Personagem da semana
Geraldo Almeida e o orgulho de ser professor
Formado em economia, em 1984 e direito, em 1986 pela USP, pós-graduado em administração de empresas e administração e planejamento urbano. Professor com orgulho, Geraldo César Almeida é um sorocabano que gosta de falar sobre nossa cidade. Pai de três filhos, Geraldo sempre acreditou na educação como forma de desenvolvimento das pessoas. Comentarista de economia e negócios da radio Cruzeiro Fm 92,3, Geraldo Almeida já foi secretário de Desenvolvimento Econômico e Relações do Trabalho de Sorocaba e ministrou aulas em diversas universidades. Conheça um pouco do professor Geraldo Almeida, o nosso personagem da semana.
Onde você nasceu? Como foi sua infância?
Eu nasci em Sorocaba no hospital Evangélico no dia 24 de janeiro de 1962, minha mãe atravessou a rua para realizar o parto pois morávamos na av. General Carneiro, 448 onde hoje está instalado o mercado Oba. Tenho mais três irmãs. Meus pais eram professores, com muito orgulho. Eu adorava jogar bola e andar de bicicleta nas ruas de Santa Terezinha. Estudei no Padilha, no Monsenhor João Soares e no Santo Agostinho, lembro que minha primeira professora foi a tia Mileide. Lembro também que quando entrei na escola tive uma professora chamada Ivanira, ela falava para os alunos pegarem o lápis com a mão direita e escrever, mas eu sou canhoto eu fiquei uma semana fazendo os deveres com a mão direita até que eu não aguentei e falei para ela que eu era canhoto, achei que ia levar uma bronca mas ela falou que não tinha problema e passei a usar a mão esquerda, no final do ano ela me deu uma caneta com meu nome gravado que guardo com muito carinho até hoje. Minha avó era uma grande contadora de história, sempre gostei de ouvir ela contando suas histórias, meu bisavô foi Roberto Dias Batista, um dos fundadores da Estrada de Ferro Sorocabana, meu avô foi sub-prefeito de Sorocaba, e meu pai foi vereador. Minha família sempre foi numerosa, adorava conversar com todos e ouvir suas histórias. Temos que seguir exemplos, temos que valorizar nossas histórias e valorizar os mais velhos. Lembro com carinho da minha infância.
Você sempre pensou em ser professor?
Eu escolhi cursar faculdade de economia por conta que minha família tinha negócios, e eu sempre visitava fábricas com meus familiares. Eu queria seguir carreira diplomática daí precisava ter noções em direito, e prestei vestibular, e passei. Eu fiz as duas faculdades ao mesmo tempo, na USP, que naquela época permitia cursar dois cursos ao mesmo tempo. Eu não pensava em carreira acadêmica, desisti da carreira diplomática por com conta de Brasília ser longe e não se tinha a facilidade de locomoção que temos hoje, quando voltei de São Paulo para Sorocaba, percebi que a noite aqui era muito parada em comparação à São Paulo, resolvi ocupar meu tempo e fiz um teste para ser professor de história no Ciências e Letras. Lá comecei minha carreira como professor e a gostar de estar em sala de aula, isto foi em 1987. No ano de 1988 chegou a faculdade de economia em Sorocaba e eu fui contratado para dar aulas lá, e minha carreira deslanchou, fiquei na sala de aula até o ano de 2016. Ser professor é o que me dá mais prazer, fico feliz em chegar no final do dia e pensar que ajudei de alguma forma o futuro de alguém. Eu sempre acreditei na educação ela abre as suas asas e você vai embora.
Quanto filhos você tem, e qual carreira eles seguiram?
Tenho três filhos, uma menina formada em Negócios Internacionais com foco em marketing na University of London, uma outra menina se formado em ciências atuariais, na USP e um filho que está no primeiro ano de arquitetura na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Todos eles tiveram um pai que sempre os ajudou e incentivou no caminho da educação.
O que podemos esperar de Sorocaba no futuro?
Nossa cidade tem tudo para dar certo, temos mão de obra, temos um povo acolhedor, estamos bem localizados dentro do Estado de São Paulo e temos espaço físico para crescer. Porém, eu percebo que nos últimos anos estamos perdendo o “brilho”, as outras cidades parecem que estão crescendo mais que a nossa. Temos a obrigação de sempre entregar uma cidade melhor para nossos filhos e netos. Uma cidade boa, sustentável, limpa e agradável é bom para todo mundo. Sorocaba tem mais de 50 mil universitários, isto me alegra muito em ser uma cidade que hoje tem vários cursos e oportunidades de ensino. Nossa cidade tem que observar a virada da economia, temos que aproveitar a juventude que está nestas universidades e tornar nossa cidade mais tecnológica. Sorocaba tem que ser digitalizada. Não me conformo de em uma cidade como Sorocaba, você ter que ir até uma fila de PA para marcar uma consulta médica. Temos que ver a cidade de outra maneira, ter um olhar diferente. Eu já participei de vários eventos e feiras internacionais falando de Sorocaba, eu acredito nesta cidade, eu acredito no potencial desta cidade que teve uma estrada de ferro, que meu avô ajudou a fundar, que foi a grande locomotiva do desenvolvimento. Sorocaba tem tudo para dar certo e temos que acreditar cada vez mais nela e trazer de volta o nosso brilho, isto só vai ser possível com o poder público e iniciativa privada trabalhando juntos.
O professor no Brasil ainda é muito desvalorizado e muitas vezes desrespeitado. Como lidar com isto?
Temos que separar duas coisas: educar não é escola que educa, é a casa. Quem forma caráter são os pais. A escola ensina. O professor foi desvalorizado por uma série de coisas. Não temos também que ficar comparando o ensino de hoje com o ensino do passado, pois hoje vivemos uma outra realidade. Professores antes eram tão respeitados quanto um juiz. Nos últimos anos não se valorizou o professor, vemos que os países que valorizam bem o professor, não só financeiramente, mas também como alguém que educa, que ensina como um ser humano, que compartilha, hoje são países bem desenvolvidos. Adoro ver meus alunos bem de vida, eu tantas vezes convenci alunos a não largarem seus estudos e hoje são advogados, médicos empresários. Tenho uma aluna que quando iniciou a faculdade trabalhava como empregada doméstica hoje ela é diretora de uma grande empresa. Sinto nessas coisas uma grande valorização. O professor é ser humano, e todo ser humano quer ser respeitado amado e valorizado. O professor ensina, ajuda. Todo mundo teve pelo menos um grande professor na vida que guarda ele na memória, ser professor é ter uma das mais nobres profissões do mundo.
Como é encontrar ex-alunos?
São dois extremos, já fiquei muito triste vendo ex-aluno em mal estado, e já vibrei várias vezes vendo-os muito bem. Para mim, é uma alegria ver o brilho nos olhos deles falando que foram meus alunos, que lembravam de tal coisa que eu ensinei. Ver que a semente que coloquei neles vingou, é muito gratificante, só quem é professor sabe disto, desta felicidade de ver meus alunos alcançando vôos altos.
Como você avalia a educação via celular que estamos tendo hoje por conta da pandemia da Covid-19?
O mundo da educação vai sofrer. Creio que vamos ter um grande atraso. A escola é convivência e saber se colocar no lugar do próximo, e aprender com os amigos. Este tempo que estamos vivendo de máscara está mexendo com o psicológico de todos. Por outro lado, este tempo mostrou que a tecnologia pode ser nossa grande aliada, mostrou que os educadores têm grande capacidade de se reinventar e renovar. Temos que tirar uma lição disto. Hoje em dia estamos todos os dias falando de morte, seja na televisão ou na casa, o medo de perder alguém querido está presente em todos os lares. Estamos vivendo um momento difícil, com miséria em muitos lares, talvez esta geração de alunos se torne uma geração mais solidária.
Sorocaba vai se recuperar economicamente desta pandemia?
Há muito tempo não vemos indústrias chegando em Sorocaba, nos últimos três anos qual indústria se instalou em Sorocaba? Uma indústria não chega de uma hora para outra na cidade, ela precisa de um tempo para se planejar, esta pandemia atrapalhou isto e muito. Temos visto empresas tradicionais demitindo enquanto algumas outras que são voltadas na área de tecnologia aumentando o seu tamanho. Sorocaba tem que se digitalizar, o carro elétrico quando chegar tem muitos componentes que demandam uma indústria extremamente tecnológica, se não nos preparamos a cidade pode perder muitos empregos. Sorocaba tem que se preparar para os novos desafios, temos que pensar Sorocaba pós-Covid. Nossa cidade tem muitas indústrias já tecnológicas, que precisam se unir. A nossa cidade tem tudo para crescer e se tornar referência na indústria 4.0.
Como o Geraldo Almeida imagina nossa cidade em 10 anos?
Eu quero muito poder ver uma cidade mais humana e tecnológica, que tenha um legado solidário. Quero uma cidade com emprego e energia limpa, poder continuar contribuindo para nossa cidade ser cada dia melhor. Eu acredito em Sorocaba, eu acredito no nosso potencial e sei que esta “terra rasgada” vai muito nos orgulhar.
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