A coisa mais legal para mim é que foi algo muito mágico, porque eu aprendi o lado acadêmico na faculdade e, ao mesmo tempo, eu na prática já estava atuando numa empresa multinacional de auditoria e consultoria. Quando eu terminei a faculdade, me dei conta que o caminho seguiu para outros rumos. Vi que finanças não era meu caminho, eu percebi que estava muito mais ligado a vendas e ao marketing.

Como foi sua experiência de liderança em uma empresa?

Quando eu decidi sair da área financeira, eu queria trabalhar realmente em empresas que pudessem me dar uma boa formação acima de tudo. Queria mais do que arrumar um emprego, eu tinha isso na minha cabeça, queria um local de trabalho para o meu desenvolvimento. Quando você é jovem não tem muita maturidade para realmente ficar escolhendo, você manda seu currículo para vários locais e torce para ser chamado logo em alguma empresa. Nesta época eu tinha uma vantagem importante, pois falava muito bem inglês devido ao tempo em que fiz intercâmbio. Foi quando apareceu a Pepsico na minha vida, que foi minha grande escola onde passei 14 anos. Esta empresa me deu oportunidade de conhecer muita coisa e de assumir gerências. No Brasil, morei no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, nessa época. Algo que sempre falo para as pessoas é que o importante é você fazer bem o seu trabalho, é você entregar resultado, é você ser ético, e você estar disponível para a sua empresa. Eu não estaria onde estou hoje se tivesse ficado esperando oportunidades somente em São Paulo, conforme as coisas foram acontecendo eu fui aceitando e os resultados vieram. Foi quando apareceu minha primeira oportunidade para um cargo de chefia internacional, foi em Portugal, na época eu fui como diretor da companhia na posição de “country manager” reportando ao presidente da divisão Ibérica, em Madrid, isto eu estava com 29 anos. Quando uma empresa te manda para outros lugares ela está te testando, vendo a sua capacidade, você acaba entendendo como funciona uma operação fora do teu país, como é a cultura diferente em diferentes mercados. Depois deste desafio, me ofereceram a primeira presidência da companhia, para cuidar de Peru e Bolívia, e me mudei para Lima. Nessa época estava com 34 anos. Eu me preparei para isso, as oportunidades não vêm de graça, há muito trabalho e muito preparo sempre.

Você é o atual presidente da GSK Consumer Healthcare Brasil, conte um pouco sobre a empresa?

A GSK Consumer Healthcare Brasil é uma empresa de capital britânico, que atua tanto na área farmacêutica de medicamentos com prescrição como medicamentos isentos de prescrição médica. Nossa empresa é responsável por produtos como Advil, Centrum, Caltrate, Sensodyne, Eno, Corega, Sonrisal, Respire Melhor e CataflamPro. São produtos que estão presentes no dia a dia de todo mundo. É muito gratificante trabalhar hoje na indústria farmacêutica, e poder vender saúde ou vender soluções para o consumidor. Somos uma empresa que está em mais de 100 países no mundo. Se você olhar essas marcas elas estão entre as nossas 10 principais no Brasil, sempre na primeira ou segunda colocações em suas categorias. Oferecer soluções para o bem-estar e para uma saúde melhor para a população é muito gratificante, então eu tenho muito orgulho de estar nessa indústria. Ainda mais nos dias de hoje onde cuidar da saúde é uma obrigação de todos.

Como está sendo ser um diretor de uma empresa multinacional e estar trabalhando em home office?

São os aprendizados que a pandemia nos traz. O meu primeiro desafio foi fazer uma mudança de volta para o Brasil em meio à pandemia, é uma coisa com a qual tive que ter muito cuidado em todo o aspecto da mudança em si. Eu voltei para o Brasil oficialmente em dezembro de 2020 pois a base da empresa é no Rio de Janeiro. Então, em algum momento durante este ano, vou me mudar para o Rio de Janeiro. Mas eu decidi ficar em Sorocaba justamente por causa do home office. Eu não tinha sido vacinado ainda, fui vacinado semana passada, então havia alguns protocolos de segurança da companhia que me permitiram ficar aqui antes de começar a procurar apartamento no Rio de Janeiro. Trabalhar tendo o privilégio de poder fazer home office aqui na minha casa em Sorocaba, o que vale dizer que vou ficar na ponte aérea Rio de Janeiro - Sorocaba, é muito aprendizado. A primeira lição que aprendi é que você consegue, administrando bem sua agenda, cumprir tudo aquilo que você efetivamente precisa fazer. Você tem alcance global com as pessoas com alguns cliques no computador sem precisar pegar avião ou sair da tua casa, então gerencia melhor seu tempo. Tem também o outro lado, você precisa cuidar um pouco da tua saúde mental porque, se deixar, fico fazendo 18 reuniões por dia, então isso também não é muito saudável. Mas, o mais importante foi entender que nesse momento o home office está funcionando. Eu acredito sinceramente que depois da pandemia, quando a gente tiver um nível de vacinação mais amplo na população, não vamos voltar como antes da pandemia, mas também não vai ficar só como home office. Acho que o contato humano presencial é fundamental para estabelecimento de equipes, para relações humanas e para a construção de novos projetos. Temos também o lado da humanização porque só computador, num vídeo, você perde muito da riqueza do convívio. Então eu acho que a gente vai para uma fase um pouquinho diferente depois. Porém, o home office está permitindo realmente fazer minha equipe entregar resultados e desenvolver os nossos negócios como tem que ser.

Em meio a esta vida sua agitada, deu tempo de casar e construir uma família?

Sou casado há 32 anos com Mariela. Minha esposa também é de Sorocaba, ela é formada em Direito pela Fadi. Nos conhecemos naquela história dos anos 80, nos clubes da época, frequentávamos os mesmos lugares. Nos conhecemos, começamos a ficar amigos, e essa amizade virou um namoro, que virou um noivado e um casamento. Tudo que sou hoje devo muito para Mariela, ela foi, sem dúvida nenhuma, a minha encorajadora, o meu alicerce para poder fazer o que fiz. Quando nos casamos e fomos morar em São Paulo, ela já estava formada e atuando em um escritório de advocacia da Capital, mas teve que abrir mão de sua carreira na primeira transferência, que era para Porto Alegre. Minha esposa se sacrificou em função da minha profissão. Ela sempre se manteve ao meu lado. Temos uma filha, a Mariana. Minha filha, em função da minha carreira, estudou a vida inteira em colégio americano, desde o primeiro ano até a graduação no High School, então a gente tinha muita mudança de país. Eu nunca sabia para que país efetivamente eu poderia ir, então a gente decidiu colocar em um colégio americano. A Mariana foi formada dentro de uma educação americana e quando chegou no momento de escolher a faculdade o caminho dela foi fazer faculdade nos Estados Unidos. Quando minha filha se formou, foi trabalhar em uma multinacional dinamarquesa, também no ramo farmacêutico. Lá ela conheceu o meu genro pois ambos trabalham juntos, se casaram e me deram um neto chamado Noah. Hoje eles moram em Copenhague, e a família está dividida entre Brasil e Dinamarca.

Qual dica você dá para os jovens que querem trilhar uma carreira brilhante?

Minha intenção não é ensinar nada a ninguém, mas compartilhar experiências e mostrar caminhos. Eu gosto de fazer muito isso dentro das empresas onde trabalho. Para os jovens que estão começando ou mesmo para aqueles que ainda não ingressaram sequer na universidade e têm as suas ambições, a primeira coisa que eu diria é tenha vontade de aprender. O conhecimento te leva aonde você quer chegar, seja o que for, não importa a profissão, você pode escolher ser um autônomo, você pode querer ser um executivo, um profissional liberal, você precisa estar próximo a uma fonte de ensino. Então, seja no colégio, seja depois na faculdade, ou até com alguém que você conhece e saiba algo de determinado assunto, manter círculos com pessoas que possam te enriquecer transferindo conhecimento é muito importante. Quando você entra no mercado de trabalho, eu diria que você tem uma balança, em que um lado da balança você tem as suas habilidades, as suas competências, o lado técnico a tua formação profissional; e no outro lado da balança você tem o seu comportamento, a mentalidade, e as suas atitudes. A balança tem que andar equilibrada. Tem dias que um lado está mais pesado do que o outro, e você precisa se dedicar mais ao resultado, às negociações, a ter uma produtividade bacana... então, a parte técnica aqui vai ter que prevalecer; mas por outro lado, no dia a dia também você tem o lado comportamental, o lado ético, o lado humano, o lado amigo, o lado orientador. Então, quando você trabalha, tem uma chefia, você tem colegas e você tem pessoas que não estão ligadas a você mas você depende delas para trabalhar. É muito importante desenvolvermos o nosso lado humano, e sempre estarmos dispostos a aprender. Para você poder realmente ser um bom gestor, um bom líder, então, eu diria que é uma composição de fatores que realmente o jovem precisa estar permanentemente ligado e buscando esse caminho do aprendizado para que ele possa se preencher e se desenvolver da forma certa.

Como você se imagina em 10 anos?

Olha, eu tenho como pensamento e propósito de vida continuar desenvolvendo pessoas e negócios. Quero continuar a desenvolver negócios, tenho o prazer em fazer o que eu gosto, amo poder contribuir com o desenvolvimento de pessoas, é realmente o que me dá satisfação. Não penso em um dia me aposentar, eu acho que você não vai me ver de pijama lendo o jornal na varanda. O trabalho enriquece a vida da gente, mantém a cabeça ocupada e faz bem pra vida. Quero continuar trabalhando e contribuindo para nossa sociedade enquanto Deus me permitir.