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Prefeitura de Sorocaba suspende Prêmio de Literatura

14 de Outubro de 2018 às 08:56

O Prêmio Anual Sorocaba de Literatura foi instituído em 2015. Foto: Emerson Ferraz / Secom Sorocaba

A Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur) cancelou a realização do Prêmio Anual Sorocaba de Literatura em 2018. A informação foi confirmada pela Prefeitura ao Mais Cruzeiro, após a espera frustrada dos escritores locais para a abertura do processo de inscrição, que tradicionalmente ocorre no final de setembro. Instituído pela lei municipal nº 11.182, de 24 de setembro de 2015, o Prêmio Anual Sorocaba de Literatura visa valorizar e divulgar a produção literária local e, ainda, promover o incentivo à leitura e o contato da população com autores sorocabanos.

A pasta alega que a desistência da premiação neste ano tem como objetivo promover a sua reformulação e retorno em 2019, “com um novo formato e abrangendo um número maior de artistas”. Por meio de nota, a Secultur diz que “a ideia é ampliar e modernizar a lei, incentivando não apenas os escritores que já possuem livro publicado, mas também quem ainda não tem sua obra publicada ou ainda quem escreve para mídias digitais, por exemplo”.

Para isso, afirma a Secultur, será feito o mesmo processo realizado com o edital da Lei de Incentivo à Cultura (Linc) neste ano, com a realização de chamada pública, além de encontros com artistas e demais interessados para receber sugestões. “A ideia será de abrir um debate com a sociedade para chegarmos juntos a um novo modelo do prêmio numa construção participativa”, finaliza o secretário Werinton Kermes.

Expectativas

O cancelamento do prêmio frustrou as expectativas de escritores sorocabanos, que vêem a iniciativa como um importante instrumento de estímulo e reconhecimento da produção literária local. Vencedor do prêmio de melhor romance em 2015, com “Meu tio levou um tiro”, e em 2017, com “Mata rasteira”, o escritor Abner Laurindo diz não ver problema em se ampliar e modernizar uma lei de fomento a literatura, mas considera preocupante cancelar um prêmio às vésperas de sua realização.

Abner Laurindo: faltou debate com os autores e a sociedade. Foto: Pedro Negrão / Arquivo JCS

“E imagino que é preocupação de outros do ramo literário. Tem vários autores que usam o dinheiro do prêmio para investir na própria obra, nova impressão, viagens para divulgar em outros lugares. Já me utilizei desse expediente nas duas vezes que em foi contemplado com o prêmio. Acho importante debater com a sociedade como será o novo prêmio, mas para cancelá-lo seria interessante debater com a própria e, principalmente, com os autores”, comenta.

Na mesma linha de Laurindo, o escritor e historiador Carlos Carvalho Cavalheiro, que também foi duas vezes vencedor do prêmio -- ano passado com o “A história de Julieta Chaves”, na categoria biografia, em parceria com Flávia Aguilera, e em 2016 com “O negro em Porto Feliz: Memória afro-brasileira numa cidade do Médio Tietê” --, considera que é sempre salutar a proposta de mudanças que visem aprimorar e ampliar os benefícios da lei ou de qualquer iniciativa em prol da cultura e da arte.

No entanto, a intenção de mudança não pode vir acompanhada da suspensão, ainda que temporária, da realização do processo de seleção dos livros que deveriam ser premiados. “Se trata de lei que não foi revogada. E lei, enquanto vivemos num Estado democrático de direito, é algo que se cumpre. Até porque, o exemplo deve partir do Poder Público”. Além disso, ele aponta que o hiato criado com a suspensão do Prêmio causa um prejuízo, já que fere o princípio do espírito que criou a própria lei, isto é, o de estimular a produção literária em Sorocaba.

Carlos Cavalheiro: secretaria não chamou os artistas de literatura para conversar. Foto: Erick Pinheiro / Arquivo JCS

Cavalheiro aponta que o secretário de Cultura e Turismo, Werinton Kermes, sinalizou, na entrega do Prêmio em 2017, que ao seu ver a lei deveria ser alterada. “O que se estranha é que até o momento, quase um ano depois, a secretaria não tenha chamado os artistas de literatura para conversar.” Ele questiona, ainda, de onde surgiu a proposta de alteração. “Se for uma manifestação dos escritores, quais são eles, uma vez que desconheço, enquanto escritor, qualquer iniciativa nesse sentido.”

A lei em vigor estabelece a premiação a escritores residentes de Sorocaba nas seguintes categorias: ficção (romances, novelas, contos, crônicas), biografia, não ficção; infantil; juvenil; artes e fotografia e poesia. De acordo com o artigo 3º da referida lei, o Prêmio consistirá na entrega aos vencedores, em solenidade pública, da quantia de R$ 5 mil reais para cada um dos cinco melhores trabalhos selecionados.

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