Prefeitura pretende assumir o Museu de Arte Sacra
As peças do Museu de Arte Sacra estão no piso superior da Catedral Metropolitana - Foto: Divulgação
A Prefeitura de Sorocaba anunciou que tem interesse em assumir o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra Comendador Luiz Almeida Marins (Madas-Lam), atualmente sob responsabilidade da Arquidiocese. A informação foi passada pelo secretário de Cultura Werinton Kermes. Conforme ele, já foram iniciadas as tratativas, mas caso a proposta não dê certo, o município vai solicitar as obras que lhe pertencem -- cerca de 90 peças e 500 itens do acervo documental, que varia entre livros, folhetos musicais, manuais e missais.
Werinton disse ainda que a iniciativa partiu do próprio prefeito José Crespo (DEM). “Outra cidade que teria manifestado interesse em pedir as peças é Itu”, disse o secretário. As obras sacras pertencentes às cidades foram cedidas por alguns municípios com a proposta da população ter acesso ao material, mas como o museu está há anos fechado, não teria mais sentido deixar peças sob os cuidados da igreja, inclusive com risco de se deteriorarem. “A gente tem recebido muita cobrança da sociedade sobre o museu”, disse Werinton.
O arcebispo dom Julio Endi Akamine disse que não teve contato pessoal com Werinton. “Ele falou com o vigário-geral [padre Manoel Júnior] há algumas semanas. Ficamos de nos encontrar, mas isso não ocorreu.” Vigário-geral é um ofício que faz parte da estrutura da Cúria Metropolitana de Sorocaba. Ele ajuda o arcebispo no governo da Arquidiocese.
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Dom Julio informou que não recebeu, por parte da Prefeitura, uma proposta de parceria. “Não tenho conhecimento disso. De qualquer forma, se chegar alguma proposta, vamos estudá-la com atenção.” Na visão do arcebispo, “a colaboração na preservação do patrimônio histórico e sacro é boa e também necessária”. “Mas gostaria de estudar isso a partir de algo mais concreto”, disse. Ainda segundo ele, não foi combinada nenhuma reunião. “Mas podemos realizá-la, desde que haja essa vontade por parte da Prefeitura.”
Dom Julio afirma que existe um projeto da Arquidiocese de Sorocaba de tornar acessível à população o acervo artístico e religioso do museu. “Levamos em conta a natureza das peças que, além do valor artístico e histórico, estão destinas ao culto. Nesse sentido, mesmo que as visitas não sejam permitidas, a Arquidiocese já expôs objetos de seu acervo em várias ocasiões”, lembra.
Conforme ele, foram feitas ao menos quatro exposições de arte sacra na Catedral Metropolitana em 2018. Cada mostra foi organizada em torno de uma temática religiosa e litúrgica. “Essas exposições confirmaram a convicção de que o acervo da nossa Arquidiocese deve, de fato, ser exposto mais vezes para a população. Para além da finalidade de conservação e de preservação do patrimônio cultural sacro, o plano de ação deve estar a serviço principalmente do culto e da religião”, entende o bispo.
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Dom Julio afirma que outras exposições na Catedral Metropolitana estão sendo preparadas e que há projetos de ampliação do acervo, que estão em fase de planejamento.
Extinção
Cerca de 90 peças e 500 itens do acervo são da Prefeitura - Foto: Divulgação
Fundado em 1975, o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra (Madas) funcionava no piso superior da Catedral Metropolitana. As obras continuam ali, mas há 15 anos permanecem inacessíveis para o público. Nos últimos anos, o Madas podia ser consultado apenas por estudantes e pesquisadores, mas as visitas foram suspensas em junho de 2017.
Uma reportagem publicada pelo Mais Cruzeiro no dia 23 de setembro do ano passado, noticiou que o museu foi oficialmente declarado extinto. Naquela oportunidade, o arcebispo dom Julio disse que o piso superior da Catedral é inadequado para funcionar como museu, já que não oferece condições de acessibilidade e circulação dos visitantes. Esse foi o motivo do fechamento para o público há 15 anos. O problema é que desde então não foi encontrada solução para o acesso da pessoas às obras.
Uma nova sede para o Madas chegou a ser anunciada em 2017, como parte do complexo arquitetônico da futura Igreja de São Pio de Pietrelcina, no Parque Campolim, mas depois veio a informação que o museu não iria mais para o local.
O Museu Arquidiocesano possui mais de três mil fotos e 350 itens, sendo 181 imagens sacras nacionais e europeias dos séculos 17 a 19, bem como livros, partituras, missais e diversos objetos, entre os quais se destacam móveis usados por Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, nos 11 meses em que ele morou em Sorocaba (em 1811, com a missão de fundar o Mosteiro de Santa Clara) e Estandartes de Misericórdia, que até meados do século 19 eram carregados por condenados em ritos de enforcamento em praça pública que ocorriam em frente ao Cemitério da Saudade.
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